Porto de Maceió inaugurado por Vargas em 1940

Estudantes alagoanas recepcionam Getúlio Vargas no Palácio dos Martírios em 1940

São raros os registros desta passagem do presidente Getúlio Vargas por Alagoas, em pleno Estado Novo, mesmo sabendo-se que ao iniciar sua viagem pelo Norte e Nordeste a comitiva presidencial se fez acompanhar de uma equipe do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP.

Foi noticiado que no dia 30 de setembro de 1940 um avião militar decolou do Rio de Janeiro para Belém transportando redatores, fotógrafos e cinegrafistas, que acompanhariam todos os eventos em que o presidente da República tomaria parte nessa excursão por estas regiões do país.

Getúlio no Palácio dos Martírios com as irmãs Mary e Enid Peixoto, ex-miss Alagoas

Norte do Brasil

Vargas somente chegou a Belém do Pará no final da tarde do dia 5 de outubro de 1940, onde permaneceu por três dias.

Havia deixado o Rio de Janeiro às 8h30 em um avião da Panair. Estava acompanhado por seu secretário dr. Luiz Vergara, ministro João Alberto, coronéis Benjamim Vargas e Jesuíno de Albuquerque, e dos capitães Manoel dos Anjos e Flaviano Mattos Vanique.

Na manhã de 8 de outubro, Vargas deixou Belém e seguiu para Fordlândia, onde passou o dia conhecendo o projeto agroindustrial instalado em terras adquiridas pela Companhia Ford Industrial do Brasil, do empresário norte-americano Henry Ford. Esse empreendimento faliu em 1945.

A comitiva deixou Fordlândia nas primeiras horas da manhã de 9 de outubro a bordo de dois aviões, um militar e o outro um commodore da Panair. Pousaram em Manaus, no Amazonas, às 12 horas.

De Manaus, Getúlio partiu com destino a Porto Velho, Rondônia, onde chegou às 14h30 do dia 12 e ali permaneceu até o dia seguinte. No dia 13 de outubro retornou a Manaus por volta das 14 horas.

Deixou Manaus no dia 14 para pernoitar em Belém, onde ainda participou de mais duas solenidades.

Nordeste

Getúlio Vargas inaugura o Porto de Maceió

Às 7 horas do dia 15 de outubro partiu para Fortaleza, no Ceará, onde desembarcou às 13h30.

Na manhã do dia 16, às 10 horas, alterando a programação que previa sua permanência em Fortaleza, viajou em um avião do Exército para o sertão da Paraíba. Pousou em Sousa e inaugurou obras na zona de Curemas e São Gonçalo. Pernoitou em Curemas. Visitou a região do município São Francisco, onde estava sendo realizadas obras contra a seca.

No dia seguinte (17), já estava em território pernambucano e pernoitou em Jatobá, à margem do Rio São Francisco. No dia 18, sexta-feira, sobrevoou a cachoeira de Paulo Afonso.

Chegou em Recife às 16 horas do dia 18 e participou de extensa agenda de visitas, que se estendeu durante o dia 19.

Às 7 horas da manhã do dia 20, domingo, embarcou para Maceió, onde participou somente da inauguração do Porto e almoçou no Palácio dos Martírios. Pretendia chegar a Salvador às 13 horas.

Em Maceió, Vargas desembarcou às 7h55 e, após inaugurar o Porto da capital, decolou às 11h15 com destino a Bahia.

O jornal carioca A Noite, de 21 de outubro de 1940, na página 3, noticiou assim a passagem de Getúlio Vargas pela capital alagoana.

Chega a Alagoas entre entusiásticas manifestações populares

A inauguração do Porto de Maceió

Getúlio Vargas e Osman Loureiro no Palácio dos Martírios

Maceió (A.N.) – O avião que conduzia o presidente Getúlio Vargas partiu de Recife precisamente às 7,55, tendo sido a notícia recebida aqui minutos depois. Imediatamente, as ruas da cidade encheram-se de uma grande multidão que desejava prestar ao chefe do Governo todas as homenagens possíveis no breve espaço de tempo reservado para a demora nesta capital.

Delegações operárias, escolares, representações numerosas de todas as classes sociais dirigiram-se ao aeroporto, onde deveria descer o avião que conduzia o chefe do Governo e sua comitiva.

No momento em que o aparelho começou a ser visto no horizonte, vindo do Recife, as ovações populares começaram a se fazer ouvir.

Estudantes do Liceu homenageiam Vargas nos Martírios em 1940

Uma enorme multidão enchia o percurso do aeroporto ao Palácio do Governo, onde o presidente Getúlio Vargas receberia, oficialmente, as primeiras homenagens dos componentes do Governo alagoano e das suas classes conservadoras.

Desembarcando do aparelho, o presidente recebeu grande e prolongada manifestação popular. E enquanto, em companhia do interventor Osman Loureiro, se dirigia para o Palácio do Governo, ia, durante todo o percurso, vendo repetir-se a mesma demonstração popular presenciada no momento do seu desembarque.

Depois de haver recebido as apresentações de inúmeras pessoas, membros do governo estadual, da sociedade e das classes conservadoras do Estado, o presidente Getúlio Vargas dirigiu-se ao porto recém-construído, para inaugurá-lo.

Ao tomar o automóvel, o povo que se comprimia na Praça Floriano, em frente ao palácio da interventoria, rompeu os cordões de isolamento, acercando-se do carro presidencial e fazendo, ao chefe de Estado, a mais carinhosa, espontânea e entusiástica manifestação, que se repetiu sempre até o cais.

A inauguração do porto constituiu um momento de grande satisfação para o povo alagoano, que a externou em ovações ao presidente Getúlio Vargas, que satisfizera essa grande aspiração do povo e necessidade máxima do Estado.

Estudantes recebem o presidente Vargas

O navio “Inconfidência”, logo após a chegada do presidente Getúlio Vargas, movimentou-se, cheio de convidados, para realizar a atracação de inauguração. [Antes, às 14h de 3 de agosto de 1940, o Navio Escola “Almirante Saldanha”, da Marinha Brasileira, realizou a primeira experiência de atracação, com o cais ainda em obras]

Em delírio, o povo continuava a vibrar em homenagem ao chefe do governo. Realizada a atracação, o presidente Getúlio Vargas dirigiu-se a um dos armazéns em construção, seguido de sua comitiva e de incalculável massa popular. Aí foi o chefe de governo saudado pelo engenheiro Baja Gabaglia, dirigente da firma empreiteira.

Realizada a inauguração o presidente, sempre acompanhado pelos interventores Osman Loureiro e Eronides de Carvalho, regressou ao palácio do governo, onde lhe foi servido ligeiro lunch.

Logo após, recebendo novas e entusiásticas manifestações, o presidente dirigiu-se ao aeroporto, onde, às 11h15, tomou o avião que o conduziria à capital baiana.

Quando inaugurado em 20 de outubro de 1940, o porto de Maceió ainda não tinha sido concluído. Isso somente aconteceu em 31 de janeiro d0 ano seguinte, quando a construtora entregou a obra ao governo do Estado. O interventor Ismar de Góes Monteiro vistoriou a construção, mas somente assinou o termo de recebimento em 4 de março.

Em dezembro de 1941, dois guindastes foram cedidos ao porto pelo Ministério da Fazenda, entretanto, em 1943 ainda se tentava completar a aparelhagem do porto.

Uma comissão em vistoria às obras realizadas nos estados do Nordeste do Brasil pelo Ministério da Viação esteve em Maceió no dia 21 de outubro de 1947. A comitiva, liderada pelo ministro Clóvis Pestana, constatou que “o cais acostável do porto de Maceió [estava] ameaçado de ruir, necessitando por isso de urgentes obras” (Correio da Manhã – RJ, de 23 de outubro de 1947).

Professor Vavá: “Eu estava lá”

Divaldo Melo tem uma longa folha de serviços prestados à Educação e ao Ensino em Alagoas.

Mais conhecido como Professor Vavá, dirigiu o Colégio Sacramento por 20 anos, foi diretor da Faculdade de Psicologia do Cesmac por 36 anos e dirigiu a Escola Estadual Teotônio Vilela no CEAGB durante 10 anos.

Em 20 de outubro de 1940, estava hospedado com seu pai, o capelense Deoclécio Cavalcante de Melo, na casa da madrasta dele, na Rua Dias Cabral em frente ao Hospital Infantil, que ficava na esquina da futura Rua Pedro Monteiro.

O guarda-civil Ernesto, parente do seu pai, passou por lá e os convidou para verem Getúlio Vargas inaugurar o Porto de Maceió.

“Seguimos caminhando pela praia do Sobral, passamos pelo Clube Fênix e chegamos ao cais, onde tinha muita gente, homens de branco com chapéu — o traje oficial da época. Foi muito bonita a festa”, lembra Divaldo Melo, que tinha então 14 anos de idade.

Inconfidente

O navio Inconfidente foi o primeiro a atracar no cais do porto de Maceió após o fim das obras. Antes, em 3 de agosto, atracou o Navio Escola Almirante Saldanha em exercício de teste do cais

O navio Inconfidente, que fez a primeira atracação oficial ao cais do porto de Maceió, inaugurando na manhã de 20 de outubro de 1940, pertencia à Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro (Patrimônio Nacional) e possuía o melhor aparelhamento existente em um navio no Brasil.

Quando foi concluída a sua sua construção, em dezembro de 1937, no estaleiro Boele’s Scheepswerven & Maschinefabriek B. V., Bolnes, na Holanda, pertencia ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul e era o primeiro navio frigorífico dos cinco encomendados.

Em 1938 foi transferido para a Lloyd Brasileiro, Rio de Janeiro. Era comandado por Raymundo Araújo.

Toda a maquinaria destinada a distribuição de cargas era movida a eletricidade, além do frigorífico. Os guindastes elétricos suportavam até três toneladas.

O navio era impulsionado por dois motores Diesel Stork (7 cilindros), que movimentavam suas duas hélices. Suas 1.250 toneladas distribuídas em 102 metros cumprimento navegavam numa velocidade média de 12 milhas horárias.

Tinha amplos porões, com capacidade para transportar 800 metros cúbicos de carga.

O Inconfidente esteve em atividade até 1986, quando foi sucateado no Rio de Janeiro. Antes, em 1969, havia sido vendido para José Salgueiro.

1 Comentário on Porto de Maceió inaugurado por Vargas em 1940

  1. Vinícius Maia Nobre // 7 de junho de 2020 em 16:03 //

    Naquele ano estava cursando o 1º do ginásio no Colégio Batista Alagoano . Getúlio tão decantado é bom que se diga era um ditador “simpatizante” tanto do nazismo de Hitler como do farsante fascista Mussolini ! Dia 4 de setembro era comemorado o dia da raça e os colégios eram obrigados a desfilarem Meu pai anti Getúlio disse para mim e as duas irmãs , que não desfilariam . Retruquei “Mas papai nós vamos ser suspensos ! “ Vocês podem até perder de ano mas nåo vão !” Dito e feito por protesto de meu pai fomos suspensos por 30 dias por portaria do Secretário ninguém mais ninguém menos Aurélio Viana ! Tivemos que nos desdobrar para passarmos de ano ! Eram assim as festinhas do Ditador e seus apaniguamos que hoje são lembrados até como heróis !

Deixe um comentário

Seu e-mail não será publicado.


*