Mácleim e nossos poetas

Ouça e baixe as músicas do disco "Esses Poetas" de Mácleim

Mácleim Carneiro lançou o disco Esses Poetas em 2012

Quando lançado, em 19 de setembro de 2012, o CD “Esses Poetas” recebeu merecidamente efusivos elogios da crítica musical alagoana.

Era uma ideia simples que havia se tornado realidade, como resumiu o próprio Mácleim, um artista alagoano que naquele ano entregava ao público talvez o seu trabalho mais importante, resultado do duro aprendizado nos longos e pedregosos caminhos da música.

Murici, terra natal de Mácleim

Um dos quatro filhos de Maria José Carneiro Damasceno e Clementino Verçoza Damasceno (foi prefeito de Murici), Mácleim nasceu em Murici, Alagoas, no ano de 1958 e foi batizado como Máclem Carneiro Damasceno (Ma de Maria e Clem de Clementino).

Passou a ser o Mácleim por recomendação de um numerologista, o mesmo que convenceu Jorge Ben a assinar como Jorge Ben Jor.

Criado ouvindo os sons do serviço de alto-falantes, dos cantadores da feira de Murici e, em casa, de uma radiola, surgiu para a cena musical tocando e cantando em grupos de bailes em sua terra natal.

Mas a opção pela música se deu mesmo quando já era estudante de Arquitetura na Universidade Federal de Alagoas.

Essa decisão aconteceu na noite de 3 de dezembro de 1981, quando se apresentou no palco do Teatro Deodoro na segunda eliminatória do III Festival Universitário de Música, uma realização do DCE da Ufal. Sua composição, Sem Remédio e Sem Doutor, foi uma das duas classificadas. A outra foi Legião dos Condenados de Ricardo Mota.

Baixe AQUI. Ouça aqui “Sem Remédio e sem Doutor“.

 

Em entrevista ao excelente blog Clube do Vinil, Mácleim lembrou que naquele momento avaliou que a opção pela música era a “única possibilidade de não ser tão medíocre”. Acreditava que como arquiteto ia ser “de medíocre pra baixo”.

Clementino Verçoza Damasceno, pai do Mácleim, foi prefeito de Murici

“Quando eu pisei no palco do Teatro Deodoro, foi ali que caiu a ficha. Foi aí que eu deixei a Faculdade, no último ano de Arquitetura, e fui embora. Fui morar no Rio de Janeiro. Foi no palco do Festival do DCE da Ufal, defendendo a minha música, que eu tive a noção exata que era aquilo que eu queria”, recorda Mácleim.

Antes de ir embora, participou ainda da Beira Banda da Lagoa, uma parceria com Nelson Braga, Jatiúca, Zé Barros, Carlinhos Guaraná, Marquinhos. Já sem o Mácleim, que foi para o Rio de Janeiro em 1983, esse mesmo grupo constituiu ainda as bandas Efeito Colateral e Caçoa, mas não Manga.

No Rio, começou tocando na noite, mas foi como compositor de jingles políticos que sobreviveu e deu os primeiros passos como produtor no Estúdio Master, dividindo esse trabalho com Eduardo Morelembaum e Zé da Flauta.

Estudou no Instituto Villa-Lobos e teve o privilégio de aprender produção musical no Centro Musical de Antônio Adolfo, onde apresentou como trabalho de conclusão de curso a melhor produção da turma. Foi contratado imediatamente pelo próprio Antônio Adolfo.

No teatro começou produzindo musicas infantis e trabalhando também como sonoplasta.

Foi nesse período que, durante um ensaio com Antônio Adolfo no Studio Verde, empresa do pianista Ricardo Duna (Ricardo Bomba), foi convidado por ele para gerenciá-lo.

Topou a parada e permaneceu por lá durante dois anos. “Isso foi a minha pós-graduação”, recorda Mácleim destacando que lá ensaiavam Milton Nascimento, Caetano Veloso, Barão Vermelho, Cazuza, Ed Motta, Gilberto Gil, Djavan entre outros da nata da música brasileira.

Mácleim já lançou cinco discos, todos bem recebidos pela crítica

Voltou a Maceió em 1990, mas continuou fazendo trabalhos musicais fora de Alagoas até 1996, quando gravou Panambivera em Recife e no Rio de Janeiro: “Eu gravei toda a base e metais em Recife, depois fui pra o Rio de Janeiro fazer os complementos. Nesse disco tem muita gente, tem o Jaques Morelembaum, muita gente boa tocando”.

O disco foi lançado pela gravadora francesa Bongo Records, que levou Mácleim à Europa em 1998 numa turnê de 29 shows durante 45 dias. A banda era formada por Everaldo Borges, Van Silva e Carlinhos Ezequiel.

Apresentaram-se na França, Suíça e Holanda e nos festivais Schelde Jazz Festival, Festival de Utrech, Festival BD, Montreux Meets Brienz Jazz Festival e no Montreux Jazz Festival.

No Montreux sua música “Retalhos de Azul” foi escolhida para fazer parte do primeiro CD do Montreux Jazz Festival Off, com lançamento mundial.

Mácleim ainda permaneceu por mais um ano na Europa para gravar o CD Internet Coco, que foi lançado também na França em 2001. Esse disco foi relançado no Brasil dez anos depois pela produtora Batuta, quando Mácleim readquiriu os direitos sobre ele.

Ainda em fevereiro de 2001, em Maceió, gravou seu terceiro CD, “Ao Vivo e Aos Outros”, durante uma apresentação no Teatro Jofre Soares.

Depois de “Esses Poetas”, em 2014 o jornalista Mácleim Carneiro já está ultimando seu quinto trabalho, o CD “H’acordas”.

Esses Poetas

Capa do CD “Esses Poetas”, fotografia da artista visual Flavinha Arruda, que capturou o detalhe de uma das obras pintadas por Pedro Cabral para o disco

O projeto era antigo, mas só foi concluído em 2012. Mácleim revela que musicou o primeiro poema ainda no ano de 2000 e explica que essa demora se deveu ao cuidado extremo que teve para não interferir nos poemas, que ele considera como obras acabadas.

Os 13 poetas alagoanos musicados são os seguintes: Arriete Vilela, Ledo Ivo, Jorge de Lima, José Geraldo, Edvaldo Damião, Jorge Cooper, Gonzaga Leão, Maurício Macedo, Sidney Wanderley, Diógenes Junior, Otávio Cabral, Ronaldo de Andrade e Paulo Renault.

O disco contou com as participações especiais de Leureny Barros, Clara Barreiros, Wilma Araújo, Júnior Almeida, Quarteto Pau Brasil, Fernando Melo, Chau do Pife e Cantoras do Pastoril Menino Jesus da Cambona.

Os arranjos do CD gravado no Estúdio Carioca, Rio de Janeiro, em 2007, são do próprio Mácleim e do Jiuliano Gomes.

1 – Poema nº 36

Arriete Vilela

O poema de Arriete Vilela foi publicado na página 38 do livro A Rede do Anjo, impresso pela Gráfica Gazeta de Alagoas Ltda, em 1992.

Arriete Vilela nasceu em 10 de março de 1949, na cidade de Marechal Deodoro. É mestra em Literatura Brasileira pela UFPb e professora aposentada da Universidade Federal de Alagoas. Eleita para a cadeira nº 6 da Academia Alagoana de Letras em 1996. Arriete é dona de uma vasta e premiada obra. “Nada me levou à Literatura. Não houve um encontro, pois nasci nela”.

Ficha técnica da faixa

Mácleim – Voz, Violão, Samples e Loops / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico e Piano Fender / Edson Ferro – Flugelhorn / Everaldo Borges – Sax-tenor e Flauta / José Edson – Trombone / Norberto Vinhas – Violão Aço / Tião Marcolino – Acordeon / Arranjos de base e metais – Mácleim e Jiuliano Gomes / Samples e Loops do disco Duofel Eletrônico, faixa 2.

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“Há quem goste da palavra
descascada, feito polpa.
Domesticada,
bicho manso comendo na palma da mão.

Há quem goste da palavra
despojada de atrevimentos,
acuada, atrelada ao cós,
submissa.

Há quem goste da palavra
que não se esperneia,
palavra de cabresto curto,
freio duro nos seus desdobros.

Há quem goste da palavra
sólida, pedra bruta,
milenar;
palavra recatada, cheia de escrúpulos,
real, à mão,
pronta para a fôrma.

Há quem goste”.

2 – Soneto do amor condenado

Lêdo Ivo

O soneto de Lêdo Ivo foi publicado no livro Cem Poemas de Amor na página 45, da Escrituras Editora, em 2004.

Lêdo Ivo nasceu no dia 18 de fevereiro de 1924 em Maceió e faleceu em Sevilha no dia 23 de dezembro de 2012. Em 1944 estreou na literatura com As Imaginações, poesia. Nos anos subsequentes, sua obra literária avoluma-se com a publicação de poesia, romance, conto, crônica e ensaio. Foi o quinto ocupante da cadeira nº 10 da ABL, eleito em 13 de novembro de 1986.

Ficha técnica da faixa

Mácleim – Voz, Violão, Pandeirola e Samples / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico e Teclados / Cláudio Guimarães – Guitarra / Arranjo – Mácleim e Jiuliano Gomes / Samples do Grupo Ain-Amir, faixa Mahboubi.

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“Quem ama desama
Toda vez que ama
E converte o gelo
Em túrgida chama

E converte o rogo
Da garganta rouca
Em cifra de fogo
Inscrita na cama.

Quem ama não ama
Toda vez que ama
O amor sempre fica
Na beira da cama:

Flama que não queima,
Peixe sem escamas”.

3 – Zumbi

Jorge de Lima

Extraído do livro de Jorge de Lima, Poesias Completas, na página 54. Editora Nova Fronteira, 1980.

Jorge de Lima [1893-1953] nasceu em União dos Palmares [antiga Imperatriz], perto da Serra da Barriga, onde Zumbi fundou seu quilombo. Aos dez anos passou a escrever para um jornal de seu colégio, onde publicou os poemas que fazia desde os sete anos. Seu primeiro livro foi “XIV Alexandrinos”. Os versos de Jorge de Lima figuram entre os mais importantes do modernismo brasileiro.

Ficha técnica da faixa

Mácleim – Voz, Violão e Samples / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico / Cláudio Guimarães – Guitarra / Eduardo Morelembaum – Clarinete e Clarone Baixo / David Ganc – Flautas / Everaldo Borges – Sax-tenor e Flauta / Edson Ferro – Trompete / José Edson – Trombone / China – Percussão / Ronalso Cirino – Percussão / Roberi Rei – Berimbau / Arranjos de base – Mácleim e Jiuliano Gomes / Arranjo de Madeiras – Eduardo Morelembaum / Arranjo de Metais – Jiuliano Gomes / Samples de trechos de fala de Ganga Zumba no filme Quilombo, gentilmente cedida por Cacá Diegues.

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“No meu torrão natal — Imperatriz —,
nas serras da Barriga e da Juçara,
um homem negro muito negro quis
mostrar ao mundo que tinha alma clara.

E tem o sonho que Platão sonhara: —
que um sonho nobre possui matiz.
(O sol d’Egina é o mesmo sol do Saara,
da Senegambia, de qualquer país.)

Em mil seiscentos e noventa e sete,
galgam o topo da montanha a pique,
os homens brancos de Caetano e Castro.

E o negro herói que não se curva e inflete,
faz-se em pedaços para que não fique
com os homens o seu negro rastro”.

© by Maria Thereza Alves Jorge de Lima e Lia Corrêa Lima Alves de Lima.

4 – Marinheira em Ave, Eve & Ive

José Geraldo Marques

Do livro Cactos TemporáriosItinerário Marinho, página 44, da HD Livros Editora, de 1999.

José Geraldo Marques nasceu no sertão de Alagoas, na cidade de Santana do Ipanema em 1946. As brincadeiras de criança nas ruas de Santana do Ipanema e no sítio dos avôs são elementos que também influenciaram a construção da obra do poeta. Sua poesia possui uma lírica que o torna local e universal ao mesmo tempo.

Ficha técnica da faixa

Mácleim – Voz, Violão e Samples / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico e Teclados / Cláudio Guimarães – Guitarra / Eduardo Morelembaum – Clarone Baixo / Arranjo – Mácleim e Jiuliano Gomes.

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“e é como se o azul não fosse tão sozinho e grave
e se as manhãs-gaivotas não decorassem pedras-aves
e é como se o mar não fosse tão marinheiramente nave
que abre o coração que em si mesma cabe.

E é como se a aurora fosse apenas greve
e se o verão vestisse o mais do mais da neve
e é como se o mar tivesse apenas o que nunca teve
e tudo o que pesou pesasse apenas leve

E é como se, irmã, o tudo que tiveste & tive
vivesse no que eu não vivo e que em ti vive”.

5 – Quadras

Edvaldo Damião

Poema inédito de Edvaldo Damião.

Edvaldo Damião [1956-2000] natural de Palmeira dos Índios, no agreste alagoano, o poeta era dono de um tirocínio que rendia frases certeiras e cortantes. Alguns dos seus poemas podem ser encontrados na antologia Oficina de Poesia Opus-5, editada pelo DCE-Ufal em 1986. Sempre envolto na fumaça do cigarro, faleceu precocemente e deixou uma obra ainda por ser desvendada.

Ficha técnica da faixa

Mácleim – Voz, Violão e Samples / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico e Teclados / Norberto Vinhas – Guitarra / Eduardo Morelembaum – Clarone Baixo / Arranjo – Mácleim.

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“Vou ficar assim
Rondando quadras
Mesas de bares
Procurando tua sombra
Pelas paredes das ruas.

Na bebida vejo tua figura
Que passeia pelo copo
Eu resolvi congelar sua imagem
Até me apoderar de você”.

6 – Poema vigésimo Primeiro

Jorge Cooper

Do livro Poesia Completa, página 188, Editora Cepal, 2010.

Jorge Cooper [1911-1991] nasceu em Maceió em um sobradinho na Praça do Montepio dos Artistas. O poeta era avesso a holofotes e dono de uma poesia inquieta. No prefácio ao primeiro livro editado de Cooper, O Sonho Pelo Avesso (1986), Lêdo Ivo escreveu: “Poeta da dúvida e do desviver, do desapontamento e da pertinaz interrogação de si mesmo”.

Ficha técnica da faixa

Participação Especial de Clara Barreiros. Mácleim – Voz, Violão e Samples / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico, Teclados e Timbal / Cláudio Guimarães – Guitarra / Eduardo Morelembaum – Clarinete e Clarone Baixo / David Ganc – Flautas / Everaldo Borges – Sax-tenor e Flauta / Edson Ferro – Flugelhorn / José Edson – Trombone / China – Percussão / Ronalso Cirino – Percussão / Arranjo de base – Mácleim e Jiuliano Gomes / Arranjo de Metais – Jiuliano Gomes.

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“Vejo na lua
o que o povo não vê
O povo vê São Jorge a cavalo
às voltas com o dragão

E eu vejo o seu chão
como que guardando a sombra nua
da imensa árvore seca
Da sua e da minha solidão”.

7 – Ao Meu Anjo da Guarda

Gonzaga Leão

Soneto inédito de Gonzaga Leão.

Gonzaga Leão nasceu em União dos Palmares [1929-2018] e estreou com A Rosa Acontecida (1955). O apuro técnico, o primor da forma, os seus sonetos, consagram Gonzaga Leão como um grande mestre alagoano nesta especialidade. Na poesia do poeta palmarino a coisificação personaliza o objeto com absoluta maestria e leveza.

Ficha técnica da faixa

Participação Especial de Leureny – Mácleim – Voz, Violão e Assovio / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico, Teclados e Programação de Loops / Arranjo – Mácleim e Jiuliano Gomes.

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“Não sei mesmo o que se passa
com meu anjo da guarda:
acostumou-se a deixar-me
sem deixar nenhum recado.

Só volta de madrugada,
Assas debaixo do braço,
curtindo sono e cansaço,
cheirando a puta e a cachaça.

Aí chamo esse menino,
o critico, o recrimino,
finjo que não o conheço.

Ele, então, me estende os braços,
me abraça e ao seu abraço
fecho os olhos. Adormeço”.

8 – O Canto que Vê

Maurício de Macedo

Do livro de Maurício de MacedoSíntese da Sombra”, página 80, Edufal, 1997.

Maurício Macedo é médico e nasceu em Maceió em 1954. “A poesia esteve presente ou foi responsável por todos os momentos dialéticos da minha vida. É uma questão de sobrevivência, eu escrevo e continuo vivendo”. Em outro momento ele disse: “O essencial é tirar as palavras da gaveta e deixá-las ao alcance de quem quiser”.

Ficha técnica da faixa

Mácleim – Voz, Violão e Samples / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Elétrico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico e Programação de Loops/ Everaldo Borges – Sax-tenor e Flauta / Edson Ferro – Flugelhorn / José Edson – Trombone / Tião Marcolino – Acordeon / Arranjo de base – Mácleim e Jiuliano Gomes / Arranjo de Metais – Everaldo Borges / Samples do Choral Works of Rudolf Escher, faixas 6 (Itate a Liguer Never) e 12 (A Curse).

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“O Bem-te-vi vê cantando,
A retina sonora é quem diz
que o dia nasce mais cedo,
que a manhã é feliz.

De mudez fica cego,
no silêncio esconde a luz.
Seu grito ilumina o sol
e a vida que o astro produz.

Enxerga também o poeta
através dos versos que fala.
Sua palavra ilumina,
advinha os mistérios que o sol não declara.

Quem tem os olhos na garganta
é cego quando não canta”.

9 – Quem?

Sidney Wanderley

Do livro de Sidney Wanderley “Entropia”, página 34, Edições Catavento Ltda, 2004.

Sidney Wanderley nasceu em 1958 no município de Viçosa, Alagoas. Publicou vários livros de poesia. O modernismo configura sua poesia. Sidney faz parte, em Alagoas, da geração de poetas marcadamente antiacadêmicos. No entendimento do poeta de Viçosa, essa geração “serve para dar continuidade à poesia que o grande Jorge de Lima e o grandíssimo Jorge Cooper fizeram”.

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“No lugar em que nasci corvo rareia
e abundam urubus e sabiás.
Iludido pelo canto das sereias
que, aliás, inexistem no lugar,
esqueci-me de cantar a própria aldeia
e cantei só cidades que não há.
De urnas gregas meu poema se recheia.
Mas na Hélade, quem meus versos colherá?”.

10 – Ofício

Diógenes Tenório Júnior

Poema de Diógenes Júnior publicado no livro “O Clamor das Pedras”, página 26, HD Livros Editora, 1997.

Diógenes Tenório Júnior nasceu em Murici em 3 de maio de 1970. Alagoano com formação em Direito, é autor dos livros: O Clamor das Pedras (1997) e Mar sem Porto (2003). Em seu primeiro livro o poeta Jorge Cooper prefaciou: “São muitos gritos de um só poeta, ao mesmo tempo jovem e cismado. É um início promissor, tendo ao lado uma lanterna e certas pedras”.

Ficha técnica da faixa

Participação Especial de Júnior Almeida e Quarteto Pau Brasil – Mácleim – Voz / Felix Baigon – Contrabaixo Acústico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico / Quateto Pau Brasil / Almir Medeiros – Violoncelo / Jair Pereira – Violino / Joselho Rocha – Violino / Lee – Viola / Arranjo de base – Mácleim / Arranjo de Cordas – Almir Medeiros.

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“Já não sei como grito:
Se através das palavras
Ou dos meus olhos aflitos.

Se grito com minha lavra,
Imagino que ela salva
Uma multidão de proscritos;
Mas, se com meus olhos falo,
Nada escondo, e num estalo
Alço voo ao infinito”.

11 – Caminhando Caminhante tanto passo até que Cansa

Otávio Cabral

Poema de Otávio Cabral do livro “Concerto em Dor Maior para Choro e Orquestra”, página 32, Editora Escrituras, São Paulo, 2000.

Otávio Cabral é natural do município do Pilar, Alagoas. Nasceu em 1948. Além de poeta, Otávio Cabral é ator e professor de Literatura Dramática da Universidade Federal de Alagoas. Estreou na poesia com Concerto em Dor Maior para Choro e Orquestra (2000). A intratextualidade, metalinguagem, metáforas e sonoridade, em parceria com o ritmo, são matizes da poesia de Otávio Cabral.

Ficha técnica da faixa

Participação Especial de Fernando Melo – Mácleim – Voz e violão / Fernando Melo – Violões Aço / Arranjo – Mácleim e Fernando Melo.

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“Fechou tantos calendários
Cruzou tantos campos santos
Pelos olhos tantos contos
Tanto quanto desencantos

Ao final de não sei quantos
Quantos dias quantos meses
Tantas horas tantas vezes
Tantos anos marca-meses

Tanto tempo o pai cansou
— Minha vida já é vício
Disse assim sem sacrifício
Já querendo o armistício

Sem mostrar qualquer indício
Vestindo capa de gelo
Fechou os olhos calou-se
Não fossem braços cruzados
Nem me daria por conta”.

12 – Senhora dos Prazeres

Ronaldo de Andrade

Poema inédito de Ronaldo de Andrade.

Ronaldo de Andrade nasceu em São José da Lage, em 31 de maio de 1954. Poeta, ator, autor teatral e professor da Universidade Federal de Alagoas, Ronaldo de Andrade tem também uma rica produção como letrista. É parceiro, com vasta obra, de um dos ícones da música alagoana, o cantor e compositor Carlos Moura.

Ficha técnica da faixa

Participação Especial de Chau do Pife e Cantoras do Pastoril Menino Jesus da Cambona – Mácleim – Voz e Samples / Carlos Bala – Bateria / Felix Baigon – Contrabaixo Elétrico / Jiuliano Gomes – Piano Acústico / Chau do Pife – Pífano / China – Percussão / Norberto Vinhas – Violão Aço e Guitarra / Ronalso Cirino – Percussão / Coro – Rafaela Morais, Renata Maria e Camila Valéria / Arranjo – Mácleim e Jiuliano Gomes / Samples da Banda de Pífanos de Viçosa, trecho da faixa A Briga do Cachorro com a Onça.

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“Rainha de terra e mar,
senhora do azul do céu,
iara da Mundaú,
sereia das enseadas,
mãe d’água de Maceió,
sua graça é dos Prazeres.

Ó senhora das auroras,
estrela da madrugada
que ilumina a cidade
para dançar e tocarem
bois e tambores nas ruas.
De lá da Ponta da Terra,
te rendemos homenagens.

Ó iá da prosperidade,
mãe dos homens de fé:
jangadeiros, trapicheiros,
És também a flor do amor
que adorna os terreiros
encarnados da paixão,
no Poço e no Jaraguá.

Minha mestra e contramestra,
pastorinha do presépio,
diana do pastoril
com manto, faixa e coroa;
e sete rosas na mão!
Tanta graça, tanto mimo.

Tá no badalar dos sinos
nas torres perto de Deus.
Da catedral onde moras,
ao brilho de sol e lua,
nos temporais e no estio
encantai nossos cantores,
ó Senhora dos Prazeres”.

13 – O Riso de Alice

Paulo Renault

Poema inédito de Paulo Renault.

Paulo Renault Braga Villas Boas [1958-2003], poeta, compositor, funcionário público, nasceu em Maceió. A boemia era uma das atividades que lhe davam prazer desde a adolescência. Dois livros seus foram publicados. O primeiro, A Saga do Toureiro, com 18 poemas, publicado em 1990. Quando Paulo Renault faleceu, seu segundo livro, Maceió Cidade Aberta, estava sendo produzido e foi publicado em 2004. A identidade do poeta com a cidade natal rende mais que uma ode.

Ficha técnica da faixa

Mácleim – Violão e Voz / Jiuliano Gomes – Teclados / Everaldo Borges – Sax-tenor / Olaf Keus – Bateria / Van Silva – Contrabaixo Elétrico / Wilson Miranda – Percussão / Arranjo – Mácleim e Jiuliano Gomes.

Baixe AQUI.

 

“Toma Alice,
o riso que perdeste
na rua estreita do Rosário.
Estava escondido comigo.

Toma Alice,
Guardei-o todo esse tempo,
guardei-o comigo.
Para não prenderem
junto com as prisões
do amado teu.

Penedo e risos teus
estão aqui
na minha alma.
E creia-me:
tomei conta deles
Como se fossem meus.

Não eram anéis de ouro
nem livros.
Eram sonhos de dias
melhores.
Lhe devolvo.

Com o passar do tempo
ele estará na tua alma,
como agora
me livro de mim
pra me lembrar de você”.

7 Comments on Mácleim e nossos poetas

  1. Grande Ticianeli, mil coisas eu poderia escrever aqui. Todas,sobre alegria,lisonja, honra, etc. Por isso, posso resumir, sem perder a dimensão é intenção, em gratidão, sempre! No +, MÚSICABOAEMSUAVIDA!🎶🎶🎶

  2. Bravo pela iniciativa de trazer a baila está antologia da poesia Alagoana el elevendo a no pedestal do talento musical de Macleim.

  3. Sidney Wanderley // 19 de julho de 2019 em 13:27 //

    Dá-se aqui o encontro de duas almas generosas, a quem a arte e a cultura alagoanas são imensamente devedoras: Mácleim e Ticianeli. O meu mais forte abraço para essa admirabilíssima dupla. Sidney Wanderley, mais conhecido como Zeca Pegadinha.

  4. Que maravilha ouvir e conhecer mais afinco a história desse admirável poeta e amigo Mácleim, adoro demais, admiro de montão sua obra! Parabéns pela iniciativa!

  5. André Soares // 19 de julho de 2019 em 22:39 //

    Que maravilha essa ontologia poética.
    O poema Senhora dos Prazeres do Ronaldo de Andrade é de uma beleza sem par. Na interpretação do Macleim é um show.
    Parabéns Ticianele.

  6. josé valteno dos santos // 1 de agosto de 2019 em 17:51 //

    Fantástico!!!
    De tal sorte e modo, impulsionam-se ciclos de produção da boa e necessária arte. Ciclos que se iniciam sobre fontes de arte e dão vazão infinda a outros tantos ciclos, que apontam para o infinito e nunca mais se encerram dentro e fora de nós…

  7. Vernon Garabini // 25 de novembro de 2020 em 17:57 //

    Parabéns Macleim. Muito boa as musicas e os poemas.

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