Queda do governador Divaldo Suruagy em 1997
O déficit nas contas públicas fez com que o governo do estado atrasasse nove meses a folha de pagamento, gerando greves e manifestações contra o governador Divaldo Suruagy.
Durante o terceiro e último governo de Divaldo Suruagy, para o qual se elegeu com 83% dos votos, Alagoas viveu uma das maiores crises de governabilidade de sua história. Situação que somente foi resolvida com o afastamento do governador.
Fruto do Acordo dos Usineiros e do arrocho fiscal estabelecido pelo Plano Real, o déficit nas contas públicas levou o governo do Estado a atrasar o pagamento dos servidores públicos por nove meses.
Esse “Acordo“, uma renúncia fiscal, havia sido firmado ainda em 1988, quando Fernando Collor era governador de Alagoas. Beneficiava aproximadamente 30 usinas de açúcar, que deixaram de pagar o ICMS.
A medida atendia o pedido dos usineiros, que se sentiam prejudicados com a cobrança que achavam indevida e ainda solicitavam a restituição de parte do recolhido durante anos.
Quem auditava estas contas era o tributarista e chefe do setor de arrecadação da Secretaria da Fazenda, Sílvio Viana. Foi assinado com dez tiros na AL-101, no dia 28 de outubro de 1996.
Dia de cão
No dia 17 de julho de 1997, depois de muitas greves e protestos, uma manifestação de servidores públicos, composta principalmente por policiais civis e militares, cercou a Assembleia Legislativa exigindo o afastamento do governador. Servidores civis e profissionais liberais também estavam mobilizados para resolver de uma vez por todas a situação de imobilização do governo.
Antes mesmo da passeata chegar à Praça D. Pedro II, o Exército havia distribuído 250 soldados munidos de fuzis automáticos para a proteção da sede do poder legislativo. A área gradeada da praça servia para demarcar o perímetro a ser defendido.
Como resposta, alguns manifestantes armados invadiram a Biblioteca Pública e ficaram em posição de tiro nas suas janelas superiores. Alguns telhados da vizinhança também foram utilizados para posicionar atiradores.
Durante o ato, o representante de vendas Divaldo Coutinho disse à repórter Elisana Tenório, da Tribuna de Alagoas, que “este sofrimento tem que acabar, pois é uma questão de humanidade ter o que comer e onde dormir. Para mim este ato público é fruto da revolta de um povo que já aguentou demais esse governo”.
Mais afastada do tumulto estava a esposa de um policial olhando preocupada para a multidão. Acompanhava os movimentos do marido: “Eu já pedi para ele sair do meio da agitação mas ele acha que só assim estará lutando pelo leite das crianças“, disse para a repórter.
Invasão da Praça
Os deputados, mesmo sitiados na Assembleia, relutavam em afastar o governador como pediam os grevistas. O clima era tão tenso que alguns deles choravam temendo o pior.
Diante do não atendimento da principal reivindicação, os manifestantes ficavam cada vez mais impacientes. A disposição deles era a de invadir a casa legislativa, mas sempre se esperava que a qualquer momento os deputados votassem o afastamento do governador.
Faltava uma fagulha para incendiar os ânimos. Ela aconteceu com a chegada ao protesto da então prefeita de Maceió, odontóloga Kátia Born. Empunhando o microfone do carro de som utilizado pelos servidores públicos, disse que o isolamento imposto pelos soldados do Exército era um absurdo.
“Essa repressão é absurda, a praça pertence ao povo e por isso vamos ocupá-la“, comandou. Imediatamente a multidão começou a forçar as grades de ferro até derrubar parte de dela, permitindo a invasão da Praça D. Pedro II.
Foi nesse momento que vários tiros foram disparados, forçando o Exército a recuar para trás do último gradil, já a poucos metros da porta de entrada na Assembleia Legislativa. Durante esta ação e no tumulto oito pessoas ficaram feridas.
O então presidente do Sindicato dos Policiais Civis, José Carlos Fernandes, culpava o governo por aquela violência. Argumentava que a insistência em continuar no poder sem as mínimas condições estava provocando o conflito. Falava isso enquanto socorria seu irmão atingido por uma bala na perna.
Dentro da Assembleia, alguns deputados e seus assessores se entrincheiravam. Todos armados, se preparavam para responder à bala qualquer invasão. Outros tentavam escapar pelos fundos. Um deles chegou a propor que descessem o paredão da Rua Dr. Pontes de Miranda utilizando uma corda.
Quem conseguiu serenar os ânimos foi a prefeita Kátia Born, que se surpreendeu com os acontecimentos. Dirigiu-se aos soldados, que continuavam prontos para enfrentar a multidão, e pediu que baixassem suas armas. Da mesma forma solicitou aos manifestantes que tivessem calma.
Mesmo após o breve tiroteio, o impasse continuou. Somente foi resolvido quando Divaldo Suruagy concordou em aceitar um afastamento temporário. Assim, às 13h35 os deputados votaram às pressas o pedido de afastamento por seis meses do governador.
O vice-governador, Manoel Gomes de Barros, assumiu o governo temporariamente, mas depois foi efetivado no cargo. Percebendo que não havia mais condições de retornar ao mandato, Divaldo Suruagy apresentou sua renúncia no início 1998.
VÍDEO SOBRE O ASSUNTO AQUI.
Como aquela gente da época tinha coragem, hein? A de hoje…
Divaldo Suruagy não merecia ter saído da vida política desta forma. Um homem bom.
Muitos ficaram ricos a sua custa e acredito que não morreu rico.
Estava na praça e quando ouvi o primeiro tiro sai numa carreira tão grande que deixaria para trás Usain Bolt.
Eu estava aí, estudante de Letras- UFAL Eu vivi esse momento tenso. Penso que não houve mudanças como sempre desejamos.
Acompanhei tudo de muito perto! Eu trabalhava nas imediações. Dia muito tenso. Suruagy teve dificuldades de sair do Palácio dos Martírios, a multidão querendo invadir o palácio.( ainda derrubaram parte das grades) Só conseguiu sair por meio de um helicóptero blindado da policia Federal.