Campo de Horticultura e Silvicultura, a Granja Conceição de Bebedouro
O projeto patrocinado pelo interventor Ismar de Góis Monteiro (1º de fevereiro de 1941 a 10 de novembro de 1945) que ampliava os investimentos na agricultura alagoana esteve, desde o início, ainda em 1941, apoiado na experiência administrativa de um agrônomo paraibano.
Lauro Bezerra Montenegro era natural de Guarabira (PB), onde nasceu no dia 28 de fevereiro de 1896.
Funcionário de carreira do Ministério da Agricultura, assumiu a Secretaria de Agricultura de Pernambuco em 1935, no início do governo de Carlos de Lima Cavalcanti. No final daquela década esteve também no mesmo cargo na Paraíba.
Em agosto de 1941 foi transferido da Divisão de Material para a Divisão de Fomento da Produção Vegetal, para em seguida assumir, em 30 de setembro, a chefia em Alagoas da Secção de Fomento Agrícola do Ministério da Agricultura.
Vinculado politicamente à família Góis Monteiro, foi eleito, em 1945, deputado por Alagoas à Assembleia Nacional Constituinte na legenda do Partido Social Democrático (PSD). Em 22 de abril de 1950, faleceu em pleno exercício do mandato por problemas cardíacos.
Após celebrar acordo com o Governo do Estado e contando com a contribuição do técnico agrícola Clovis Garcez, que trouxe da Paraíba, deu início em Maceió a iniciativas tiveram importantes repercussões na agricultura alagoana.
Uma delas, o Campo de Palmáceas, que ocupava 270 hectares em Mangabeiras e tinha, em 1942, 720 mudas de coqueiro anão e uma sementeira de 50.000 cocos comuns.
A outra foi o Campo de Horticultura e Silvicultura de Bebedouro, que ficou mais conhecido como Granja Conceição, por ter se instalado no antigo Sítio Conceição a partir de 1942.
Granja Conceição
Situada abaixo do futuro bairro Chã da Jaqueira, a área utilizada pertencia ao governo do Estado. Era um alagadiço que em 1943, quando da inauguração dos primeiros melhoramentos ali instalados, Lauro Montenegro a descreveu assim: “Aqui era o charco; era o pântano; era o impenetrável. Vinha-se, olhava-se e se retrocedia sob o domínio do desânimo”.
Para tornar o terreno utilizável para a agricultura foi preciso drenar o charco existente, onde a lama chegava ao joelho dos trabalhadores, dificultando as menores tarefas. O resultado da drenagem foi um terreno cortado por vários canais, o que facilitava a irrigação.
Após algumas derrubadas de árvores e a remoção de tocos gigantescos, foram construídos os terraços na encosta e iniciadas as obras da estrutura física para o funcionamento do Campo de Horticultura e Silvicultura.
Em 19 de janeiro de 1943, o jornal A Manhã (RJ) divulgou que havia um decreto-lei estadual abrindo crédito especial de 640 mil cruzeiros “destinados à construção de residências para professores do ensino rural, escritório, laboratório, estábulos, pocilgas e outras instalações no Campo de Palmáceas da Granja Conceição nesta capital [Maceió], e do Grupo de Fruticultura de Viçosa”.
Em março deste mesmo ano, a Granja Conceição já tinha “uma horta de 2 hectares, um apiário com 80 colmeias, um pequeno serviço de fruticultura e de reflorestamento, baias, ripados, estádio em construção, 1 estábulo para 24 vacas leiteiras que serão fornecidas pela Comissão Brasileiro-Americana e ainda 5 pocilgas, uma estrumeira e um banheiro carrapaticida”.
Concluindo a notícia, o jornal A Manhã de 27 de março de 1943 informou também que “foi nessa granja modelo que o Ministério escolheu o local para a construção do maior aviário do Estado”.
Além dos investimentos na atividade fim, o governo construiu no local o Grupo Escolar Rural Alberto Torres, com capacidade para 600 alunos. Foi concluído em março de 1944.
Dois meses depois, quando a Granja Conceição já apresentava os primeiros resultados dos investimentos, chuvas fortes, caídas nos dias 17, 18 e 19 de maio, inundaram vários bairros de Maceió.
O Jornal (RJ) de 19 de maio de 1944 assim registrou o ocorrido: “Entre os numerosos estragos verificados em Maceió, em consequência das chuvas, destaca-se a destruição completa das obras agrícolas da granja Conceição, de propriedade do Estado e situada no Bairro de Bebedouro. Ali, todas as plantações de hortaliças e legumes, bem como os aviários, foram tragados pelas águas”.
Três meses depois, em 8 de agosto, quando ainda se realizavam os trabalhos de recuperação desta primeira tragédia, novas chuvas e inundações atingiram Maceió, provocando maiores prejuízos. Novamente se perderam os animais. Todas as plantações de hortaliças e legumes, além do aviário, que foi destruído.
Crise
Os primeiros problemas com a Granja Conceição ocorreram durante o governo de Silvestre Péricles (6 de março de 1947 a 31 de janeiro de 1951). Em 10 de fevereiro de 1950, o Correio da Manhã denunciou que cerca de 200 trabalhadores foram dispensados da Granja Conceição e que eles já estavam, naquela data, com 110 dias de vencimentos atrasados.
Os operários apelavam ao governo para receberem os pagamentos em atraso e tentavam anular o ato de demissão. “Declaram muitos dos operários dispensados ser péssima a situação da referida granja, quase nada havendo do até então modelar sítio experimental”, revelou o jornal.
O então encarregado da Granja, Luiz Fernandes da Silva, respondeu dizendo que somente pagaria quando o dinheiro chegasse do Fomento Agrícola.
Foi ainda no governo de Silvestre Péricles que se construiu uma estrada interligando Bebedouro ao Canaã, por dentro da Granja Conceição. Nesta obra, foram utilizados presidiários como operários.
Durante o almoço, esses trabalhadores se arranchavam sob uma frondosa jaqueira, que terminou influenciando na denominação do futuro bairro Chã da Jaqueira.
Em 26 de junho de 1951, no Diário de Pernambuco, o governador Arnon de Melo, que havia assumido em 31 de janeiro de 1951 após derrotar o candidato de Silvestre Péricles, anunciou que reorganizaria o Fomento Agrícola e que, “em caráter imediato”, cuidaria da Granja Conceição, em Bebedouro e de outras unidades ligadas ao setor.
Tudo indica que Arnon de Melo concluiu seu governo em 31 de janeiro de 1956 sem maiores investimentos na Granja Conceição. Pelo menos é o que se depreende da informação do jornalista Humberto Bastos publicada no Diário da Noite de 2 de outubro de 1956.
Anunciou que a administração do Estado de Alagoas, com Muniz Falcão à frente, entre outras medidas com impacto na economia, iria “restaurar a Granja Conceição, em Bebedouro, com conservação e limpeza dos seus edifícios, renovação do seu Aviário e Pocilga, povoamento de animais procedentes dos melhores centros de produção do país, aumento e renovação do rebanho leiteiro ali criado, desenvolvimento da Horta e produção de mudas frutíferas das espécies mais indicadas para o meio alagoano, com formação de um abacateiral em terreno do tabuleiro, sob regime de irrigação, de modo que se tenha uma indicação segura do comportamento dessa espécie frutífera em melhores condições de cultivo”.
Não se conseguiu informações sobre o desempenho da Granja durante o governo de Muniz Falcão, exceto que em novembro de 1957, o Fomento Agrícola de Alagoas começaria a vender, na Granja Conceição, galinhas ao preço de 80 cruzeiros cada. Para evitar a especulação, cada comprador somente poderia adquirir três cabeças. (O Jornal, de 6 de novembro de 1957).
A partir de 31 de janeiro de 1961, no governo de Luiz Cavalcante, o engenheiro agrônomo Olavo de Freitas Machado, assumiu a chefia da Inspetoria Regional do Fomento Agrícola de Alagoas e tratou de esclarecer que a Granja Conceição era uma “dependência do Ministério da Agricultura que funciona sob convênio com o governo do Estado…”.
Um dos investimentos da administração do “Major” foi a instalação na Granja da primeira etapa do serviço de irrigação por aspersão e gravidade, que foi inaugurada em fevereiro de 1962.
No dia 1º de fevereiro de 1964, o mesmo governador também inaugurou, na Granja Conceição, a fábrica de rações balanceadas para aves “Alavita”, e comemorou a ampliação da produção daquela instituição.
Em outubro de 1969, há o registro da inauguração, na área da Granja Conceição, do Laboratório de Águas e Solos da Fundação de Tecnologia e Pesquisa de Alagoas (FITPA). O governador era Lamenha Filho.
O diretor Isnaldo Matta, da Granja Conceição, divulgou em junho de 1974 que aquela unidade de Bebedouro era uma “entidade vinculada à Secretaria de Agricultura”. Anunciou ainda que a partir do mês seguinte teria início um programa de desenvolvimento da suinocultura, com a aquisição de 35 matrizes das raças Landrace e Duroc-jersey.
Cessão de áreas
O que já havia ocorrido em 1969, com a ocupação de um dos prédios pelo Laboratório de Águas e Solos da Fundação de Tecnologia e Pesquisa de Alagoas, continuou a acontecer com mais intensidade a partir da década de 1980, dando sinais que a atividade da Granja era muito pequena em relação ao espaço ocupado.
Isso pode ser comprovado com a notícia publicada no Diário de Pernambuco de 3 de dezembro de 1980, informando que “a Granja Colorado do Nordeste, que ganhou a concorrência com outras firmas na Secretaria de Agricultura, arrendou 10 hectares de terra ociosa na Granja Conceição, inicia a partir da próxima semana a incubação de 40 mil ovos que dentro de 21 dias, ou seja, final de dezembro distribuirá pintos de um dia para os produtores do Estado”.
As últimas atividades agrícolas da Granja Conceição registradas em jornais são de janeiro de 1982, quando a Secretaria da Agricultura anunciou que para aquele ano estava prevista a produção de “mudas frutíferas, numa área da Granja Conceição, no bairro de Bebedouro”.
Atualmente, os edifícios da antiga Granja são utilizados principalmente pela Prefeitura Municipal de Maceió. Lá estão a Superintendência Municipal de Energia e Iluminação Pública (SIMA), Secretaria Municipal de Desenvolvimento Sustentável (SEMDS) e o Regimento de Policiamento Montado (RPMon) da Polícia Militar de Alagoas.
O antigo Grupo Escolar Rural Alberto Torres é a sede de uma das Regiões Administrativas do Conselho Tutelar de Maceió.
Meu caro Ticianelli
Que beleza de trabalho você realiza nesta descrição sobre a Granja Conceição. Parabens!
Vivi momentos felizes naquela granja. Não era uma simples granja. Era um verdadeiro Parque.
Aos domingos à tarde, era minha rotina passear na granja! E mais, foi no Grupo Escolar Alberto Torres, que fiz meu curso primário.
Saudades, meu amigo, muitas saudades.
Obrigado.
Davi Rodrigues de Sena