O “Fundo da Agulha” de Luiz Lavenère

Praça Deodoro na segunda década do século XX em foto de Luiz Lavenère

Luiz Lavenère

Em 19 de julho de 1899, o Gutenberg, jornal editado em Maceió, publicou um texto do então jovem professor Luiz Wanderley Lavenère em sua coluna Questões Gramaticais que tinha o intuito esclarecer uma frase bíblica.

Era a inteligência de um poliglota alagoano contribuindo para o esclarecimento da história universal.

É muito vulgar o texto bíblico: É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino dos Céus, mas nem todos têm dado a significação exata do vocábulo, camelo, aí empregado.

Dizem uns que deve ser uma corda porque existe na tecnologia náutica um termo igual, que significa um cabo ou corda.

Sendo assim, aquelas palavras mostrariam impossibilidade absoluta da entrada do rico no reino do Céu, o que não está de acordo com a doutrina de quem as proferiu.

Estudando, porém, os costumes dos Judeus poderemos dar o verdadeiro sentido àquele texto bíblico.

A habitação de um Judeu rico compunha-se de dois andares, um térreo, muito baixo, destinado a depósito e dormitório de animais domésticos, com uma só entrada; outro superior para a residência da família.

Essa entrada do andar térreo era estreita.

Para um camelo passar por ela era preciso que estivesse descarregado e que entrasse dobrando as pernas dianteiras, como ajoelhando-se.

Aí houve o erro da tradução, por falta de termo próprio para significar a porta baixa e estreita, por onde era mais fácil passar o Camelo do que entrar o rico no Céu.

A comparação fica desse modo muito elegante e perfeita, porque, como pregou o autor daquelas palavras, o rico deveria despir-se de suas riquezas e humilhar-se para entrar no Reino Celeste, assim como o camelo era obrigado a deixar a carga e curvar-se para entrar no seu aposento.

Portanto a locução fundo de uma agulha deverá ser entendida — porta estreita e baixa.

L. Lavenère.

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