Celme Farias Medeiros, uma vida dedicada ao magistério e às artes

Celme Medeiros foi professora, pianista e autora de livros didáticos

Celme em 26 de novembro de 1933 na primeira comunhão

Celme Bernardes Farias nasceu na Rua da Alegria, nº 84, às 21h10 do domingo 11 de junho de 1922 em Maceió. Era filha de Maria Nazareth Bernardes Farias e de Clovis Loureiro Farias.

Foi batizada pelo padre Sizerando Silva no dia 2 de julho do ano em que nasceu na matriz de N. S. das Graças. Seus padrinhos de batismo foram cônego Antônio Tobias da Costa e N. S. da Conceição. Quem apresentou foi sua prima Yolanda, então com quatro anos de idade. Foi consagrada a N. S. da Conceição, sendo madrinha de consagração sua tia Maria Victoria Loureiro de Farias.

Seus pais haviam se casado dois anos e cinco meses antes, às 4 horas da tarde de 24 de janeiro de 1920 na matriz de N. S. das Graças. O casamento civil ocorreu na casa onde passaram a residir, na Rua Nova, nº 45, atual Rua Barão de Penedo. Clovis tinha então 25 anos e Nazareth 19 anos.

Maria Nazareth era filha de Suzana Loureiro Bernardes e de Alfredo Bernardes. Teve como irmão Waldemir Loureiro Bernardes.

Clovis era filho de Sara Loureiro Farias e de Alfredo Alcântara Farias e teve um irmão famoso em Alagoas, o governador Osman Loureiro de Farias. Foram suas irmãs: Esther Loureiro Magalhães (casada com Albino Pereira Magalhães), Bertha Loureiro Farias e Maria Victoria Loureiro de Farias.

A mãe de Maria Nazareth, Suzana Loureiro Bernardes, e a mãe de Clovis, Sara Loureiro Farias, eram irmãs.

Celme teve duas irmãs. Nilza Farias nasceu no dia 3 de novembro de 1920, mas em 4 de fevereiro de 1921, quando estava na Usina Uruba, adoeceu e faleceu dois dias depois, em 6 de fevereiro.

A outra, Cely Farias, nasceu no dia 7 de maio de 1930 às 6h e 30min da manhã. Batizou-se no dia 11 de junho do mesmo ano no dia do aniversário de 8 anos de sua irmã Celme.

Logo após colocar no mundo Cely, sua mãe Maria Nazareth Bernardes Farias faleceu. O pai também morreu três meses depois, em agosto.

Celme com oito anos e sua irmã Cely com dois meses foram morar com seu tio, o doutor Albino Pereira Magalhães (casado com sua tia paterna Esther Loureiro Magalhães), e com sua avó materna Suzana Loureiro Bernardes.

Celme concluiu o curso Normal em 1940

Foi na condição de órfã que fez sua Primeira Comunhão em 26 de novembro de 1933, tendo como madrinha de crisma Esther Loureiro Magalhães.

A partir de 1934, Celme Farias passou a estudar no Colégio de São José, que havia se instalado em Maceió no dia 6 de fevereiro daquele ano.

Aos 19 anos de idade, quando tinha concluído seus estudos no Instituto de Educação, antiga Escola Normal, casou-se com Antero Montenegro de Medeiros, também maceioense e nascido em 30 de agosto de 1915.

O enlace aconteceu no dia 8 de outubro de 1941 às 10h, na matriz Nossa Senhora Mãe do Povo em Jaraguá. Quem oficiou o ato religioso foi o monsenhor Antônio Tobias da Costa.

O casamento civil aconteceu no cartório diante do dr. Mario Guimarães, juiz da 1ª vara da capital. A partir de então Celme Bernardes Farias passou a assinar como Celme Medeiros Farias.

Após a recepção com almoço na residência dos tios de Celme, na Av. Duque de Caxias, nº 1220, o casal tomou o trem da tarde e foi residir em São José da Lage na rua Cicero de Góes Monteiro, nº 86. Antero Montenegro tinha 26 anos e já era o Promotor Público de daquele município.

O bacharel Antero Montenegro Medeiros, que foi diplomado em 1938, era filho de Oscar Talisman de Medeiros, da firma Goulart & Cia, e de Olívia Montenegro Medeiros.

Desembargador Antero Montenegro Medeiros, marido de Celme Farias Medeiros

Antes de ser indicado pelo governador Luiz Cavalcanti, em janeiro de 1961, como Procurador Geral do Estado, Antero teve passagem pela Promotoria Pública de Penedo e de Maceió

Quando faleceu precocemente em 26 de março de 1966, tinha sido Procurador Regional da República e acabara de ser indicado desembargador para o Tribunal de Justiça de Alagoas. Foi ainda professor da Faculdade de Ciências Econômicas de Alagoas.

O casal, que morava, em Maceió, na Rua Barão de Maceió, nº 226, perto da Santa Casa de Misericórdia, teve os seguintes filhos: Oscar, Helder, Anthero e Tasmânia (esta faleceu com poucos meses de vida).

Pianista, compositora e professora de música

Diplomada em Teoria Musical pelo Conservatório Brasileiro de Música – Seção de Alagoas, Celme Medeiros era uma pianista aplaudida, chegando a realizar algumas apresentações no Teatro Deodoro.

Foi aluna de Venúzia de Barros Mélo, que dividiu com Maria Aída Wücherer de Mendonça Braga os méritos pela instalação do Conservatório em Maceió.

Selma Britto, outra consagrada pianista alagoana, se refere a Celme Medeiro como uma artista extremamente estudiosa. “Ela estava sempre pesquisando e demonstrava interesse por tudo que dissesse respeito às artes. Tinha o dom de amar a música e em suas apresentações se percebia claramente que conhecia profundamente sua arte”, lembra Selma Britto.

Celme foi também professora de Teoria Musical no Ginásio Sagrada Família e do Colégio Conego Machado. Em janeiro de 1986, foi enquadrada pelo governo do Estado como professora do Nível V, quadro do magistério estadual de 1º e 2º graus.

Em 1966 escreveu Noções de Teoria Musical para a 1ª Série Ginasial e Noções de Teoria Musical para a 2ª Série Ginasial. Eram apostilas publicadas de forma artesanal para ajudar nas aulas.

Celme Medeiros em 8 de outubro de 1968

Entretanto, esse material já tinha sido transformado por ela em um livro e seus originais estavam escondidos numa estante da casa. No início de 1966, seu marido Antero, que faleceu dias depois, encontrou esse original e sem a esposa desconfiar o levou ao Departamento Estadual de Cultura, o DEC, indicando a publicação do livro.

Assim surgiu Noções Fundamentais de Teoria Musical, publicado pelo DEC na Coleção Cultura Didática no final de agosto de 1967.

Celme Medeiros afirma na introdução do livro que foi movida pelo interesse em colaborar no despertar dos jovens alagoanos pelo gosto musical. O material impresso também facilitava as suas aulas de música.

Nos colégios onde lecionou, também foi convidada a compor seus hinos. O do Colégio Sagrada Família é este:

O Colégio Sagrada Família
É um tesouro de real grandeza
É um radar de suave alegria
Que nos guia com amor e firmeza!

A decisão firmada em nossa mente
De estudarmos com ardor juvenil
Nos impele sempre para a frente
Pela glória do nosso Brasil!

Essa força poderosa a serena
Que nos impele a marchar sem parar
Essa força perfeita e eterna
E de Deus que emana sem cessar!

E quando alcançarmos, um dia
O nosso ideal tão sonhado
O seu nome ó “SAGRADA FAMILIA”
Para sempre nos será lembrado

O Colégio Sagrada Família
Nos ensina a amar com firmeza
Nossa linda e altiva Bandeira
Que o símbolo de luz e grandeza

Estudar com orgulho e vigor
Pela Pátria amada e varonil
Não importa o perigo da luta
Este é o lema do nosso Brasil.

Desta terra que Deus nos legou
O Brasil altivo e feliz
Deste céu, deste azul tão formosos
Somos filhos leais e servis!

E quando alcançarmos, um dia
O nosso ideal tão sonhado
O seu nome ó “Sagrada Família”
Para sempre nos será lembrado

Ouça aqui o Hino do Sagrada Família:

 

O do Colégio Cônego Machado é este:

O Colégio Cônego Machado
É um farol sempre a iluminar
Com calor, com amor a mocidade
Que o sol está a procurar!…

Celme Farias Medeiros faleceu aos 92 anos de idade em 11 de abril de 2015

Avancemos, unidos a lutar
Nessa missão tão nobre e viril
De sempre a mocidade educar
Para a glória do nosso Brasil

Estudar, trabalhar com ardor
Para a Pátria querida bem servir
É um brado de paz e de louvor
É o lema que havemos de seguir

E o seu nome, ó Cônego Machado”
Seu exemplo de fé e devoção
No coração ficarão sempre gravados
Com carinho, respeito e gratidão!…

Pelos laços benditos da fé
Lutaremos, sempre sem cessar
Que o Brasil está sempre de pé
Para mais uma glória alcançar!…

Marcharemos com garbo e vigor
Para a glória do nosso pendão
Unidos na paz e na dor
Ao compasso de um só coração!

De fronte altaneira a avançar
Sempre forte, feliz e juvenil
O caminho do estudo a trilhar
Seguirá a mocidade do Brasil!…

E o seu nome ó Cônego Machado
Seu exemplo de fé e devoção
No coração ficarão sempre gravados
Com carinho, respeito e gratidão!

Escritora de livros didáticos infantis

Em 1983, quando já era professora de Educação Artística do Colégio Estadual Cônego Machado, mais uma vez sentiu falta de livros apropriados para suas aulas e, como havia feito antes, publicou os volumes 1, 2 e 3 do Arte é Alegria.

Após a sua aposentadoria como professora do Estado em 1989, Celme passou a se dedicar com mais afinco aos livros didáticos voltados para a Educação Infantil.

Em alguns livros utilizou o pseudônimo Thayanne Gabryelle. Entre eles estão A conquista da Arte Educação Artística – 5ª e 6ª série, e A conquista da Arte Educação Artística – 7ª e 8ª série, estes pela Editora do Brasil em 1993.

Ainda como Thayanne: Essa mãozinha vai longe… caligrafia – obra em 4 volumes para alunos de 2ª a 5ª série (1994). Essa mãozinha vai longe… caligrafia – obra em 4 volumes para alunos de 1ª a 4ª série (2002). Essa mãozinha vai longe… caligrafia. Nova edição – Educação infantil, 3 volumes (2008) – coautoria com Vilza Carla. Essa mãozinha vai longe… caligrafia. Nova edição – Educação fundamental 1º ao 6º ano (2009) – coautoria com Vilza Carla. Essa mãozinha vai longe… caligrafia. Nova edição – Educação fundamental 1º ao 5º ano (2009) – coautoria com Vilza Carla. Essa mãozinha vai longe… caligrafia. Nova edição – Educação infantil 5ed, 3 volumes (2019) – coautoria com Vilza Carla.

O trenzinho da alegria Estudos Sociais e Ciências para pré-escola e os vários volumes do Vamos aprender a escrever.

As Letrinhas Fazem a Festa. Matemática e Natureza – Volume 1 e 2; As Letrinhas Fazem a Festa. Linguagem e Sociedade – Volume 1 e 2; As Letrinhas Fazem a Festa – Gramática – 1ª série a 4ª série; As Letrinhas Fazem a Festa. Comunicação e Expressão – Volume 1 a 3; Os Números Fazem a Festa – 1ª Série a 4ª Série (1992).

A coleção As Letrinhas Fazem A Festa – Pré-escolar foi remodelada para dois volumes e dois livros: As Letrinhas Fazem A Festa. Pré-escolar: Linguagem e Sociedade e As Letrinhas Fazem A Festa. Pré-escolar: Matemática e Natureza.

Meus Primeiros Passos. Minha Vida. Meu Mundo – Maternal e Meus Primeiros Passos. Letras e Números.

Aquarelinha do Saber Integrado Novo. Educação Infantil – Volume 1 e 2; Aquarelinha do Saber Integrado Novo. Maternal; Aquarelinha do Saber 3 – Integrado – 1º Ano; Aquarela do Saber Integrado. Novo. Cinco edições, do 1º Ano ao 5º Ano; e Aquarela do Saber 2.

Alagoas. História e Geografia (2000), sem coautoria. Alagoas. História e Geografia (1ª ed. 2005 e 2ª wd. 2010), e Sergipe, História e Geografia (2007), ambos em coautoria com Eduardo Frigoletto de Menezes. Um detalhe deste último livro: Celme nunca esteve em Sergipe.

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Celme Farias Medeiros faleceu aos 92 anos de idade em 11 de abril de 2015.

Depoimentos de familiares

“Minha vó Celme foi e sempre será motivo de orgulho e fonte de inspiração para toda sua família. Era um exemplo de mulher batalhadora, aprendeu a vencer os obstáculos que a vida ia lhe impondo desde muito nova, pois ainda criança ficou órfã de pai e mãe.

Após ficar viúva, necessitando dar continuidade a educação e sustento de seus filhos, começou a lecionar, dedicando desde então toda a sua vida a arte de educar.

Era uma exímia contadora de histórias infantis, sendo sua aula um dos momentos mais aguardados por seus alunos. Levava uma vida muito simples, avessa às badalações. Era uma mãe, avó e bisavó muito amorosa, zelosa e carinhosa com todos, amava a casa repleta de filhos, netos e principalmente de seus bisnetos, a quem sempre cobria de mimos.

Era uma pessoa iluminada, desprovida de toda e qualquer vaidade e extremamente generosa. Sempre estava disposta a ajudar a todos, principalmente no tocante a educação.

Sua maior felicidade era fazer os outros felizes. Seu maior passatempo era escrever, ao qual se dedicou integralmente após sua aposentadoria. Seu amor, carinho, preocupação, dedicação, coragem e acima de tudo sua generosidade jamais serão esquecidos por aqueles que tiveram a honra e privilégio de conviver com
ela.”

Ana Celme Medeiros Ciríaco – Neta

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Professora Celme Medeiros numa sala de aula em maio de 1986

Vó Celme, sempre foi uma pessoa de muita fibra, coragem, uma lutadora, que desde o falecimento de seu marido, deu continuidade a formação de sua família com muito trabalho e dignidade. Sempre foi muito calma, trabalhadora, estudiosa, sempre tentava ajudar todos em sua volta.

Em casa sempre foi muito ativa, nunca deixando faltar nada a seus filhos e netos. Sempre foi muito carinhosa, presente na vida de todos, sempre paparicava seus netos com presentinhos e lanchinhos e muito carinho.

Gostava de contar historinhas e de brincar com os netos. Sempre foi incentivadora dos estudos, queria que todos os filhos e netos se formassem, dizia que só os estudos levavam alguém para frente.

Era muito caseira, não gostava de ir a casa de ninguém, mas gostava da casa cheia dos netos, sempre querendo eles por perto.

Trabalhou como professora durante toda sua vida e amava o que fazia, só deixou de ensinar realmente quando não pode mais.

Sempre foi muito organizada e gostava de resolver tudo sozinha para não depender de ninguém. Seu lazer era realmente o trabalho, com isso escreveu diversos livros. Era feliz, sempre que ajudava alguém, vivia mais para os netos do que para ela.

Era um ser sublime, uma alma sem igual, era muito afeto, amor.

Karla Maria da Silva Medeiros Lessa – Neta

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“Minha bisavó é uma fonte de inspiração para mim, um exemplo de vida. Muito trabalhadora, batalhadora e desprovida de vaidade, venceu os obstáculos da vida com muita maestria.

Ela era imensamente generosa e carinhosa. Gostava de ver todos a sua volta felizes. Muito organizada, mantinha sua casa sempre em ordem e decorada. A felicidade brilhava em seus olhos quando estava
com sua família.

Minha bisavó desde criança sempre foi muito caseira, preferia receber parentes e amigos em sua casa. Amava ter a casa cheia, realizar almoços em família – pontualmente ao meio dia. Toda data festiva era motivo de reunir a família.

Eu amava ouvir ela contando como tinha sido sua vida, as comparações entre passado e presente. Além de sua história de vida, gostava muito de contar estorinhas. A forma como ela as contava fazia a gente viajar no universo da imaginação.

Para ela a educação era algo muito importante, ela dizia que o conhecimento é a única coisa que ninguém pode
tirar de você. Nos incentivava a ser bons alunos e nos dedicarmos aos estudos.

Escrever livros para ela era algo muito natural, ela era muito criativa. Passava horas escrevendo, até mesmo quando íamos à casa de praia para descansar ela levava seu material de trabalho. Sua dedicação em difundir a educação, levar conhecimento as crianças, me fascinava.”

Thayanne Gabryelle Medeiros Ciríaco – Bisneta

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À minha Bibi só tenho agradecimentos. Adorava ouvir suas histórias sobre a época em que ela era
jovem. A história que ela contava que eu mais gostava era a de quando eu era bebê e ficava em seu colo enquanto ela jogava comida para os passarinhos só para me agradar. Obrigado Bisa, saudades.

Matheus Gabriel Medeiros Ciriaco – Bisneto

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Falar sobre Celme Farias Medeiros me traz lembranças. Minha avó, por sinal.

A primeira, mas não a mais importante, lembrança que tenho dela é a de que ela passava na minha casa para me
buscar para ir para a escola. Todo os dias, religiosamente. Certa vez caia a maior chuva em Maceió e
ela estava atrasada. Fiquei no corredor esperando o carro dela parar, eu já com a farda do Colégio e
olhava para o relógio de pulso digital que eu tinha no braço.

Quem é de Maceió sabe como a cidade fica em um dia de chuva forte. Mas uma criança não sabe disso, ao menos eu não sabia. O atraso me incomodava e comecei a dizer para minha mãe: “Ela esqueceu de mim, não foi?”.

Mãe segurava minha mão e disse que ela logo estaria ali, que eu tivesse um pouco mais de paciência. Eu, birrento, passei a reclamar e chorei. A dor que sentia no peito, não era por que eu não ia para escola, mas sim de que a minha avó tinha me esquecido. Eu me sentia impotente, um boneco de pano jogado de lado quando não tem mais serventia.

Mas eu digo que meu drama terminou com um final feliz. Após a choradeira digna de um Oscar, ela parou em frente da porta da casa e buzinou duas vezes. Meu tio Antero estava no volante e ela no lado do passageiro. Eu engoli o choro, peguei a mochila do chão, acho que dei um beijo na minha mãe e voei para o carro como um cachorrinho sem coleira. Ela estava lá, eu era importante para ela novamente. Devaneios de uma criança.

Celme Medeiros em 1968

Aos domingos, eu ia para a casa dela passar o dia. Assim que eu chegava, a primeira coisa que ela fazia era me levar para uma banca de revista para comprar quadrinhos de super-heróis ou qualquer outra coisa que eu quisesse. Ela, talvez sem saber, me fez ter a paixão pela leitura, minha personal influencer. Ela pegava o jornal dela, voltava para casa e tomávamos café.

O domingo era o dia de todos se reunirem na casa dela. Almoço de família. Ai daquele que não fosse. Ela gostava de ver a mesa cheia, com os filhos, sobrinhos, netos, bisnetos. Todos estavam lá. Era um dia de felicidade, com bons papos e boa comida. Era um dia feliz porque ela estava lá, sentada na mesa fazendo careta pra gente e rindo. Uma risada que hoje sinto falta. Domingo, o melhor dia da semana.

Revirando minhas memórias, lembrei das vezes que eu ficava sentado em um sofá e ela no outro. Como eu gostava de escutar aquela senhora. Estórias de luta, de derrotas, de vitórias… ou simples estórias. A observava com atenção, cada movimento de cabeça, das mãos, do sorriso ou dos olhos cansados que já vira de tudo um pouco.

Na minha inocência, eu queria tirar aquele peso dela, não queria ver aqueles olhos cansados. E mudava de assunto, até inventava alguma coisa na hora ou falava de besteiras que aconteciam na escola. Somente para que ela pudesse sorrir novamente.

Um clichê, sei disso. Mas diga-me, o que não é clichê hoje em dia? Ela era uma avó e eu um neto. Só queríamos o melhor um para o outro.

Hoje, tenho arrependimentos. Deveria ter passado mais tempo com ela, ter escutado mais, ter aprendido mais, ter me doado mais.

A esperança que tenho, é que um dia iremos nos encontrar novamente. Aí é ela que vai escutar as minhas estórias, com a mesa cheia novamente.

Até breve, Vó Celme.”

Talisgean Simplicio de Medeiros – neto.

***

Nesta vida tão efêmera e tão passageira, as lembranças dos momentos vividos com os entes queridos que já se foram, são com certeza uma dos maiores alentos que podemos ter, face à partida deles.

Chamo-me Achilles Medeiros, e juntamente com meus irmãos Pátroclus e Tasmânia, tivemos a honra e o privilégio de sermos os três primeiros netos de minha saudosa avó, a professora e escritora Celme Farias Medeiros.

Desde o meu nascimento, passando pelo nascimento de meu irmão Pátroclus, e até três anos após o nascimento de minha irmã Tasmânia, fomos os primeiros netos da professora Celme por seis anos.

Tempos difíceis, quando minha avó, recém-viúva, teve que enfrentar a dura realidade da vida, o que não conhecia até o falecimento de meu avô, o também saudoso desembargador Anthero Montenegro de Medeiros.

E nós, seus primeiros netos, embora ainda muito pequenos, vivenciamos esta fase adversa da vida de minha avó, que um dia teve fim, graças à sua imensurável força de trabalho, incomparável coragem e incontestável magnitude intelectual.

Minha avó foi uma vencedora. Aliás, continua sendo, onde quer que ela esteja.

Fica aqui a nossa homenagem, dos seus netos primórdios, a este exemplo que hoje ela representa para todos nós, a guerreira e insigne mulher, Celme Farias Medeiros.

AchillesPátroclus e Tasmânia Medeiros – netos

15 Comments on Celme Farias Medeiros, uma vida dedicada ao magistério e às artes

  1. Marcos de farias costa // 21 de setembro de 2020 em 20:44 //

    Fui vizinho de Dona Celme, amigo de seus dois filhos mais novos, Hélder e Antero (em casa chamado de Teroca) e também seu aluno de piano, e estudei teoria musical em seu livro, que ainda guardo carinhosamente. Era uma mulher combativa moderna e pioneira, empoderada, como se diria hoje. Lendo o artigo do Ticianeli as lembranças foram brotando aos borbotões, de tanta coisa que vi e vivi, inclusive a biblioteca estupenda do Dr Antero, como sua bela coleção de selos, que ele amavelmente me mostrou, eu um menino de 14 anos. Outra lembrança é a de seu filho mais velho Oscar Talisman, discófilo apaixonado, com uma discoteca de milhares de LPS. E também de uma própria emissora de rádio em sua casa, a PRK-30, com programas de auditório. Tanta coisa a escrever mas a hora é curta.

  2. janegeane@hotmail.com // 21 de setembro de 2020 em 22:07 //

    Celme Farias de Medeiros
    Já ouvi inúmeras estórias de sogra e noras que não se suportam…
    D. Celme foi a mais que uma sogra, foi uma mãe pra mim. Em nosso primeiro encontro ela falou oq essa menina está fazendo com vc Oscar?
    Oscar simplesmente respondeu, essa menina é minha mulher mãe… e aqueles olhinhos me observaram por algum tempo e logo em seguida me abraçou… um abraço que durou 32 anos de convivência de aprendizado e admiração por uma mulher que hj sinto falta o carinho de mãe, vó e sogra.
    Ainda nos encontraremos …🌹

  3. Lisana Lucena // 21 de setembro de 2020 em 23:05 //

    Me emocionei, ela fez parte da minha infância no Colégio Sagrada Família, lembro bem dela, dedicada, paciente amorosa, profissional. Lembro que gostava muito dela, ela inventava, bateu saudades de outrora.

  4. Eudocia Menezes // 22 de setembro de 2020 em 00:41 //

    Vendo aqui o nome de seus três primeiros netos… Lembrei que eram os meus vizinhos, no Prado, eram amigos de meus irmãos mais velhos. Eu ainda criança, não sabia que eram netos da autora de meus livros do primário.
    Que bela história dessa professora. Parabéns!!!

  5. Raíza Carnaúba Quintela // 22 de setembro de 2020 em 07:09 //

    Vó bisa Celme, a quem tive o prazer de conhecer e conviver brevemente, é o tipo de pessoa que desperta admiração quase que instantâneamente em todos que a cercam.
    Mulher de personalidade forte, determinada e ao mesmo tempo muito amorosa. Sempre me recebeu muito bem em sua casa, com doces, mimos e com dias de muita brincadeira com os outros bisnetos dela.
    Vó Celme jamais deixou de lado seus princípios e dignidade, sempre inspirou a todos ao seu redor, de igual modo ao seu marido Antero em quem ela sempre falava se espelhar. Espero que um dia nos encontremos novamente e tenhamos mais tempo para conversar. Deus a tenha, e muito obrigada!

  6. Me emocionei lendo tantos depoimentos. Uma história de vida que encantou e me encanta hoje que estou conhecendo pela primeira vez essa história de vida maravilhosa.

  7. Marcos Lamenha Medeiros // 23 de setembro de 2020 em 14:30 //

    Sou filho do Nilton, irmão de Anthero e não só testemunho contemporâneo de tudo o que foi escrito neste documentário. Celme foi uma tia muito querida e mulher totalmente dedicada ao trabalho e a família. Tudo que está relatado eh verdadeiro e deve ser tomado como um exemplo de vida para as futuras gerações.

  8. Larissa Bernardes do Monte // 25 de setembro de 2020 em 10:54 //

    Nossa, estou feliz de conhecer um pouco mais sobre minha própria história. Sou neta da Cely Loureiro, e foi muito bom saber um pouco mais já que a perdi enquanto criança.
    Gratidão

  9. Eudocia Menezes // 26 de setembro de 2020 em 21:19 //

    Seria bom, Larissa que,vc tbm escrevesse algo sobre a sua avó Cely. Pois tbm fez parte da história de Alagoas

  10. André José Soares Silva // 27 de setembro de 2020 em 22:03 //

    Dentre tantos trabalhos de D. Celme, o Hino do nosso querido Colégio Sagrada Família emociona e traz a lembrança de uma das grandes instituições de ensino de Alagoas.

  11. Maria das Graças Costa // 21 de outubro de 2020 em 01:39 //

    Fui aluna da Profa. Celme no Colégio Cônego Machado e tenho boas lembranças quando formávamos para cartar o hino do Colégio e o hasteamento do Pavilhão Brasileiro! Só Saudades.

  12. André Luiz Gomes Pepes // 1 de fevereiro de 2021 em 15:40 //

    Fui aluno de nossa querida Professora Celme Farias. Lembro-me de ter com o maior orgulho adquirido o livro “Arte é Alegria ” e me recordo que assim como eu, todos da sala pediram pra ela autografá-lo. Adorávamos as suas aulas e tínhamos muito carinho por ela. Hoje tenho 49 anos e só soube de sua partida agora. Mas de uma coisa eu sei: Jamais esquecerei a professora que tinha carinho de vó e assim era tratada por todos da nossa turma no colégio Cônego Machado que funcionava onde hoje é o Cesmac.
    Gostaria de poder ter lhe encontrado antes de sua partida. Mas creio que algum dia nos encontraremos.
    Saudades nossa querida professora. Nós que fomos seus alunos jamais te esqueceremos.

  13. Estudei com os livros As letrinhas fazem a festa! Saudades!

  14. WAGNER ROGERIO DA SILVA // 8 de setembro de 2023 em 11:57 //

    Fui aluno da professora Celme no Colégio Sagrada Família, e até hoje guardo o compacto com o hino do colégio. Anos depois mandei remasterizar o hino para MP3 e espalhei para meio mundo, além de produzir dois vídeo clipes publicados no YouTube. Eu fiz questão de ir à missa de 7° dia e me apresentei como ex-aluno, recebendo o santinho que está guardado comigo. Se Deus permitir, farei a sugestão para lembrarmos que em 2022 foi o ano do Centenário dela.

  15. Fui aluna dela no Cônego Machado, hoje estou com 54 anos, que saudades…….

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