Jorge de Lima, doutor em poesia
Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos Palmares no dia 23 de abril de 1893 e faleceu no Rio de Janeiro em 15 de novembro de 1953. Era filho de José Matheus de Lima, um rico comerciante, e Delmina Simões. O Coronel José Matheus era mascate e perambulava pelas cidades nordestinas até encontrar em Sergipe a jovem Delmina, o que o levou a se estabelecer na antiga Imperatriz. Era filho de Alexandre da Cunha Lima e de Maria Joana de Lima. Delmina Simões era filha de Licínio Simões e de Joana Simões.
As duas primeiras filhas do jovem casal morreram ainda criança. Além de Carlota e Armandinha, outros filhos também não se criaram. A família se estabeleceu com Jorge, José, Araci, Edmundo e Hidelbrado no sobrado da Praça da Matriz.
Sua mãe gostava de leitura e seu pai era uma pessoa bem-informada politicamente, o que veio a facilitar sua educação. Povina Cavalcanti o descreve como uma criança de espírito retraído, que tomava parte nas brincadeiras, mas não esquecia a leitura e os estudos no piano de sua irmã Araci, que uma vez por semana ia a Maceió tomar lições.
Seus primeiros versos são datados de 1899 e foram guardados por sua mãe. Nesse mesmo período, fragilizado pela asma, também se aproximou da pintura.
Em 1902, seu pai expande os negócios e abre uma loja em Maceió. Esse investimento da família atendeu também a necessidade da continuidade dos estudos dos filhos na capital.
Jorge e seu irmão Matheus, no ano seguinte, concluem o estudo primário no Instituto Alagoano, que em 1904 passaria a se chamar Colégio Diocesano, após ser adquirido pelo Bispado.
O bom desempenho de Jorge de Lima nos torneios recitativos chamou a atenção do professor Irmão Agostinho, que passou a incentivá-lo oferendo livros para o jovem poeta. Assim, conheceu Jackson de Figueiredo, que mais tarde seria um filósofo consagrado, e com a ajuda dele teve contato com a literatura materialista, racionalista e evolucionista.
São seus colegas de estudos: Octávio Brandão, Pontes de Miranda, Estácio de Lima e Virgílio Maurício. Aprovado nos exames preparatórios do Lyceu Alagoano, matriculou-se, em 1909, na Faculdade de Medicina da Bahia, onde permanece até 1914, quando se transferiu para a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro. Em seguida foi aprovado em concurso para o Hospital Central do Exército e conseguiu o doutorado em Medicina.
Em 1915, Jorge de Lima já estava de volta a Alagoas, onde passou a clinicar, escrever e fazer política. Nessa época morava na atual Rua Cônego Machado. Seu consultório era na Farmácia Industrial, que ficava na Rua do Comércio.
Já era um poeta renomado. Seu primeiro livro, XIV Alexandrinos, tinha sido publicado no ano anterior e fazia muito sucesso, destacando-se seu soneto O acendedor de Lampiões.
Casa-se com Adila Alves em 1916, após passar pouco tempo em Belém do Pará. Já em Maceió, participou ativamente da campanha de salvamento de vidas humanas quando da epidemia de Influenza, a gripe espanhola que vitimou milhares de vidas em 1918/19. Ele mesmo contrai a doença.
Muda-se para novo endereço na Praça Sinimbu e vê sua clientela crescer, principalmente por não cobrar dos mais necessitados, além de fornecer os medicamentos. Essa prática chama a atenção do governador Fernandes Lima, que vê no jovem médico potencial político.
Lançado candidato a deputado estadual, conseguiu ser eleito em 1918 e novamente em 1921. Mas logo se desentendeu com o grupo governista e renunciou ao mandato alegando questões éticas.
Com um grupo de intelectuais, fundou a Academia Alagoana de Letras em 1919. Ainda doente, passa algum tempo no Rio de Janeiro e quando voltou a Maceió tornou-se sócio do Ponto Chic, empreendimento que não deu certo.
Em 1925, foi um dos fundadores da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Alagoas e, mais adiante, ingressou no Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. No ano seguinte aderiu ao movimento modernista.
No final da década de 20, lançou pela Tipografia Trigueiros o livro Poemas. Em seguida publicou Essa Nêga Fulô, provocando muitas reações e polêmicas.
Com a Revolução de 1930, Jorge de Lima recebeu do interventor Luís de França o cargo de diretor do Lyceu Alagoano. Em seguida ocupou a Direção Geral da Instrução Pública e a Direção Geral de Saúde Pública. Por esta época, Jorge de Lima abandonou o materialismo e se converteu ao cristianismo, após uma breve experiência no espiritismo.
No dia 30 de agosto de 1931, por motivos passionais, sofreu um atentado em pleno Centro de Maceió, na porta do Liceu Alagoano. O autor do disparo foi o jovem advogado Rodolfo Lins, que morreria por seu envolvimento com o célebre tiroteio do Hotel Bella Vista em 1935. O poeta recebeu o apoio e a solidariedade da sociedade alagoana, mas decidiu ir morar no Rio de Janeiro.
Na capital federal abriu um consultório na Cinelândia, que logo foi transformado também em ateliê de pintura e ponto de encontro de intelectuais. Por lá passaram Murilo Mendes, Graciliano Ramos e José Lins do Rego. Nesse período publicou aproximadamente dez livros, sendo cinco de poesia.
Devido ao seu espirito humanitário, que em Alagoas o aproximou dos pescadores e mais humildes e que no Rio de Janeiro o levou a ser popular entre os motoristas, passou a ser identificado como esquerdista e comunista.
Em 1937, ao mesmo tempo em que presidia a União dos Intelectuais do Brasil, participava ativamente da campanha presidencial de José Américo de Almeida e, em 1945, da campanha pela redemocratização, quando apoiou a candidatura do brigadeiro Eduardo Gomes.
Entre 1937 e 1945 teve sua candidatura à Academia Brasileira de Letras recusada por seis vezes. Em 1939, passou a dedicar-se também às artes plásticas, participando de algumas exposições.
Com a redemocratização, em 1945, foi eleito vereador, chegando a presidir a Câmara. Ainda na política, em 1950, incentivou a candidatura vitoriosa do jornalista Arnon de Melo ao Governo de Alagoas.
Foi aprovado como professor de Literatura Brasileira da Universidade do Distrito Federal e eleito presidente da Sociedade Carioca de Escritores, além de ser nomeado pelo MEC para o Conselho Nacional de Literatura Infantil.
Em 1952, publicou seu livro mais importante, o épico Invenção de Orfeu. Em 1953, meses antes de morrer, gravou poemas para o Arquivo da Palavra Falada da Biblioteca do Congresso de Washington, nos Estados Unidos.
Poesias
XIV Alexandrinos (1914)
O Mundo do Menino Impossível (1925)
Poemas (1927)
Novos Poemas (1929)
O acendedor de lampiões (1932)
Tempo e Eternidade (1935)
A Túnica Inconsútil (1938)
Anunciação e encontro de Mira-Celi (1943)
Poemas Negros (1947)
Livro de Sonetos (1949)
Obra Poética (1950)
Invenção de Orfeu (1952)
Romances
Os anjos da noite Bizo (1934)
Calunga (1935)
A mulher obscura (1939)
Guerra dentro do beco (1950)
Fonte principal: Pesquisa do professor Douglas Apratto Tenório para o caderno Memórias Legislativas.
Uma geração formidável.
Eu gostaria de saber mais sobre o edifício que ele residiu em Maceió, data de construção…
Muito bacana!! seu irmão José Matheos de Lima Filho era casado com a farmacêutica Theolinda Tavares de Lima, irmã de meu avô.