Luiz Jardim Gomes Braga, o comendador da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos

Ônibus em Rio Largo, cidade onde residiu o comendador Luiz Jardim por duas décadas

Em 2015, a editoria do site História de Alagoas foi procurada por um senhor, morador da Bahia, que buscava informações sobre o Comendador Luiz Jardim, a quem se referia como sendo seu avô.

O objetivo do pedido de informações serviria para documentar uma solicitação de cidadania portuguesa, já se sabendo que ele era natural daquele país.

Recife antigo. Acervo do Instituto Moreira Sales

Os dados conhecidos sobre ele eram poucos. Havia se destacado como um dos acionistas e diretores da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos, em Rio Largo, e que havia falecido no dia 9 de fevereiro de 1931.

Uma rápida pesquisa nos jornais locais do período investigado encontrou somente que Luiz Jardim estava em Alagoas desde 1911 e que em 1921 era diretor técnico da Companhia da Águas de Maceió.

Ampliando-se as buscas para Pernambuco foi possível descobrir o que vinha impedindo a família encontrar seus antecedentes em Portugal: Luiz Jardim Gomes Braga não nasceu com este nome.

Comendador Luiz Jardim

Luiz Antônio Gomes Braga

Em 1º de junho de 1890, em uma pequena nota na página 6 do Jornal de Recife, foi publicado que “Luiz Antônio Gomes Braga, participa ao respeitável corpo comercial e ao público, que de ora em diante passará a assinar-se Luiz Jardim Gomes Braga. Recife, 30 de maio de 1890”.

Luiz Antônio era natural de Portugal, onde nasceu no dia 12 de abril de 1852. Sua mãe, Maria Rosa Gomes, faleceu no dia 17 de janeiro de 1915 também em Portugal. Não foi possível identificar o pai.

Dois dos seus irmãos aparecem em notícias de jornais pernambucanos: José Maria Gomes Braga, que faleceu em 1914, e José Lourenço Gomes Braga, que faleceu em 1929.

A primeira citação do seu nome em jornais ocorre no Jornal de Recife de 17 de outubro de 1879. Informava o periódico que em 14 de outubro de 1879 Luiz Antônio era procurador no Brasil de José dos Santos Natividade, que estava voltando a Portugal por motivo de moléstia.

Razão da mudança de nome

Em 12 de janeiro de 1874, o Jornal do Recife publicou que o Tribunal do Comércio de Recife havia recebido parecer fiscal do pedido de registro da firma Olinto, Jardim & C., de Joaquim Olinto Bastos, Adriano Augusto de Almeida Jordão e Henrique Leite Pereira Jardim.

Nos meses seguintes, a firma recebeu mercadorias de Portugal, revelando qual era o seu ramo de atividade: “Camisas 2 caixas a Olinto, Jardim & C.”. Chegaram também muitos tecidos da Europa, além de exportar “3 barricas com 135 kil. de farinha de mandioca” para Lisboa.

Um despacho da Junta Comercial de Recife publicado no Jornal de Recife de 14 de março de 1886 informava que a firma Olinto, Jardim & C. estava arquivando a “prorrogação de seu contrato de sociedade, da qual são sócios Joaquim Olinto Bastos e Henrique Leite Pereira Jardim, com o mesmo capital de 162:957$714 para continuação do comércio de fazendas por grosso, nesta praça. Arquive-se. Não tomou parte o Sr. Deputado Olinto”.

Como se percebe, o “Jardim” do nome da importante firma exportadora e importadora de Pernambuco era oriundo do seu sócio Henrique Leite Pereira Jardim. Mas quem era esse Jardim?

O anúncio de uma missa de 30 dias da morte do Visconde Monte São, em Portugal, revelou que este nobre português era o pai de Henrique Leite Pereira Jardim. Na nota, publicada no Jornal de Recife de 18 de maio de 1887, também se toma conhecimento que o nome do visconde era Manuel dos Santos Pereira Jardim, lente de Filosofia da Universidade de Coimbra.

Em outubro de 1890, a capacidade de investimentos de Henrique Leite Pereira Jardim havia sido ampliada, possivelmente por alguma herança do pai. Ele foi citado nos jornais como um dos membros da assembleia de acionistas da Companhia Ferro Carril de Pernambuco.

Independentemente do motivo, nesse período os sócios iniciais da Olinto, Jardim & C. não continuaram na empresa e ela sofreu alteração societária.

Comendador Luiz Jardim

Um dos vários contratos sociais, estabelecidos após a mudança, foi divulgado no Jornal do Recife de 8 de junho de 1894.

Eis a nota na íntegra: “De Joaquim Olinto Bastos, Luiz Jardim Gomes Braga, Joaquim Santino de Figueiredo, bacharel Rodolpho Alberto Silveira, João Henrique Soares Brandão, José Lourenço Gomes Braga e bacharel Arnaldo Olinto Bastos, sob a firma social Olinto, Jardim & Cia., para o comércio de grosso trato por mercadorias nacionais e estrangeiras, podendo ser ampliado a outras quaisquer operações comerciais nos armazéns à rua do Marquês de Olinda ns. 16 e 18, desta cidade, com o capital de 456:534$048, sendo a sociedade em nome coletivo”.

Em março de 1898, a firma comunicou a Junta Comercial de Recife que o “capital era de 700:000$000, sendo o fundo comanditário de 345:000$000 e sociedade em comandita”.

Outra alteração foi publicada em 12 de maio de 1900 no Pequeno Jornal, de Recife. Noticiava que entre os “Contratos arquivados” na junta comercial da capital pernambucana havia o de “Luiz Jardim Gomes Braga, Arnaldo Olinto Bastos, Rodolpho Alberto Silveira e José Lourenço Gomes Braga, sob a firma Olinto, Jardim & C. para o comércio de fazendas e outras operações comerciais, sob a firma Olinto, Jardim & C., a rua Marquês de Olinda n. 16 e 18, com o capital de 713:517$046”.

A razão provável para a mudança de nome de Luiz Antônio para Luiz Jardim pode ter surgido no início da década de 1890, quando Luiz Antônio se associou à firma Olinto, Jardim & C.

A empresa permanecia com o mesmo nome, mas sem o padrinho Henrique Leite Pereira Jardim. O investidor português deve ter optado por não mudar o nome da empresa, já muito divulgado, e sim por alterar o seu, passando a justificar o Jardim da firma.

Esse cuidado em consolidar o seu nome pode ser notado no despacho da Junta Comercial de Recife publicado no Jornal de Recife de 28 de agosto de 1892, informando que Luiz Jardim Gomes Braga estava estabelecido naquela praça e havia requerido “carta de negociante matriculado”. Era um novo registro.

Família

Fernandes Lima, presidente Washington Luiz, governador Costa Rego e Gustavo Paiva. Comendador Luiz Jardim de branco (terno, cabelo, barba e bigode). Rio Largo em 1926

No final de outubro de 1894, os jornais de Recife publicavam os “proclamas” anunciando que Luiz Jardim estava prestes a casar-se com Josepha de Oliveira Cajueiro.

Josepha Jardim de Oliveira Braga teve seis filhos: Luiz Jardim Filho (1902-1973), Isaura Jardim (casou-se em Rio Largo, Alagoas, com Nicolau Lima em 1926 e faleceu poucos anos depois), Jasmelina Jardim e Laura Jardim.

Uma das filhinhas, Irene, faleceu em 7 de novembro de 1905. Entretanto, há registro de outra filha, com o mesmo nome de Irene (Irene Jardim da Silveira Barros), que casou-se com José Luiz da Silveira Barros.

Após o casamento, foram morar na Estrada dos Aflitos, nº 32 B, em Recife.

Em 1906, seu irmão José Lourenço Gomes Braga casou-se com Júlia de Oliveira Cajueiro, irmã de sua esposa. Sua irmã mais nova, Iracema, casou-se com Pedro Pedrosa.

No início de 1895 foi publicada no Jornal de Recife (12 de maio) uma informação indicando que os negócios da Olinto, Jardim & C. iam bem. Noticiava que Luiz Jardim estava viajando para a Europa a bordo do “Nile” para “realizar compras para o estabelecimento de que é sócio”.

Informou-se no mesmo jornal que a sua volta ocorreu no dia 20 de setembro. Viajou “com sua senhora” no vapor inglês “Clyde” e esteve nos “principais mercados da Inglaterra, França e Alemanha”, onde realizou “importante compras de fazendas para a casa comercial dos srs. Olinto, Jardim & C, da qual é sócio”.

Essas informações demonstram o quanto Luiz Jardim era atento à divulgação de sua firma. Ele casou no final de 1894 e viajou, dias depois, com esposa para a Europa para “fazer compras”. Na verdade, ele estava em Lua de Mel, mas soube aproveitar a viagem para atrair clientes para seu negócio.

Uma informação divulgada no Jornal do Recife de 7 de novembro de 1906, revelou que o seu irmão José Maria havia agido incorretamente no comércio local. Foi o próprio Luiz Jardim que avisou à praça “que não se responsabiliza[va] por qualquer débito contraído, em seu nome ou no de sua firma comercial Olinto, Jardim & C. por seu irmão José Maria Gomes Braga”.

Em Alagoas

Comendador Teixeira Basto. Foto Arquivo da família

São também raros os registros da presença de Luiz Jardim em solo alagoano, onde passou a ter o seu nome precedido do tradicional “comendador”, como eram tratados os prósperos cidadãos de origem lusitana no Brasil. Não se sabe se o empresário português recebeu alguma comenda em Recife ou em Maceió.

Suas primeiras incursões como investidor se dão a partir de 1911, quando estabeleceu sociedade com o também empresário português Teixeira Basto.

O Diário de Pernambuco, em 11 de novembro de 1916, informou que a Fábrica Progresso havia sofrido um incêndio e como consequência a seguradora havia indenizado a empresa. Ao concluir a notícia, o jornal divulgou que “A Companhia Progresso Alagoano, dirigida há muitos anos pelo operoso industrial comendador José Antonio Teixeira Basto, um dos seus grandes acionistas, está hoje sob a direção dos srs. Coronel Arsênio Fortes, Luiz Jardim e dr. Jacintho Leite Filho”.

O comendador Teixeira Basto faleceu em Maceió no dia 5 de outubro de 1918, aos 61 anos de idade.

Em 1927, no Almanak Laemmert, os nomes de Luiz Jardim e Gustavo Paiva aparecem como Diretores das Companhias Cachoeira e Rio Largo. Depois é citado como “capitalista”.

O advogado e escritor Arnaldo Paiva Filho, em seu livro Rio Largo, Cidade Operária, relaciona o comendador Luiz Jardim como um dos empreendedores que contribuíram para a projeção nacional e internacional da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos.

Luiz Jardim faleceu na Rua da Amélia, 445, nos Aflitos, Recife, aos 78 anos de idade, no dia 9 de fevereiro de 1931 , às 17h. Seu corpo foi levado para Cachoeira, em Rio Largo, onde foi enterrado. Ao falecer, era o diretor técnico das fábricas da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos.

Luiz Antônio de Melo Jardim

Quem herdou sua participação nesta firma foi Luiz Jardim Filho, que chegou a Diretor Secretário da empresa.

Com a morte prematura de Gustavo Paiva em 27 de outubro de 1943, Luiz Jardim Filho foi se distanciando da Companhia Alagoana e em 1946 fundou a Produtos Alimentícios Brandim Ltda em parceria com um sócio de nome Brandão. O nome da empresa, Brandim, era formado por Bran, de Brandão, e dim, de Jardim.

A sociedade durou até 1955, quando Jardim Filho registrou uma firma de representações.

Três anos depois, em sociedade com os filhos Luiz Cândido, Lisardo e Maria Luiza Ribeiro Jardim, abriu a Casa Jardim na Rua da Alegria, no Centro de Maceió. Comercializava ferragens e materiais de construção.

Luiz Jardim Filho faleceu em 1973. As Casas Jardim atualmente são administradas por Luiz Antônio de Melo Jardim, filho de Luiz Cândido.

10 Comments on Luiz Jardim Gomes Braga, o comendador da Companhia Alagoana de Fiação e Tecidos

  1. Adilton Jardim de melo // 21 de maio de 2019 em 08:52 //

    Sou bisneto de Luiz Jardim, gostaria de parabenizar pela pesquisa e registro desses eventos, ainda mais nesses tempos de desprestígio oficial autoritário de nossas humanidades!

  2. MARIO RIBEIRO JARDIM // 22 de maio de 2019 em 10:58 //

    Sou filho de Luiz Jardim Filho, portanto neto do Comendador Luiz Jardim Gomes Braga, e tenho muito orgulho de ser descendente daquele bem sucedido empreendedor. O texto é muito interessante e trouxe informações por mim desconhecidas.
    Acho que existe algum engano sobre o falecimento prematuro da filha Irene, pois tia Irene sempre morou em Recife e foi casada com o usineiro José Luiz da Silveira Barros. É possível que a filha falecida fosse Julia de quem nunca ouvi falar.

  3. Mario Ribeiro Jardim // 22 de maio de 2019 em 11:01 //

    Cometi um equívoco ao dizer que a filha falecida seria Julia, pois deveria ter dito “Laura”.

  4. Mario Ribeiro Jardim // 22 de maio de 2019 em 11:45 //

    Uma informação: meu pai tinha uma Irmã mais nova, Iracema. Não a conheci porque morreu muito nova. Foi casada com Pedro Pedrosa.

  5. Ticianeli // 22 de maio de 2019 em 11:55 //

    Caro Mário Ribeiro Jardim, a informação da morte de Irene está nos jornais da época. Há a possibilidade de o casal ter dado o mesmo nome a outra filha. Vou pesquisar. Obrigado pelas informações.

  6. Pedro pedrosa // 3 de fevereiro de 2020 em 16:52 //

    Caros amigos ou parentes dona Irene jardim não teve nenhum filho natual mas uma filha de criação chamada Célia e criou três sobrinhos filhos legítimos de Iracema jardim irmã de Irene jardim pois Iracema jardim faleceu muito nova , sou bisneto de Pedro Ramalho de Carvalho Pedrosa, e meu nome é Pedro Manoel Mesquita Pedrosa e bisneto de Iracema jardim

  7. Lucineide Almeida // 12 de novembro de 2020 em 11:09 //

    Eu moro na Rua Comendador Luís Jardim, por isso quis saber quem era e qual a sua contribuição para a nossa cidade, estado e ou país. Fiquei feliz em saber que ele teve muitos descendentes. É uma pena não saber mais sobre a história de nossa cidade.

  8. Lins Júnior Farid // 1 de janeiro de 2021 em 12:15 //

    Caro senhor Ediberto Ticianeli, meu nome é Lins Júnior Farid e sou seu fã número 1. Atualmente, estou escrevendo sobre a História de Rio Largo e tentando instalar um Museu na Cidade, sem sucesso. Quadros, vídeos e um material extenso se encontra na minha residência, onde recebo a visitação de vários estudantes, professores… Suas pesquisas têm sido importantíssimas, pois através delas posso confirmar fatos e ficar ciente de outros. Infelizmente não tenho a ajuda do Poder Público e tudo é feito com recursos próprios. As dificuldades são imensas, mas quando me deparo com materiais tão relevantes divulgados por vossa pessoa, surge a cafa dia, uma vontade enorme de acelerar e seguir em frente cada vez mais. Muito grato por essa contribuição tão expressiva e por esse amor por Alagoas. Minhas páginas no facebook são: “Museu de Rio Largo ” e “Arquivo Rio Largo”. Que Deus te ilumine sempre. O senhor é a minha inspiração.

  9. Somos gratos por suas palavras de incentivo, Lins Júnior Farid. Essa é a grande recompensa de quem cultua a história. Conte conosco.

  10. Vanessa Castilho de Paula // 22 de outubro de 2021 em 21:42 //

    Sou bisneta de Nicolau Lima, que casou-se primeiramente com Isaura Jardim, (posteriormente com minha bisavó).

    Tenho mais de 50 postais endereçados a Mademoiselle Isaura Jardim que posteriormente ficou com o sobrenome Lima. Essa sim, Isaura faleceu perto de 1930.
    Tenho postais assinados de sua tia Júlia, e vários outros, inclusive de alguém da família “Basto”, endereçados a “residência do Comendador” citados na matéria.

    Fiquei surpresa ao ver o nome do meu bisavô (Nicolau Lima) na matéria, porque procurei por “Isaura Oliveira Braga, filha do Comendador” – que afinal eram as informações que obtive nos postais guardados há mais de um século pela minha bisavó.

    Agora gostaria de saber quem foi meu bisavô. Nicolau Tolentino de Lima, que foi casado com Isaura, e com minha bisavó, é inclusive nome de rua em Sergipe!

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