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Luiz Nogueira Barros, entre as letras, as artes e a medicina

Publicado em 11/08/2025 por Edberto Ticianeli

Luiz Nogueira Barros, entre as letras, as artes e a medicina

Luiz Nogueira Barros nasceu em Pão de Açúcar, Alagoas, em 2 de novembro de 1935. Era filho de um fiscal de renda, Ernesto Vicente de Barros, e de Isaura Nogueira de Barros. Em 1941, o pai foi transferido para Santana do Ipanema e toda a família foi junto. Quando deixaram Santana, em 1950, Luiz Nogueira já cursava o ginasial em uma unidade da Campanha Nacional de Educandários Gratuitos, o futuro Colégio Cenecista de Santana do Ipanema, ali implantada em 20 de julho de 1949 por iniciativa do padre Teófanes Augusto de Barros Araújo.

Em Maceió, a partir de 1950, continuou os estudos, ainda sob o patronato do Padre Teófanes, no Colégio Guido de Fontgalland, onde concluiu o curso ginasial. O colegial foi cursado no Colégio Estadual de Alagoas, o antigo Liceu Alagoano, ao mesmo tempo que servia ao Exército, no 20º BC.

Dr. Luiz Nogueira

Iniciou o curso superior em 1958, na Faculdade de Medicina de Alagfoas. Foi diplomado em 1963, após dividir os estudos com a participação nas lutas estudantis da época. Era um dos responsáveis pelo jornal O Clínico, órgão oficial do Diretório Acadêmico Prof. Sebastião da Hora, que circulou entre 1960 e 1963. Escreviam nesse jornal seus colegas Dirceu Falcão, Walter Lima, Everaldo Lemos, Roberto Jackson, Reginaldo Athayde, José C. Lima, José R. Rocha, Ivone Simon, Glauco Manso, Geraldo Alves dos Santos, Geraldo Vergetti, Francisco Reis, Antonio Pinto C. Júnior, Jayme Mello, Paulo Malta, Agatângelo Vasconcelos, Flávio Sena, Maria Salete de Castro, Gerson Ferreira e outros que se mantiveram no anonimato.

Foi no nº 13 de O Clínico, de maio/junho de 1962, que veio a público o famoso discurso do Luiz Nogueira, pronunciado na sessão de instalação da Universidade Federal de Alagoas, abordando a “Função social da Universidade” a partir dos estudos sobre a fome do médico Josué de Castro, um dos perseguidos pelo golpe militar de 1964.

Assim ele concluiu o seu discurso: “Quanto a defesa da cultura, que seria o último título, pouco resta a dizer, senão que as universidades são guardiãs da cultura contra as possíveis forças do obscurantismo. Colegas, eu os convido para conjuntamente com os nossos professores de mentalidade mais sábia, fazermos uma universidade mais humana. Colegas, eu os convido a se tornarem universitários”.

O médico Jurandir Boia, em depoimento à Comissão da Verdade dos Jornalista de Alagoas, destacou o importante papel desempenhado por Luiz Nogueira e Gerson Ferreira no movimento estudantil do início dos anos 60, principalmente no curso de medicina. Nesse mesmo período, Luiz Nogueira também escrevia sobre cinema no Jornal de Alagoas e, sobre teatro, cinema e música, no jornal comunista A Voz do Povo, dirigido por Jayme Miranda, que preferiu preservá-lo, escondendo a sua autoria sob pseudônimo.

Capa do livro A Solidão dos Espaços Políticos

médico, foi trabalhar no interior do Estado, para a Fundação SESP, prestando serviços médicos em Penedo, Traipu, Piaçabuçu, Junqueiro, São Sebastião, Arapiraca, Lagoa da Canoa. Mas em 29 de março de 1964, quando trabalhava em Junqueiro, estava em Maceió acompanhando as mobilizações para a realização de um comício em apoio as Reformas de Base do presidente João Goulart, ato que não aconteceu.

Dois dias depois do golpe, voltava para Junqueiro quando foi preso. Soube então que estava sendo processado por seu discurso, que foi assistido por um representante do ministro da Educação e pelo governador Luiz Cavalcante. Ficou preso por um mês no Estado Maior, onde estavam os que tinham curso superior.

Sabendo que seria demitido do Estado, antecipou o pedido e foi trabalhar em Arapiraca, onde permaneceu até retornar a Maceió e instalar a Clínica Infantil Santa Maria, na Praça Sinimbu.

Voltou a ter problemas com Ditadura Militar em 1973. Ajudava os amigos militantes do Partido Comunista Revolucionário – PCR, dando assistência médica a eles. “Me apareceu o Manoel Lisboa, doente, com problema renal. Eu o ajudei inclusive a sair de Maceió. Em seguida fui preso porque descobriram essa minha ajuda ao Lisboa”, esclareceu Nogueira à Comissão da Verdade dos Jornalista de Alagoas.

Além dos militantes presos e assassinados, os aliados do PCR também foram atingidos. Estiveram presos e responderam a processo: Augusto Canuto, funcionário público, a médica Hélia Mendes e Luiz Nogueira Barros. Quase todos agredidos no momento das prisões.

Depois de ser libertado e responder a inquérito militar, em 1975 Luiz Nogueira foi trabalhar em Campo Grande, no Rio de Janeiro, vinculando-se ao INAMPS, onde destacou-se como profissional e como liderança, o que o levou a ser chefe de equipe médica, diretor de clínicas e diretor de divisão médica, além de eventualmente substituir o diretor geral.

No Rio, publicou a fábula “O que se passa com o rei?“, pela Editora Shogun, e começou a escrever o livro “A solidão dos espaços os políticos“.

Após 15 anos no Rio, voltou a clinicar em Maceió e também a escrever na imprensa alagoana, mantendo no jornal A Última Palavra as colunas Poetas que não devem ser esquecidos e Reflexões pré-eleitorais, esta com análises políticas.

Casado com Órlia Cavalcante Silva Nogueira Barros, tiveram duas filhas: Valkíria Cavalcante Nogueira e Valéria Cavalcante Nogueira.

Luiz Nogueira faleceu em Maceió no dia 10 de agosto de 2025. Era secretário do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas.

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