A Mulher da Capa Preta de Maceió
A história desta misteriosa mulher em Maceió não passa de uma adaptação da lenda da mulher que dançou depois de morta, presente em vários países
A lenda envolvendo alguém com capa preta não tem origem determinada e existe em várias partes do mundo.
Esse misterioso ser que se veste de preto, com seus olhos de fogo, vive para aterrorizar os cemitérios. É o Homem da Capa Preta ou, para alguns, o Exu.
Com traços humanos, teria o corpo de um homem alto e magro.
Não é do mal nem do bem e é atribuída a ele a guarda de cemitérios e portas sagradas. Suas aparições acontecem, geralmente, em cemitérios. Mas também pode aparecer em reflexos no espelho, em quartos durante a noite ou nas ruas escuras, desertas e mais afastadas.
Mas no Brasil existiu outro “Homem da Capa Preta”, que fez muita gente sentir medo, mesmo sendo ele um humano nascido em Alagoas.
Natalício Tenório Cavalcanti de Albuquerque ou Tenório Cavalcanti nasceu em Palmeira dos Índios no dia 27 de setembro de 1906 e morreu em Duque de Caxias, Rio de Janeiro, em 5 de maio de 1987.
Era advogado e jornalista, mas foi como líder popular que ganhou fama ao enfrentar seus adversários portando uma metralhadora, a quem se referia como Lurdinha, um presente do também alagoano general Góis Monteiro.
Sempre exibindo no vestuário chapéu preto e capa preta — esta última para facilitar o porte da Lurdinha — logo ficou conhecido como o “Homem da Capa Preta”.
Mas há também histórias sobre a Mulher da Capa Preta.
O registro mais antigo, encontrado por esta pesquisa, da expressão “Mulher da Capa Preta” foi no jornal Correio da Manhã de 24 de fevereiro de 1918. A notícia, de Belém no Pará, informava que por lá, além de existir um misterioso e imaginário “Homem da Capa Preta”, havia surgido também uma “Mulher da Capa Preta” no bairro de Umarizal.
A Polícia foi investigar essa aparição e descobriu que a misteriosa mulher não passava de uma ladra de galinhas fichada na polícia.
Outra mulher misteriosa foi citada pelo jornal carioca O Radical de 9 de outubro de 1937. Nele, uma nota revela que havia desaparecido uma mulher no Edifício Itabira, no Rio de Janeiro.
Ela foi descrita como “uma mulher de vestido preto e de grandes óculos escuros. Até agora ela está sendo conhecida como a “mulher da capa preta”. Quem será?”. Possivelmente a nota especulava com a vida íntima de alguma artista ou personalidade feminina do Rio de Janeiro.
Mulher que dançou depois de morta
Uma pesquisa acurada vai encontrar em vários países, e no Brasil em vários estados, a história de uma mulher misteriosa e triste, que está num baile e dança com um jovem até à meia-noite, diz que vai embora e é acompanhada pelo par até em casa, com o detalhe de que no caminho o acompanhante lhe oferece um casaco ou capa para protegê-la da chuva ou frio.
O cavalheiro volta no dia seguinte para apanhar a vestimenta e tentar namorar a moça, então descobre pelo pai ou pela mãe que ela havia morrido há algum tempo. Para confirmar a morte, vão até o cemitério e lá, para surpresa de todos, encontram sobre o seu jazigo a peça de roupa deixada com ela na noite anterior.
Como exemplo, reproduzimos a lenda que é muito popular em Porto Alegre, narrada por Bruno Caldeira (https://armazemdetexto.blogspot.com/2019/03/texto-moca-que-dancou-depois-de-morta.html).
“Conta-se que um rapaz foi a um baile, no bairro Glória, numa noite de sábado.
Lá conheceu uma moça muito bonita, mas triste… e sozinha, o que era coisa incomum, para a época. Intrigado, convidou a moça para dançar. Perguntou-lhe então a razão de tanta tristeza, mas a moça de poucas palavras, não deu nenhuma explicação plausível. Para não a incomodar mais, desistiu do interrogatório.
Dançou com ela o que deu, até que “a meia-noite” ela disse que precisaria voltar para casa. O moço, nesse momento, até pensou estar vivenciando um flerte com uma real Cinderela, pois essa também precisava sumir nesse preciso momento.
Ofuscado com sua beleza e admirado com seu comportamento, o moço decidiu acompanhá-la, até por que era muito perigoso uma moça sozinha tão tarde andar pelas ruas.
Ao saírem, o ar da noite à fez estremecer e abraçou o jovem, arrepiada. Então o rapaz, muito educado, ofereceu-lhe a capa, na qual ela se enrolou agradecida.
Os dois atravessaram o morro da Glória, onde fica o cemitério e desceram um pouco a lomba, como quem vai para o centro. Diante de uma casa a moça parou e disse:
– “Eu moro aqui.” Quis devolver então a capa, mas o rapaz não aceitou, pensando em uma desculpa para ver a moça ao meio-dia de domingo…
Ela sorriu, mas nada falou, entrando na casa.
No domingo, como havia combinado, perto do meio-dia, o moço voltou à casa, teoricamente para reaver a capa, mas na realidade esperando um convite para almoçar e, quem sabe, iniciar um romance.
Foi então recebido por um homem maduro e muito triste. Só neste momento então, o rapaz percebeu que não havia perguntado o nome da moça, na noite anterior. Daí só lhe restava perguntar:
– “O senhor é o pai da moça que mora aqui?”
– “Aqui não mora moça nenhuma”. Disse o homem triste.
– “Mora sim. Eu vim com ela ontem de um baile e entrou aqui dizendo ser sua casa. Emprestei minha capa para ela, porque estava frio e fiquei de vir buscar hoje….”
– “É engano seu, deve ter sido em outra casa…” Contestou o velho.
E, ao abrir um pouco mais a porta, o rapaz pode olhar para dentro e viu o retrato da moça na parede. Alegrou-se, apontando:
– “Olhe, lá está ela, é aquela do retrato!”
-“Aquela é minha filha, que morreu faz um ano!”
O rapaz ficou surpreso e sem saber em que acreditar. Era tão sincera sua surpresa, que o velho se ofereceu para levá-lo ao túmulo da filha, no cemitério mais acima.
Foram… e lá estava mesmo o túmulo da moça, com seu retrato e em cima do túmulo, a capa do rapaz…”
Mulher da Capa Preta de Maceió
Em Maceió, esta mesma lenda foi adaptada a partir da existência da escultura em mármore preto do manto sagrado sobre a cruz no mausoléu da Família Sampaio Marques. Uma das mudanças sofridas pela lenda foi no período, que considerou a data de falecimento inscrita no jazigo, levando a história para o início do século XX.
A narrativa é praticamente a mesma da lenda de Porto Alegre e de tantos outros lugares: uma moça e um rapaz que dançaram juntos em um baile em Maceió até a meia noite, quando ela resolveu ir embora.
Como chovia, o rapaz se prontificou a acompanhá-la até em casa, no bairro do Prado. Nas proximidades do Cemitério de N. S. da Piedade, pararam diante de uma residência e se despediram.
O acompanhante fez questão de deixar com ela sua capa de chuva com a promessa que voltaria no dia seguinte para apanhá-la.
Assim aconteceu. Na manhã seguinte lá estava o jovem batendo na porta da casa. Quem atendeu foi a mãe dela que o informou que a sua filha tinha morrido há muitos anos.
Para provar que o dito era verdadeiro, acompanhou o rapaz até o cemitério ao lado para mostrar-lhe o túmulo da filha. Para surpresa de ambos, sobre a lápide estava a capa deixada na noite anterior.
Foi assim que Carolina de Sampaio Marques (nasceu em São Miguel dos Campos no dia 21 de março de 1869 e faleceu em Maceió em 22 de novembro de 1921), filha do coronel João Correia Sampaio e esposa do seu primo dr. Manoel de Sampaio Marques (casaram-se em 1894) foi rebatizada como a “Mulher da Capa Preta”.
Manoel e Carolina foram pais adotivos de Maria Anunciada (Ahia) de Botelho Marques, que foi casada com o dr. Ezechias da Rocha, médico e senador da República; de Antônio Marinho de Gusmão; de Elza Barros de Sampaio Marques; e de Ema Marques Moraes.
O odontólogo Antônio Marinho de Gusmão casou-se com Carmem Vasconcelos Marinho de Gusmão e uma de suas filhas, a professora Heloísa Marinho de Gusmão Medeiros tornou-se escritora de renome.
O Homem da Capa Preta de Maceió
Em 1967, o Jornal de Alagoas, então editado por Rodrigues de Gouveia, tinha em sua Editoria de Polícia grandes repórteres, destacando-se o editor da página, Zito Cabral, e seu auxiliar, Jorge Oliveira, hoje um cineasta premiado após uma carreira como profissional do jornalismo igualmente laureada.
Foi esta equipe a responsável pela criação do personagem criminoso o “Homem da Capa Preta”, que permaneceu nas manchetes do Jornal de Alagoas por quase 90 dias.
Quem conta a história da origem do Homem Capa Preta é o próprio Zito Cabral em entrevista concedida ao semanário Opinião de 13 de junho de 1982.
“Era um tempo sem notícias, muito quieto, a redação numa monotonia de desesperar. Jorge Oliveira, hoje um nome de peso na imprensa nacional, era meu auxiliar na página policial do Jornal de Alagoas.
Sem manchete para a página, o Jorge coçou a cabeça e sugeriu: vamos lançar o Capa Preta!
No dia seguinte o jornal estampava que o terror dos namorados atacava vestido de capa preta na praia de Pajuçara, jurisdição do 2º Distrito, cujo delegado era o iniciante Valter Moreira.
O local foi escolhido cuidadosamente, pois a cascata não vingaria com um delegado de tarimba como Rubens Quintela e outros.
Mantivemos o Capa Preta nas manchetes por quase 90 dias; ele aparecia e voltava, dependendo da falta de assunto na redação.
No momento oportuno, Jorge e eu fabricávamos cinco a seis laudas com os lances dramáticos do marginal, ora perseguindo vigias, ora roubando ou espantando namorados de beira mar, atacando pescadores de tarrafa nas praias.
Até que, um dia, o Jorge e eu concluímos que era preciso oficializar a existência do bandido. Soubemos que um vigia fora atacado por um vagabundo qualquer, em Jaraguá, e, após localizá-lo [o vigia], o levamos a Rádio Patrulha, onde o capitão (hoje major [1982]) Nilton Rocha registrou a queixa.
O homenzinho disse que fora atacado à noite e que o agressor estava vestido de preto. Não precisa dizer que no outro dia foi manchete das boas.
Mas como tudo cansa, era preciso acabar com o Capa.
Todo mundo andava amedrontado na região do 2º Distrito quando foi preso um marginal vestido de saco de estopa. Ele havia arrombado algumas casas, em dias alternados, e ao ser visto no xadrez pelo Jorge Oliveira, este não vacilou — Este é o Capa Preta!
O delegado ficou convencido ante a palavra sem vacilação do companheiro. O preso foi fotografado sob todos os ângulos possíveis, mas havia um problema: não existia um capote ou capa preta.
Isso foi a nossa dor de cabeça, na redação, horas após, já reveladas as fotografias. Novamente o espírito imaginoso e gozador de Jorge Oliveira veio em socorro: conseguiu no arquivo uma ótima foto de um bispo (Jorge Oliveira confirmou ao História de Alagoas que a foto era de dom Adelmo Machado).
Com muita arte, Jorge cortou a cabeça do bispo e a substituiu pela cabeça do marginal. Mas havia um tremendo crucifixo no peito do religioso, que ele pintou de preto e a coisa ficou perfeita.
No dia seguinte chegava ao ápice a odisseia atribulada do incrível homem da capa preta em primeira página de jornal”.
Jorge Oliveira se refere a este período como o de um jornalismo romântico, inofensivo e até divertido.
Interessantíssimo, dá para desenvolver um bocado.
Do casamento de Manoel Sampaio
Marques com Carolina Sampaio, nasceu uma filha Aia casada com o senador Ezequias da Rocha.
Absurdo. Incriminar um inocente para dar manchete… é assim nos dias de hoje. Esses jornalistas deveriam ser punidos por mentirem descaradamente. Jornalista não e para inventar estórias e sim noticiar fatos.
Conheço a Mulher da capa preta. Gosto muito dela. Um espírito mega desenvolvido.
A esposa do meu avô trabalhou como administradora desse cemitério por vários anos,brinquei muito nesse cemitério quando eu era criança que ela me levava,perguntei a ela sobre essa história e ela disse que era tudo mentira.