Alcino Casado, o comerciante que deu nome a uma rua de Maceió

Riacho Salgadinho nas proximidades da Rua Alcino Casado

Por Etevaldo Amorim

Uma ruazinha tranquila, que cruza a Rua Godofredo Ferro e termina na Av. Deputado Humberto Mendes, na margem direita do riacho Salgadinho, ostenta uma placa indicando a sua denominação: Rua Alcino Casado.

Recebeu esse nome pela Lei nº 256, de 20 de novembro de 1952, assinada pelo prefeito Abelardo Pontes Lima e pelo secretário geral Humberto Santa Cruz. A publicação, no mesmo dia, coube ao chefe de Expediente-Substituto, Paulo Valente Jucá.

Mas, quem foi essa personalidade digna de receber esta distinção?

Alcino Casado de Araújo Lima foi um destacado comerciante em Maceió e, segundo informações de Margarida Mendonça, era também proprietário de um sítio de coqueiros que abrangia parte das atuais ruas Buarque de Macedo, Alcino Casado e Godofredo Ferro, incluindo a praça da igreja Nossa Senhora do Carmo.

Morava no casarão do sítio, onde está o Laboratório Martins Pinto, na esquina da Rua Alcino Casado com a Rua Buarque de Macedo.

Era filho de Matheus Casado de Araújo Lima Arnaud Júnior e de Thereza Rodrigues Casado de Lima (ou Thereza Rodrigues Accioly Lima), residentes em Maceió.

Nasceu em 1884, no dia 7 de janeiro, vindo a ser batizado em Santa Luzia do Norte, no dia 2 de março do mesmo ano.

Seu pai, proprietário do Engenho Cachoeira de Baixo, situado no município de Santa Luzia do Norte, em 1894 era um dos diretores da Companhia de Águas de Maceió. Faleceu em 29 de novembro de 1905.

Alcindo era filho do desembargador Matheus Casado (Matheus Casado de Araújo Lima Arnaud, casado com Benedita Augusta de Araújo Lima).

Os filhos de Matheus Casado de Araújo Lima Arnaud Júnior e de Thereza Rodrigues Casado de Lima foram os seguintes: Maria Casado (23/12/1881), Augusto (1882), Alcino (1884), Ascânio (1885), Matheus (1886), Benedito (1887), Maria Augusta (1888), Joana (1891), Josué (1892) e Isaura (1897).

Em 1896, Alcino Casado era aluno do professor Manoel Gomes de Almeida Leite[i], diretor do Internato Almeida[ii] e depois do Externato Alagoano.[iii]

Em novembro de 1908 fez seu alistamento militar em Maceió.

No ano seguinte, em 25 de maio, foi aceito como sócio da Sociedade Casamento ou Mortalha. Foi excluído desta sociedade por falta de pagamento em janeiro de 1911. Em novembro de 1910 também foi aceito na Mutualidade Alagoana.

Adquiriu a Refinaria Ferreira, na Rua do Comércio, nº 81, em agosto de 1910. Pertencia até então a Oliveira & Irmãos.[iv]

Em 6 de agosto de 1911, casou-se com Maria Carolina Soares Pinto Neta, que depois do casamento passou a se chamar Maria Carolina Casado de Lima; ele com 27 anos e ela com 24.

O Gutemberg de 25 de agosto daquele ano assim registrou o casamento:

“Regressou anteontem de Pão de Açúcar em companhia de sua exma. esposa d. Carolina Casado de Lima, o nosso conterrâneo e amigo sr. Alcino Casado de Lima, digno comerciante de nossa praça. Nossas saudações”.

O casamento foi na casa do Pe. José Soares Pinto, vigário de Pão de Açúcar e irmão da noiva, tendo como testemunhas o Major Achilles Balbino de Leles Mello, o Capitão Antônio Soares de Farias Pinto, Manoel Arthur Gonçalves Fialho e Augusto Casado de Araújo Lima, irmão do noivo.

Pesquisa de Billy Magno encontrou que o casamento teve acompanhamento musical da orquestra regida pelo Dr. Antonio Arecippo.

Padre José Soares Pinto

Carolina Casado de Lima era conhecida por Sinhazinha. Nasceu a 13 de junho de 1887 e faleceu a 1º de junho de 1967 (no Recife).

Era filha do primeiro casamento de José Soares Pinto com Rosa Maria Dória Pinto. Foi identificada como “Neta” porque a sua avó (casada com o português Manoel Soares Pinto) se chamava também Maria Carolina Soares Pinto (solteira, Maria Carolina Hypólito de Souza).

Alcino e Sinhazinha deixaram duas filhas: Rosiete Casado Lisboa (nascida em junho de 1923 e falecida no Recife em 29 de dezembro de 1980) e Ivanise Casado Rego[v], nascida em 20 de janeiro de 1930.

Alcino faleceu em Maceió no dia 20 de maio de 1940, às 3h15, vítima de edema pulmonar infeccioso e dilatação aguda do coração. Foi enterrado no Cemitério d Nossa Senhora da Piedade.

Comerciante

Em Sessão Ordinária de 26 de agosto de 1915, a Junta Comercial do Recife registrou Ofício do Presidente da Junta Comercial do Estado de Alagoas, comunicando a matrícula do comerciante Alcino Casado de Araújo Lima, sócio da firma “Alcino Casado & Cia”, estabelecida em Maceió como refinaria e molhados em grosso e em retalho.

Rua do Comércio nos anos 20

Na diretoria do Centro Sportivo Alagoano (CSA) que tomou posse em 7 de setembro de 1921, o “Coronel Alcino Casado” era o 2º vice-presidente de Gustavo Paiva.[vi]

Em setembro do mesmo ano seu nome surge como membro efetivo do Comitê Republicano pró Nilo Peçanha – J. J. Seabra em Alagoas, candidatos oposicionistas à presidência da República.[vii]

Em 23 de dezembro de 1925, a firma Alcino Casado & Cia. celebrou com o Estado contrato no valor de 5:000$000 “para o fornecimento de diversos artigos para as obras do Estado no primeiro semestre de 1926”. Provavelmente ferragens.

Foi um dos suplentes da Junta Comercial de Alagoas em 1924. Em 1939, era um dos Deputados desta mesma instituição[viii] (os componentes das Juntas Comerciais eram também deputados).

Em 1927, a firma foi divulgada como comercializadora de louças e dois anos depois também de ferragens. O endereço era Rua do Comércio nº 231.

Alcino Casado participou ativamente da Liga Eleitoral Católica, que em 29 de julho de 1934 enviou uma comissão para divulgá-la em Santa Luzia do Norte. A delegação foi composta por: Emílio de Maia, Arsênio Lira, Luiz Leite e Oiticica e Alcino Casado.[ix]

Em 15 de dezembro de 1935, foi eleito vereador em Maceió pelo Partido Progressista. No início de janeiro foi escolhido como presidente da Câmara da capital. Tomou posse no dia 20 daquele mês. Na mesa diretora eleita em fevereiro de 1937, ficou na vice-presidência.

Em 1936 a Casa São Miguel, de ferragens, louças e vidros, tinha mudado o seu endereço, mas continuando na Rua do Comércio. Passou para o nº 261.

Uma nota publicada no O Jornal (RJ) de 20 de março de 1930 informa o que aconteceu com o antigo endereço da Casa São Miguel no Centro da capital:

“Na rua do Comércio, perto do relógio oficial, no prédio onde esteve a loja de ferragens ‘Casa São Miguel’. Do sr. Alcino Casado, vai ser levantado o primeiro ‘arranha céu’ em Alagoas propriedade do capitalista José Lages. A planta do novo edifício tem merecido grandes elogios”.

A firma também comercializava Secos & Molhados, como se constata pelos queijos recebidos em janeiro de 1917, transportados de Liverpool para Maceió pelo vapor inglês Merchant. Fornecia alimentos para o Asilo Santa Leopoldina.

Ainda em 1927, sua empresa forneceu alimentos para as obras na estrada de rodagem de Maceió a São Miguel dos Campos, para a Guarda da Força do Palácio, Gabinete de Identificação, Segunda Delegacia de Polícia, Lyceu Alagoano, Escola Normal, Grupo Escolar Fernandes Lima, Grupo Escolar D. Pedro II, Grupo Escolar Diegues Júnior, Grupo Escolar Rocha Cavalcanti, Grupo Escolar Torquato Cabral, Ponte de Desembarque de Maceió, Asilo da Santa Leopoldina, Imprensa Oficial, Inspetoria da Guarda Civil, Cadeia de Limoeiro, Casa de Detenção de Maceió, Garage do Estado, Oficina da Casa de Detenção, Almoxarifado e Gabinete Fotográfico.

Em 1931, segundo notícia do jornal carioca A Esquerda, a Loja São Miguel foi alvo de um grande roubo de armas e munições, atribuído aos comunistas alagoanos. No entanto, apesar de intensas investigações empreendidas pelo delegado, Dr. Alfredo de Maya, nada foi comprovado.[x]

Em 1934, durante as eleições, como fiscal da Liga Católica, teve seu acesso proibido a uma das seções eleitorais.[xi]
[i] Gutenberg, 15 de abril de 1896, http://memoria.bn.br/DocReader/809250/3127]
[ii] Gutenberg, 15 de abril de 1896. http://memoria.bn.br/DocReader/809250/3125
[iii] O Orbe, 3 de dezembro de 1897. http://memoria.bn.br/DocReader/260959/5744
[iv] Gutenberg, 1º de setembro de 1910, p. 3. http://memoria.bn.br/DocReader/809250/11082
[v] Rua Antônio Basílio, 215/303 – Tijuca – Rio de Janeiro – RJ
[vi] Diário de Pernambuco, 10 de setembro de 1924, p. 3, http://memoria.bn.br/DocReader/029033_10/12867
[vii] Jornal Pequeno, Recife, 29 de setembro de 1921, p. 3. http://memoria.bn.br/DocReader/800643/32778
[viii] Diário de Notícias, RJ, 15 de junho de 1939, p. 2. http://memoria.bn.br/DocReader/093718_01/39672
[ix] Diário de Pernambuco 5 de agosto de 1934, p. 4. http://memoria.bn.br/DocReader/029033_11/12349
[x] A Esquerda, RJ, 27 de fevereiro de 1931, p. 4. http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=297984&pesq=%22alcino%20casado%22
[xi] A Noite, Rj, 16 de outubro de 1934, p. 2.
http://memoria.bn.br/DocReader/DocReader.aspx?bib=348970_03&pesq=%22alcino%20casado%22

3 Comments on Alcino Casado, o comerciante que deu nome a uma rua de Maceió

  1. Eduardo Menezes // 10 de maio de 2021 em 22:03 //

    Rua Alcino Casado, a rua que eu moro. Muito bom saber a origem do mome.

  2. Marcos José Martins dos Santos // 11 de maio de 2021 em 17:27 //

    Parabéns pelas informações enriquecedoras.

  3. FLAVIO ROBERTO BERGER // 12 de maio de 2021 em 12:44 //

    Bom dia
    preciso urgente de 3 fotos históricas do Porto de Maceió, se possível início das obras ou decorrer, aérea ou terrestre, o porto já enviou, mas precisamos de outras melhores, para o livro PORTOS DA AMÉRICA DO SUL E MARINHA DO BRASIL.

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