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Joaquim Jonas Bezerra Montenegro: do Alto do Piripiripao para a glória no Pará

Publicado em 23/06/2025 por Edberto Ticianeli

Joaquim Jonas Bezerra Montenegro: do Alto do Piripiripao para a glória no Pará

Filho do tenente-coronel Manoel Januário Bezerra e de Rita Francisca Bezerra Freire, nasceu Joaquim Jonas Bezerra Montenegro em Maceió no dia 29 de março de 1843.

Seu pai, o paraibano Manoel Januário Bezerra, era agente de rendas provinciais, vinculado ao Consulado Provincial em Jaraguá e, na década de 1850, também negociava num estabelecimento da Rua do Comércio, onde vendia fitas de seda, estojos de madeira, escovas, botões e outras miudezas.

Manoel Januário morava na Rua Augusta, nº 15 e era proprietário do Sítio Piripiripao, que em 1873 se estendia da atual Praça do Centenário até a Cambona, na antiga Estrada de Bebedouro. Um largo na parte alta desse sítio foi denominado Praça Januário Bezerra. Foi ele quem iniciou a construção da Capela de Santa Rita em suas terras. Homenageava sua esposa, Rita Francisca Bezerra Freire, que faleceu antes de 1882.

Mapa de parte de Maceió em 1880

Manoel Januário faleceu em Maceió no dia 27 de maio de 1887. Tinha então 73 anos de idade e foi vítima de lesão cardíaca.

Além de Joaquim Jonas, Manoel Januário e Rita Francisca tiveram também os seguintes filhos:

1 – Manoel Januário Bezerra Montenegro. Nasceu em Maceió no dia 22 de junho de 1839 e faleceu em 21 de janeiro de 1916 em Blumenau, Santa Catarina. Tinha então 76 anos. Casou-se três vezes. Chegou a desembargador e foi presidente da província do Rio Grande do Norte, de 6 de março a 8 de março de 1878 e de 4 de outubro de 1878 a 31 de janeiro de 1879.

2 – Rita Leonila Bezerra. Nasceu em 1846.

3 – Minervina Bezerra Montenegro. Nasceu em outubro de 1847.

Herculano Cyrillo Bricio Bezerra Montenegro, irmão de Jonas Montenegro

4 – Herculano Cyrillo Bricio Bezerra Montenegro. Nasceu em 9 de julho de 1848 e faleceu em 10 de maio de 1908. Era farmacêutico formado na Bahia. Há registro de que continuou os estudos no Rio de Janeiro, cursando Medicina.

5 – Felisberto Elysio Bezerra Montenegro. Nasceu em 22 de agosto de 1849 e faleceu em 16 de fevereiro de 1927, no Rio de Janeiro. Em outubro de 1881 foi nomeado juiz de Itajahy em Santa Catarina. Em 1882 estava em Desterro, a capital, atual Florianópolis. Foi desembargador por muitos anos em Santa Catarina. Era casado com Marianna Pinto de Lemos Montenegro.

6 – Claudimira Bezerra Montenegro. Nasceu em 1852.

7 – Anna Cândida Montenegro. Nasceu em 13 de outubro de 1871.

8 – Maria Olympia Montenegro.

9 – Elvira Felinto Montenegro. Faleceu em Santa Catarina no início de fevereiro de 1882.

Joaquim Jonas Bezerra Montenegro em 1906

Joaquim Jonas Bezerra Montenegro

Não foi possível saber como foram seus estudos iniciais em Maceió, mas em 1862 já cursava o 1º ano na Faculdade de Direito de Recife, onde se diplomou no dia 21 de novembro de 1866.

Já bacharel, voltou a Maceió e em dezembro do ano seguinte era citado, pelo Jornal do Commercio do dia 8, como um dos candidatos votados no distrito de Atalaia, Alagoas. Concorria a uma vaga de deputado provincial. Obteve 489 votos, ficando em quarto lugar.

Exerceu a advocacia em Alagoas por pouco tempo. Em 18 de maio de 1870, um decreto o nomeou juiz municipal e de órfãos do termo de Ponta Grossa, Comarca de Castro, na província do Paraná. Ainda em 1870, assumiu interinamente ali, no dia 15 de outubro, a chefia de Polícia.

Envolveu-se numa disputa judicial ao acusar o ex-juiz do local, Francisco Xavier da Silva, de ter retirado folhas dos autos de um processo. Solicitou a sua prisão. Foi afastado e processado por isso.

Pediu demissão em 11 de janeiro de 1873 e dias depois, já morando na Rua das Marrecas, nº 8, no Rio de Janeiro, foi admitido no Ministério dos Negócios da Justiça como “Praticante” da secretaria do Império. Não se demorou na Corte. Por Decreto de 20 de dezembro de 1873 foi nomeado Juiz de Direito da comarca de Marajó, no Pará. Foi lá que, em maio de 1875, instalou, na vila de Chaves, uma escola noturna para o ensino primário gratuito para adultos. As aulas eram ministradas pelo professor público da vila.

Thereza Montenegro em 1906

Em Belém, provavelmente em 1873, Jonas Montenegro casou-se com a viúva Thereza de Jesus Sampaio Arantes. Ela tinha perdido o marido, Inácio da Silva Arantes, com quem teve o filho Augusto César Arantes. Inácio da Silva Arantes, que tinha 20 anos quando se casou com Thereza de Jesus Sampaio Arantes, faleceu em 11 de agosto de 1872 aos 28 anos de idade. Havia nascido em 21 de julho de 1847 e era filho do comendador Joaquim da Silva Arantes e de Margarida Ayres de Abreu Arantes.

Augusto César Arantes, que nasceu em 26 de junho de 1867 e faleceu em 31 de julho de 1915, foi criado como um filho por Jonas Montenegro. Em reconhecimento à dedicação do padrasto, passou a assinar Augusto César Montenegro. Bacharelou-se em Direito em Recife no dia 12 de novembro de 1886. Foi diplomata, deputado federal, promotor público, juiz de Direito e governador do Pará entre 1º de fevereiro de 1901 a 1º de fevereiro de 1909.

Augusto César Montenegro

Jonas Montenegro fez questão de em nada se beneficiar da vitoriosa trajetória de Augusto Montenegro. Conhecia bem a política. Em 28 de junho de 1877 havia sido nomeado pelo Ministério do Império como 8º vice-presidente da província do Pará, e, em 8 de junho de 1878, novo Decreto o colocou como 3º vice-presidente. Tinha projeção própria nesse meio.

Além de se destacar como magistrado, Jonas Montenegro também soube atuar como investidor, principalmente ao se associar à família de sua esposa. Foi assim que, em 13 de agosto de 1878, em parceria com o major Antonio José de Brito e o bacharel Joaquim José de Assis, seu cunhado, arrendou por 9 anos ao governo as fazendas Arary e São Lourenço na ilha de Marajó. O aluguel se estendeu até 13 de agosto de 1887. Essas terras, que haviam sido tomadas dos religiosos pela bula de 12 de novembro de 1787 e pela sentença apostólica de 15 de setembro de 1791, foram incorporadas aos “próprios” da Nação. Os arrendatários se obrigaram a pagar a quantia de 243:000$000. E assim foi feito.

Em Marajó, adquiriu outras fazendas no município de Chaves (Fazenda São José e Santa Maria). Passou a ser tratado pela imprensa como “abastado fazendeiro”.

Jonas Montenegro também tentou um mandato político, pretendo uma cadeira de deputado geral. Diante das dificuldades de conquistá-la no Pará, articulou com a família a sua candidatura em Alagoas. Assim anunciou o Jornal do Commercio (RJ) de 7 de julho de 1881. “Para deputado pelo 1º distrito o Dr. Jonas B. de Montenegro, caráter puro, independente e inatacável”. Em 21 de outubro o texto havia mudado: “Para deputado o Dr. Jonas de Montenegro, liberal de convicção, magistrado íntegro, caráter são e independente”. Não se sabe se foi derrotado ou se renunciou antes das eleições, mas não conseguiu a cadeira.

Em novembro de 1881 foi agraciado pelo imperador com a Comenda da Ordem da Conceição de Villa-Viçosa, em Portugal.

Voltou a ser candidato a deputado por Alagoas em 1884. Como parte de sua campanha para se reafirmar como um liberal, em agosto de 1884, ele e seu cunhado, o jornalista Joaquim José de Assis — era redator chefe da Província do Pará — libertaram 86 escravos nas suas fazendas de criação no município de Chaves.

Em uma nota emitida em 29 de outubro de 1884 e publicada n’O Orbe dois dias depois, seu pai, Manoel Januário Bezerra, fez uma “Declaração Necessária”, esclarecendo que seu filho, “o bacharel Joaquim Jonas Bezerra Montenegro continua a ser candidato a um lugar na representação nacional, pelo primeiro distrito desta província nas eleições que, para deputados gerais, devem ter cabimento no primeiro de dezembro próximo futuro”. Explicou em seguida que Jonas tinha se salvado do naufrágio do vapor Ville de Pará e que fazia o aviso para evitar boatos. O vapor Ville de Pará naufragou nas Ilhas Canárias, quando vinha da Europa para Pernambuco.

Jonas chegou, participou das eleições, mas novamente não conseguiu o mandato. Nas eleições de fevereiro de 1891, foi candidato a senador pelo Pará. Também sem êxito.

A partir de março de 1912, os jornais do Pará passam a tratá-lo como desembargador, e com essa titulação surgem registros até 1916. Estranhamente, o site do Tribunal de Justiça do Pará não o cita entre os antigos desembargadores.

No início de maio de 1920, já aposentado como desembargador do Pará, se estabeleceu no bairro de Tambiá, em João Pessoa, na Paraíba. Em 1927, já estava residindo em Maceió, onde faleceu no dia 14 de janeiro de 1932.

Coleção Montenegro do IHGAL

Coleção Montenegro do IHGAL

Jonas Montenegro também foi responsável pela doação de importante acervo ao Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas. Várias peças etnográficas, que ele havia coletado na região amazônica, foram repassadas ao Instituto a partir de 1880, compondo a valiosíssima Coleção Montenegro.

São antigas peças artesanais e cerâmicas da Ilha de Marajó, no Pará. Foram coletadas na década de 1870. Algumas foram datadas como existentes há mais de três mil anos.

Também estão no IHGAL os manuscritos de suas “Cartas a Marília Palínia”, escrita quando ele tinha 78 anos de idade.

A Biblioteca Provincial de Alagoas também foi beneficiada por ele. Recebeu em novembro de 1881 um número expressivo de livros.

Construção da Praça do Centenário em 1939

Nome de praça em Maceió

Foi numa área do sítio de Manoel Januário Bezerra, o Peperi-pau, que surgiu no final do século XIX a Praça do Januário Bezerra. Era assim denominada em 1883. Com o tempo, passou a ser Peperipau. Em alguns jornais é citada como Peperi-pedra.

No início da década de 1880, quando Manoel Januário Bezerra começou a erguer a capela de Santa Rita, em homenagem a sua esposa, Rita Francisca Bezerra Freire, o lugar foi rebatizado por alguns jornais como Praça Santa Rita.

Ficou assim conhecida até que a Lei Municipal nº 127, de 28 de setembro de 1908, resolveu homenagear Joaquim Jonas Bezerra Montenegro, o filho do antigo dono do lugar. Esse largo passou a receber as partidas de futebol do Centro Sportivo Floriano Peixoto a partir de 7 de setembro de 1916.

Jonas Montenegro permaneceu sendo homenageado na praça até o dia 9 de dezembro de 1939, quando o lugar foi denominado como Praça do Centenário. Sua urbanização foi inaugurada naquele dia em comemoração ao centenário da cidade de Maceió.

Há uma Rua Jonas Montenegro, no Bom Parto, em Maceió, mas não foi possível encontrar os registros da Lei que assim a denominou.

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