Trapalhadas Históricas
Por Eng. Vinícius Maia Nobre
Procuro sempre ler o que me agrada. Assuntos os mais diversos que me eduquem e mostrem lições que foram transmitidas com sabor. São sabores de história que mais me prendem. Um amigo (Ticianeli) mantem uma página sobre “História de Alagoas”. Deparei-me hoje com uma interessante versão sobre Rás Gonguila, o príncipe etíope, como era chamado a famosa figura dos carnavais de outrora.
Como se aproximam os dias dedicados ao Rei Momo, vale a pena recordar uma passagem ligando o fundador do “Clube Cavaleiro dos Montes” ao folclore político.
Em 1950, decorria a campanha política para governador de Alagoas. A fama do Gonguila era notória e valia a pena tirar partido, conquistando votos através do Rás e dos apanhadores de sururu! Theobaldo Barbosa, amigo e assessor de Arnon de Mello, teve a ideia de levá-lo ao encontro de Gonguila na sede do “Cavaleiro dos Montes” na Ponta Grossa.
“Assim no Vergel do Lago, entraram em um galpão mal iluminado e Rás Gonguila se dirigiu a eles para apresentá-los ao resto do grupo. Arnon de Mello perguntou no ouvido de Theobaldo o nome do negro alto e forte que caminhava na direção da comitiva. — Gonguila! — disse o assessor no exato momento em que “vivas” eram gritados para Arnon, o que o impediu de entender o nome da principal liderança do bairro. Boa noite, ‘seu’ Gorila, falou o candidato enquanto estendia a mão para o carnavalesco. — Gorila é a puta que o pariu, Arnon! Meu nome é Gonguila! Rás Gonguila! A gafe foi tamanha que provocou risadas, desanuviando o clima tenso. Arnon pediu desculpas, abraçou Gonguila e conversou com ele e com os catadores. Saiu de lá com os votos daquela área e foi eleito governador do Estado.”
Não sei se foi bem assim como o narrado no site, mas posso ser testemunha de uma trapalhada incrível com o então governador Arnon de Mello.
Estudava em Recife e, de quando em vez, dava uma escapada para ver meus pais. Em 1952 foi uma delas. Era um domingo e fui assistir ao jogo no Mutange (CSA) entre os selecionados de Alagoas e Paraíba.
Na época, não havia campeonato regional de futebol entre clubes e quando aconteciam jogos entre eles, eram amistosos. O campeonato de futebol era disputado em regiões. No Nordeste recaiam sempre as finais com jogo entre Pernambuco e Bahia e quase sempre a finalíssima era entre os estados da região Sul, com o jogo mais esperado de São Paulo contra o Rio de Janeiro.
Alagoas tinha como seu maior expoente o atacante Dida, o famoso craque que pontificou depois no Flamengo do Rio e terminou por ser campeão do mundo em 1958.
No selecionado da Paraíba, lembro-me bem do nome esquisito do seu goleiro. Aliás, um ótimo arqueiro, como se chamavam também os golquíperes, Harry Carey.
O gramado do Mutange era reconhecido como melhor do que o do seu maior adversário, o Regatas. A arquibancada, em degraus de madeira, com uma tosca coberta de alumínio ou mesmo telha de zinco. A “geral” era de frente para o sol da tarde. Nos intervalos, percorriam os ambulantes vendendo rolete de cana, sorvete em casquinha, cachorro quente, entre outras guloseimas.
Sentado numa cadeira de madeira da então conhecida marca “Gerdau”, encontrava-se na “Tribuna e Honra” o governador Arnon de Mello e seus poucos acompanhantes. Interessante de se observar que os torcedores se confundiam com as autoridades, numa convivência exemplar.
Estava próximo à tribuna, torcendo, quando terminou o primeiro tempo da partida com a Paraíba ganhando! Que chateação! Pensava na mangação que os amigos iriam fazer no meu retorno.
Estou absorvido com essa conjectura, quando ouço um alarido ao meu lado. O meu vizinho de arquibancada mostrava o picolé que chupava! Nele, que estava sendo degustado com tanto prazer, estava presa no palito uma pequena rã (perereca)! Patas dianteiras agarradas na parte superior e traseiras próxima ao local onde costumeiramente pegamos como apoio.
O inusitado causou daí em diante uma algazarra enorme, e foi nesse tumulto que um torcedor aconselhou a mostrar a “suicida” perereca (com certeza pulara na fôrma metálica para confecção dos picolés) para ser mostrada ao Governador! Uma comitiva se formou para ir até a presença de Arnon.
Riu-se muito e ouvi quando ele, formalmente, sugeriu que o dono do picolé fosse mostrar na Secretaria de Saúde, cujo titular era o médico Armando Lages. O comportamento de então era que a autoridade deveria adotar as providencias requeridas e até para uma banal trapalhada como aquela!
Voltam as duas seleções e passou Alagoas a dominar o jogo. Ao terminar a partida com nossa vitória por 4×3, Dida tinha demonstrado que era um craque perfeito, sendo de sua autoria todos os gols alagoanos.
Contos que nos enaltece.
Amo essas histórias da minha terra na minha mocidade fui muito ao campo do Mutange ver meu querido CSA quanta saudade daquele tempo
Eu estava lá no jogo. Vi o picolé da rã. Bonita foi a virada de 4 X 3
Vida longa ao nosso História de Alagoas!
Parabéns Ticianele.