Guilherme Palmeira e a herança liberal de Rui Palmeira

Jornalistas entrevistam o governador Guilherme Palmeira. Foto do acervo de Bartolomeu Dresch

Guilherme Gracindo Soares Palmeira nasceu em Maceió no dia 25 de dezembro de 1938. Seu pai, o senador Rui Soares Palmeira, era natural do Engenho Prata em São Miguel dos Campos (2 de março de 1910). Sua mãe, Maria Gaby Gracindo Soares Palmeira (quando solteira, Maria Gaby Malta Brandão), nasceu em Atalaia no dia 14 de fevereiro de 1915.

Rui Palmeira, pai de Guilherme Palmeira

O deputado Miguel Soares Palmeira e d. Maria Tereza Ferro Soares Palmeira foram avós paternos de Guilherme. Os maternos foram Ignácio Brandão Gracindo e d. Cinira Malta Brandão Gracindo.

O primeiro filho do casal Rui e Maria Gabi foi Guilherme Palmeira. Depois vieram Nadja, Moacir, Vladimir, Miguel e Godofredo José.

Guilherme iniciou seus estudos em Maceió na Escola Lourdes Vieira e terminou o curso primário no Colégio Batista de Alagoas, de onde saiu para o Colégio Diocesano.

Em 1951, acompanhou a família que foi morar no Rio de Janeiro. Seu pai, Rui Soares Palmeira, iniciava o segundo mandato de deputado federal pela UDN. Na capital federal, estudou no Colégio Mallet Soares.

Concluiu o segundo grau no Rio de Janeiro, onde, em 1959, iniciou o curso de Direito na antiga Universidade do Brasil. Diplomado em 1963, teve pós-graduações em Direito Internacional Público e Privado, Constituições Brasileiras e Processo Penal.

Em 1961, participou como assessor da delegação brasileira na reunião do Conselho Interparlamentar, realizada em Genebra, Suíça. Dois anos depois esteve nesse mesmo encontro em Belgrado, Iugoslávia.

Casou-se com a arquiteta Suzana Bandeira, filha de Euclides Bandeira e Maria Lúcia Domingues Bandeira. Mário Bandeira e Tereza Bandeira são irmãos de Suzana.

Rui Palmeira, filho de Guilherme e Suzana, também seguiu a vocação política da família. A filha Solange Palmeira é servidora pública.

Na Política

Vladimir Palmeira, Guilherme Palmeira, Carlito Lima, Betuca, Quico e Lelé em 1966. Foto acervo Carlito Lima

Seguidor das concepções liberais do pai, Guilherme revelou no livro Rui Palmeira um histórico liberal, de João Azevedo, que ainda era estudante de Direito no Rio de Janeiro quando despertou a “compreensão da nobreza da política a que, a partir de formado, me dediquei, adotando-a como parte integrante do meu destino”.

Para ele, a convivência em sua casa com políticos no início dos anos 60 foram ricos em ensinamentos. Referia-se a esse período como da “república liberal”, citando Edgar Carone.

Iniciou sua participação nos mandatos eletivos em 1966, quando o pai era senador pela Arena. Nas eleições daquele ano foi eleito deputado estadual pela mesma legenda. Conseguiu reeleições consecutivas até 1978 e chegou presidir o poder legislativo alagoano.

Em 22 de março de 1977, Guilherme se afastou da Assembleia e assumiu a Secretaria Estadual da Indústria e Comércio como forma de preparação para sua candidatura ao governo do Estado.

Mas não estava sozinho na disputa por este mandato. O deputado federal José Alves de Oliveira, líder do presidente general Ernesto Geisel na Câmara dos Deputados, e o deputado estadual Theobaldo Barbosa, todos da Arena, também se colocavam como opção.

Sabiam que Guilherme era o candidato de Divaldo Suruagy e do ministro da Educação Ney Braga, mas apostavam no veto ao seu nome por ser irmão de Vladimir Palmeira, militante de organização de esquerda e que naquele período estava exilado. Vladimir passou dez anos fora do país, morando no México, Cuba, Chile e na Bélgica, onde formou-se em Ciências Econômicas pela Universidade Livre de Bruxelas.

Segundo o jornalista Nilton Oliveira em seu livro de memórias Eu fui testemunha, quatro anos antes o deputado estadual Guilherme Palmeira teve atuação decisiva na escolha de Suruagy para o governo, atuando em Brasília com todos os amigos do seu pai em busca de apoio.

“Guilherme pediu a Ney Braga, a Daniel Krieger, a Cordeiro de Farias, todos os companheiros do seu saudoso pai, ajuda para Suruagy como se fosse para ele. Suruagy, que prometera a Guilherme fazê-lo seu sucessor, ainda recebeu essa exigência de muitos figurões da Nação, como forma de receber apoio”, revela Nilton Oliveira.

E conclui: “Então, quando Divaldo Suruagy foi escolhido, ali também estava escolhido o nome do seu sucessor”.

Guilherme Palmeira, Claudionor Germano, Lelé, Carlito Lima, Socorrinho, Claiton e Cuca em um Réveillon da Fênix nos anos 60

Guilherme Palmeira, Claudionor Germano, Lelé, Carlito Lima, Socorrinho, Claiton e Cuca em um Réveillon da Fênix nos anos 60

A partir de 13 de abril de 1977 o presidente general Ernesto Geisel fechou o Congresso e baixou uma série de medidas com o objetivo de impedir o crescimento político e eleitoral da oposição.

O “Pacote de Abril” alterou as regras eleitorais para 1978, garantindo que um dos dois senadores seria escolhido pelo voto indireto em um Colégio Eleitoral composto pelos deputados estaduais e delegados das Câmaras Municipais. Eram os chamados senadores biônicos.

As medidas ditatorias estabeleceram ainda que os mandatos presidenciais passavam de cinco para seis anos, permanecendo indiretas as eleições para presidente da República, governadores dos Estados e de prefeitos dos municípios em áreas de segurança nacional. Também houve aumento da representação dos estados menos populosos no Congresso Nacional do Brasil.

Assim, em 1º de setembro de 1978, a Arena alagoana elegeu o governador Guilherme Palmeira e seu vice-governador, Teobaldo Barbosa. A vaga “biônica” do senado foi entregue a Arnon de Melo.

O outro senador, major Luiz Cavalcante, foi eleito pelo voto popular em 15 de novembro. Com ele, a Arena também elegeu sete dos nove deputados federais — entre eles, o ex-governador Divaldo Suruagy — e 21 dos 27 deputados estaduais.

Coube ainda a Guilherme Palmeira a escolha do prefeito da capital. Fernando Collor de Mello foi o indicado e assumiu em 15 de março de 1979.

O secretariado do primeiro governo de Guilherme Palmeira foi assim constituído: Viação, deputado José Bandeira; Agricultura, deputado Nelson Costa; Saúde, dr. José Bernardes Neto; Educação, dr. José Medeiros, Gabinete Civil, Cleto Marques Luz, Assistência e Trabalho, Antônio Amaral; Planejamento, Evilásio Soriano; Administração, Luiz Eustáquio Toledo; Indústria e Comércio, Lincoln Cavalcante e Fazenda, José Thomás Nonô.

José Alves, que não havia sido eleito deputado federal, foi agraciado com a Secretaria para Assuntos Extraordinários, com sede em Brasília. Foi criada para acomodá-lo a pedido do general Golbery do Couto e Silva.

O governador Geraldo Melo empossa Guilherme Palmeira como seu sucessor em 1979. Suzana Bandeira Palmeira e Thelma Melo acompanham a solenidade

Um fato que marcou a formação deste secretariado foi a desconvocação do advogado e jornalista Noaldo Dantas. Ele assumiria a Secretaria de Turismo, Esporte e Cultura, mas como era diretor do Jornal de Alagoas e permitiu a publicação de uma reportagem assinada pelo jornalista Nilton Oliveira contra o general Golbery do Couto e Silva, então chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, perdeu o emprego no jornal e deixou de assumir a secretaria de Estado oferecida a ele.

Senador Guilherme Palmeira

Em 1982, Guilherme Palmeira, já filiado ao PDS, renunciou ao governo em 15 de março para se habilitar a disputar uma vaga de senador. O seu candidato ao governo foi o então deputado federal Divaldo Suruagy.

Beneficiado pelo voto vinculado e pelo apoio do governador Theobaldo Barbosa, derrotou o candidato da oposição, José Moura Rocha (PMDB), e conquistou um mandato que se estenderia até 1989.

Guilherme Palmeira, Nelson Costa, José Sampaio, Theobaldo Barbosa, Divaldo Suruagy e Jorge Quintela

Filiado ao PFL desde 1985, voltou a se candidatar ao governo em 1986, quando Suruagy concluiu o seu mandato e foi eleito senador. Guilherme foi derrotado por Fernando Collor, mas permaneceu no Senado.

Em 1988, foi eleito prefeito da capital ao vencer Renan Calheiros. Renunciou à Prefeitura em 1990 para pleitear sua volta ao Senado. Assumiu o vice, João Sampaio, então muito ligado a Fernando Collor.

Como as eleições de 1990 aconteceram quando Fernando Collor era presidente da República, se esperava que a sua atuação em Alagoas seria decisiva e que Renan Calheiros, que contava com seu apoio, venceria a disputa do governo contra Geraldo Bulhões.

O Partido da Frente Liberal, de Guilherme e Suruagy, optou por não lançar candidato ao governo e apoiar Geraldo Bulhões do PSC. Como compensação, indicaria o vice-governador, Manoel Gomes de Barros, e o candidato ao senado, Guilherme Palmeira.

Moacir Andrade, vice-governador no exercício do cargo, tinha o compromisso de apoiar Renan Calheiros, indicando como o vice da chapa Francisco Mello (PMDB), primo de Collor. Renan preferiu atender a indicação das lideranças de Arapiraca e escolheu Severino Leão como parceiro para o mandato.

O governador Moacir Andrade não gostou e passou a apoiar Geraldo Bulhões, claro que oferecendo como vice da chapa o seu indicado Francisco Melo.

Com essa manobra, Geraldo Bulhões ganhou o respeitável apoio do governador, mas perdeu Manoel Gomes de Barros, o que provocou a desfiliação de Divaldo Suruagy do PFL.

Guilherme, como candidato a senador, continuou a receber o apoio de Suruagy, que se afastou da campanha de GB.

Collor também manteve aparente afastamento dos candidatos, mas sabe-se pelos bastidores da política que no segundo turno ajudou a Geraldo Bulhões.

Como nenhuma pesquisa indicava a vitória de Geraldo Bulhões, a sua eleição foi surpresa para muitos.

Renan Calheiros, derrotado, denunciou a vitória do adversário como fraudulenta. O TRE acatou a denúncia e anulou os resultados de 117 urnas da 1ª Zona (Maceió).

Anulou também as eleições em Girau do Ponciano, Belo Monte, Batalha, Jacaré dos Homens e Campo Alegre. Houve eleições suplementares em função desta fraude. Mas o resultado ficou inalterado.

Guilherme Palmeira foi reconduzido ao Senado com 424.480 votos, derrotando o candidato de Collor, Francisco Rocha Melo (PRN), que obteve 163.588 sufrágios.

Quase vice-presidente

Guilherme e Fernando Henrique Cardoso comemoram a formação da chapa para disputar a presidência da República em 1994

Em 1994, no dia 4 de maio, o Jornal do Brasil anunciou em manchete: “Vice de Cardoso vem de Alagoas”. Vivia-se o período pré-eleitoral da disputa pela presidência da República e Fernando Henrique Cardoso buscava um vice que garantisse a vitória da coligação PSDB-PFL-PTB.

Os “tucanos”, que buscavam votos do Nordeste, tinham vetado os nomes do deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL), da Bahia, e do senador pernambucano Marco Maciel (PFL). Guilherme foi a sétima opção oferecida pelo PFL.

No mesmo jornal, mas na edição de 4 de maio, surgiu a primeira informação dando conta que nem todo mundo aprovou o nome do alagoano na chapa de FHC.

Na página Negócios & Finanças, o diretor da Corretora Senso, Álvaro Bandeira, alertava para as indefinições sobre o plano econômico apresentado por Cardoso como ministro do presidente Itamar Franco e avaliava que “já não se acredita mais no sucesso da candidatura do ex-ministro da Fazenda Fernando Henrique Cardoso à Presidência da República”.

“A escolha do senador Guilherme Palmeira (PFL) para vice de Cardoso desagradou em cheio ao mercado”, concluiu o jornal.

Em outra coluna a rejeição a Guilherme se dava por estar associado a Collor, lembrando que foi ele o “responsável pelo lançamento de Fernando Collor na vida pública ao nomeá-lo prefeito biônico de Maceió em 1979”. Esquecia-se convenientemente que Collor era filho de Arnon de Mello, com larga trajetória na política alagoana.

No dia seguinte, a indicação de Guilherme já era responsável pela queda na Bolsa de Valores. Em seguida, foi a vez do deputado Luiz Eduardo Magalhães divulgar que havia muita insatisfação no próprio PFL com a escolha do alagoano.

No final de julho, os ataques a Guilherme se resumiam à acusação de ter sido aposentado irregularmente e a de ter aprovado emendas superfaturadas para beneficiar a Construtora Sérvia.

Quem fez a denúncia foi o ex-motorista da empresa, Otair de Oliveira, que afirmou ter repassado alguns cheques para Carlos Abrahão Gomes de Moura, assessor do senador.

Guilherme conversou longamente com o seu auxiliar e no dia 2 de agosto de 1994 anunciou que estava deixando a chapa de FHC. Sua permanência traria enormes prejuízos para a campanha do candidato tucano. Foi substituído na chapa pelo senador Marco Maciel.

Tarcísio de Jesus, Edson Lins, Nelson Costa, Humberto Melo, Geraldo Melo, Antônio Ferreira, Suruagy, Afrânio Lages, Castro Filho, Theobaldo Barbosa, Alcides Falcão, Walter Figueiredo, Guilherme Palmeira e Jorge Quintela

Carlos Abrahão Moura era funcionário do Tribunal de Contas do Estado de Alagoas e candidato a deputado estadual. Ele admitiu ter feito lobby em benefício da Sérvia e foi demitido por Guilherme.

Guilherme tentou renovar o mandato em outubro de 1998, mas foi derrotado por Heloísa Helena.

Em julho de 1999 foi nomeado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), onde permaneceu até 2008. Presidiu o TCU de agosto de 2006 a dezembro de 2008.

Voltou a Maceió e por várias ocasiões teve o seu nome lembrado como candidato ao governo do Estado.

Guilherme Palmeira morreu em casa na manhã de 4 de maio de 2020. Fazia tratamento contra um câncer há algum tempo.

6 Comments on Guilherme Palmeira e a herança liberal de Rui Palmeira

  1. Delma Conceição de lima // 5 de maio de 2020 em 05:07 //

    Belíssima história!!!!

  2. Marcos Monte // 5 de maio de 2020 em 15:16 //

    Acredito que Susana Palmeira é filha de Euclides Bandeira, não de Benício Bandeira.

  3. Ricardoarroxellascosta // 6 de maio de 2020 em 19:31 //

    Obrigado Guilherme.

  4. André Soares // 7 de maio de 2020 em 21:27 //

    Tive a honra de conhecer Guilherme.

  5. Parabéns ao Ticianeli pelos precisos registros históricos.
    Até onde sei, sem retoque.
    Rui Guerra.

  6. Tive a honra de conviver diariamente com o Min. Guilherme.

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