Publicado em 16/06/2025 por Edberto Ticianeli
A primeira vez que se falou em Escola Normal em Alagoas, foi em 1837, quando o presidente da Província era Rodrigo de Souza da Silva. Pretendia esse governante enviar um professor à Corte, no Rio de Janeiro, para dominar o método mais em voga e assim criar uma Escola Normal em Maceió.
Vários governantes voltaram a abordar o assunto, entretanto, apenas em 20 de junho de 1860 foi que o deputado Thomaz Espíndola tomou a primeira medida concreta para esse fim, conseguindo aprovar uma Lei que instituía a Escola Normal de Maceió, mas não conquistou a sua instalação.
Novo projeto, incluindo a reforma da instrução primária, foi apresentado por Thomaz Espíndola em 21 de maio de 1864. Identificado como de nº 36, tinha 21 artigos. Foi transformado na Resolução nº 424, de 18 de junho de 1864. Com a sanção do vice-presidente da Província, Roberto Calheiros de Mello.
Rezava o seu artigo 17 o seguinte: “O governo, logo que as forças do cofre permitam, sem sacrifício da província, estabelecerá, na Capital, uma Escola Normal de instrução primária”.
Somente foi instalada em 9 de junho de 1869. Era dirigida pelo professor Joaquim José de Araújo, que foi a Recife observar o que ali acontecia nesse segmento do ensino. Em 1869 se matricularam apenas seis alunos. Inicialmente, era somente frequentado por poucos jovens do sexo masculino.
Tinha apenas um professor e ocupava uma das salas do Liceu Alagoano, na antiga Casa da Junta, situada na esquina da Rua da Imperatriz, atual Rua do Sol, com a Praça da Matriz. O Liceu estava ali desde 1849.
Sobrado de José Pereira na Praça D. Pedro II, onde funcionou primeira Câmara Municipal de Maceió em 1816. Poucos metros depois, na esquina com a Rua do Sol, se instalou o Liceu Alagoano entre 1849 e 1873, e o Curso Normal a partir de 1869
Entre 1873 e 1878, o Liceu, acompanhado pelo Curso Normal, funcionou em uma casa térrea de propriedade de Domingos Bento da Moeda e Silva, na Rua da Imperatriz, nº 18. Depois de 1878, foi alocada na Rua do Poço, atual Rua Barão de Atalaia, onde permaneceu até fevereiro de 1879, quando se instalou no prédio do antigo Quartel de Polícia na Praça Sinimbu, local onde depois funcionou a Reitoria da Ufal.
A partir de 1875, surgiu a ideia de atrair mulheres oferecendo o curso em internato. Essa proposta somente se materializou após 1881. Em 1887, as moças já eram a maioria dos estudantes. Dez anos depois, o Curso recebia 72 alunos, raros eram os do sexo masculino. Ainda no final da década de 1880, a convivência entre as alunas do Curso Normal e os alunos do Liceu no mesmo prédio, começou a preocupar os gestores públicos da época.
Em 1882, entrou em funcionamento a Escola Prática da Praça das Princesas, atual Praça Deodoro. Era onde os professorandos praticavam o que tinha aprendido no Curso Normal. Passou a ser Escola Modelo no início da década de 1890. Nos anos 20 foi denominada como Grupo Escolar D. Pedro II. É nesse prédio que tem sede atualmente a Academia Alagoana de Letras.
A partir de 1892, o curso se estendeu para três anos. Em 1898, passou a ocupar, sempre acompanhando o Liceu, o prédio da Rua do Livramento, onde depois funcionou o Fórum de Maceió.
No início do século XX, o problema da convivência entre alunos e alunas, por causa da dependência do Liceu, levou o diretor de Instrução Pública a pedir que o Curso Normal fosse transferido para outro prédio.
Os primeiros passos para a autonomia se deram com o Decreto nº 401, de 23 de novembro de 1906., que levou o Curso Normal passou a ter nova estrutura, passando a adotar um Preparatório de 11 disciplinas — entre elas a Sociologia —; um Curso Pedagógico com duas disciplinas; e uma Escola Infantil, para estágio das novas professoras. Seus professores eram emprestados do curso de Ciências e Letras.
Definia ainda que Estado era responsável pelo ensino primário, secundário e normal, este passando a quatro anos.
Também nos primeiros anos dos 1900 surgiu quem defendesse o ensino primário ministrado exclusivamente por mulheres. Os irmão Euclides e Paulo Malta deixaram isso explícito em seus relatórios.
Enquanto isso, diminuía vertiginosamente o número das alunas matriculadas, que passaram a ser as únicas a frequentarem o Curso em 1908. Em 1910, apenas 44 frequentavam as aulas, mesmo com várias conclamações às mulheres sendo pulicadas nos jornais. Parte da falta de interesse se dava pelo alto nível de indisciplina dos alunos do Liceu, que promoviam diariamente brigas entre eles.
Concluintes do Curso Normal em 1933 visitam o paraninfo, interventor Capitão Affonso de Carvalho, no Palácio dos Martírios
Com o Decreto nº 601, de 11 de novembro de 1912, no governo de Clodoaldo da Fonseca, o Curso Normal passou a ser a Escola Normal do Estado de Alagoas, com Estatutos e direito a sede própria. A elaboração dos Estatutos contou com a contribuição do professor paulista dr. Luiz de Toledo Pizza Sobrinho, assessorado pelos alagoanos Manoel Balthazar Pereira Diegues Junior e Alfredo Araújo Rego.
No ano seguinte, provavelmente no dia 7 de abril, a Escola Normal deixou o prédio do Liceu, na Rua do Livramento, e passou a ocupar o antigo Colégio Benjamin Constant, na Rua 15 de Novembro, atual Rua do Sol, nº 624. Esse prédio recebeu, anos depois, o Grupo Escolar Fernandes Lima. Estas dependências também eram ocupadas pela Diretoria Geral da Instrução Pública.
A desanexação do Liceu foi oficializada, pelo governador Clodoaldo da Fonseca, dias depois, em 15 de abril.
Grupo Escolar Fernandes Lima na Rua João Pessoa, para onde foi a Escola Normal a partir de abril de 1913
Ainda em 1913, no dia 16 de setembro o governador lançou a pedra fundamental da futura sede da Escola Normal e da Escola Modelo, num terreno próximo à Praça do Montepio. A obra teve início e os alicerces construídos, mas não demorou a ser paralisada, por falta de recursos. Esse terreno foi doado e utilizado, em 1935, para construção da sede da Faculdade de Direito de Alagoas.
Em abril de 1924, o governo dava sinais que havia desistido da obra ao adquirir o prédio do antigo Colégio Benjamin Constant, na Rua 15 de Novembro, para transformá-lo numa moderna sede para a Escola Normal, com espaço para a Escola de Aplicação. Nada foi feito até 1930, quando o governador Álvaro Paes fez ali pequenos reparos e construiu uma cabine pra projeções cinematográficas. Foi ele que comprou a casa vizinha, de nº 530, para ampliar a Escola.
Com a aprovação do Regulamento de 19 de setembro de 1925, no governo de Costa Rego, ficou instituída a Escola de Aplicação, para a Escola Normal, e o corpo discente foi ampliado para 16, além dos lentes em Trabalhos Manuais. Não havia mais o catedrático, todos substituídos pelos professores contratados.
Costa Rego também enfrentou o problema das aprovações em massa, endurecendo os exames e contrariando a “tolerância com que os professores agiam no assunto”. O resultado dessa mudança se fez ver em 1927, com as matrículas caindo de 160 alunas para 72.
Com a Revolução de 1930, tomou posse em Alagoas o interventor Hermilo de Freitas Melro, que logo baixou o Decreto nº 1.142, em 20 de dezembro de 1930, reorganizando a Escola Normal. Estendia o curso para cinco anos e acrescentava a disciplina Psicologia. As aulas passaram a ser entre 1º de março e 30 de outubro.
Quem já tivesse aprovação nos Preparatórios para curso superior, ingressavam na Escola Normal para mais um ano de estudos, cumprindo as disciplinas das cadeiras de pedagogia, psicologia, didática e educação física. Saíam como alunos-mestres.
Entre os professores, predominou o descontentamento e verdadeira campanha contrária ao Decreto nº 1.142 foi lançada pelos jornais.
Os catedráticos voltam a existir por força do Decreto nº 1.623, de 10 de março de 1932, que estabeleceu novo regulamento para a Escola Normal. Entretanto, o seu diretor continuava sendo o mesmo do Liceu Alagoano. Isso somente foi resolvido em 17 de fevereiro de 1933, com o Decreto nº 1.731. Foi ele que desconectou a Escola Normal do Liceu.
Em meados da década de 1930, a pressão sobre os governantes para a construção de uma nova sede para a Escola Normal se dava pela constatação do crescente número dos seus alunos. O número dos matriculados era cada ano maior: 1930, 61 alunos; 1931, 100; 1932, 181; 1933, 270; 1934, 371; 1935, 445; 1936, 628.
Em meados de 1936, o interventor Osman Loureiro autorizou a inscrição de projetos para a nova Escola Normal, que ocuparia a Praça São Benedito e a área ao lado, do antigo Mercado, em frente à Igreja de São Benedito, no Centro de Maceió.
No dia 12 de agosto de 1936, a comissão encarregada do julgamento dos projetos se reuniu e verificou que somente havia sido apresentado um projeto, do Escritório Técnico do dr. Raja Gabaglia, representado pelo engenheiro Antonio Orlando Marques de Oliveira.
Diante dessa constatação, a comissão resolveu prorrogar por mais oito dias o prazo para apresentação de propostas.
Voltou a se reunir no dia 24 de agosto, contando então com dois projetos para serem analisados: um do Escritório Técnico do dr. Raja Gabaglia e outro do engenheiro Aloysio Freitas Melro. A comissão escolheu, por unanimidade, a proposta do dr. Raja Gabaglia.
No Jornal do Commercio (RJ) de 16 de dezembro, a Coluna Revista dos Estados informa pelo correspondente em Alagoas que “o dr. Aloysio de Freitas Melro, autor da planta do novo prédio da Escola Normal de Maceió, a qual o Club de Engenharia do Recife conferiu o 1º lugar, prestou à imprensa as seguintes informações:
“No prédio do meu projeto, apesar de conter dois pavimentos, as sombras projetadas sobre os espaços livres em nada prejudicarão os requisitos de higiene, não só pela disposição fundamental do edifício, em forma de “E”, como porque, ao centro e em todos os lados, ficam áreas suficientemente amplas.
No pavimento térreo estão localizados nove salões de classe, três salas para cursos especializados, dois halls laterais, um hall central, uma portaria, um gabinete do diretor da Escola, uma sala para a secretaria, uma sala para o arquivo, uma sala para a Biblioteca e outra para leitura, um amplo salão para os professores, 21 WC e 15 lavatórios.
Ao lado esquerdo do prédio ficam o auditório e sala de Congregação, com comunicação externa e interna. Existem cinco escadas, que dão acesso ao 1º andar. Neste pavimento superior se encontram dez salões de classe, uma sala para cursos especializados, dois halls laterais, um gabinete médico com antessala, um gabinete dentário com antessala, 21 WC e 15 lavatórios, ficando reservado também espaço para o funcionamento da Diretoria de Instrução Pública, cujos serviços ocuparão cinco salas”.
Como se percebe, entre 24 de agosto e dezembro de 1936 houve uma reviravolta e o projeto do engenheiro Aloysio Freitas Melro passou a ser o adotado.
Escola Modelo do Instituto de Educação em construção no ano de 1937. Ocupava a área do antigo Mercado
Em 7 de outubro de 1937 foi inaugurada a ala do edifício destinada à Escola Modelo (de Aplicação), na área do antigo Mercado.
As propostas das construtoras para a outra ala, destinada à Escola Normal, foram avaliadas, no dia 23 de novembro de 1937 por uma comissão designada pelo interventor Osman Loureiro. Aloysio Freitas Melro foi novamente o escolhido, como publicou o Diário da Manhã (PE) de 27 de julho de 1938. A construção teve início ainda em 1937.
O Jornal de Alagoas, de 31 de maio de 1938, assim divulgou a nova construção: “Obra de grande vulto, compreendendo quase todo um quarteirão de admiráveis linhas modernas, com piso de concreto e esquadrias metálicas, tem capacidade para cerca de 2.500 alunos, com anfiteatro para Física e Química, gabinete de desenho e história natural, museu, biblioteca e auditório”. Sua inauguração se deu em 1º de agosto de 1938.
Em meados de novembro de 1937, poucos dias antes da definição de quem construiria a segunda ala, Osman Loureiro criou (Decreto nº 2.298 de 18 de novembro de 1937) o Instituto de Educação, cumprindo orientações da Reforma Francisco Campos, que buscava organizar a educação com abrangência nacional, permitindo a equivalência, com a transferência de alunos para outros estados sem prejuízos. Da mesma forma, os professores podiam exercer sua docência em qualquer lugar do país. Seguiam como modelo o Instituto de Educação do Rio de Janeiro, criado em 1932.
Em Alagoas, o Instituto de Educação era o resultado da fusão da Escola Normal com a Escola Modelo, que lhe era anexa. O seu objetivo continuava sendo o de preparar professores pré-primários e técnicos em educação. O Instituto era, inicialmente, formado pela Escola Secundária, Escola de Professores e Escola de Aperfeiçoamento. O secretário do Interior, Educação e Saúde era José Maria Correia das Neves.
Com as obras do Instituto de Educação concluídas, o seu gigantismo chamava a atenção dos alagoanos e o local também passou a ser frequentado por autoridades que visitavam Alagoas. Há registros de que até o presidente Getúlio Vargas se surpreendeu com a construção ao ver as fotografias.
Para se ter uma ideia dos grandes espaços, o seu auditório tinha 400 lugares e recebia projeções cinematográficas. O palco era utilizado para conferências e apresentações artísticas.
O Instituto de Educação, em sua nova sede, também trouxe ventos libertários para as suas alunas, tradicionalmente submetidas às rigorosas normas disciplinares. Um matutino alagoano, em 25 de março de 1941, publicou que o diretor do Instituto havia solicitado providências ao Juiz de Menores para impedir que as alunas fugissem das aulas para frequentarem as matinês de cinema. O mesmo diretor também tentava impedir os excessos nas maquiagens e a não utilização de meias pelas alunas fardadas.
O juiz de menores, Augusto Balthar, acatou a solicitação e baixou portaria proibindo o acesso aos cinemas, nos dias úteis, com farda escolar.
Em maio de 1942, logo após mais uma reforma do ensino secundário, houve a separação dos alunos por sexo e o Liceu Alagoano transferiu aproximadamente 90 alunas para o Instituto de Educação. Continuaram no Liceu somente as alunas do 5º ano, por ser este o último ano delas.
Alunas do 3º ano ginasial do Instituto de Educação durante o desfile de comemoração da Emancipação Política de Alagoas em 16 de setembro de 1954
Por vários anos, o Instituto de Educação cumpriu seu papel, preparando milhares de professoras para o ensino em Alagoas, mas a partir de 1954, sua permanência na majestosa sede da Rua Barão de Alagoas ficou ameaçada.
O então governador Arnon de Mello, com recurso do Governo Federal, iniciou a construção do Centro Educacional de Maceió, no Farol, um projeto idealizado sob a orientação do educador Anísio Teixeira. A pedra fundamental foi colocada no dia 6 de março de 1954. Seria uma espécie de campus universitário, mas ocupado por várias escolas e colégios.
Em 29 de janeiro de 1956, Arnon de Mello, que encerrava seu governo no dia 31, antecipou a inauguração do ainda em construção Centro Educacional, futuro CEPA, entregando, às 16h, o primeiro bloco, onde funcionaria o Instituto de Educação e um Jardim de Infância. Essa obra se arrastou pelo o governo de Muniz Falcão e continuou durante a gestão de Luiz Cavalcante.
O Instituto de Educação foi para o Centro Educacional em 1958, no mesmo ano em que o Colégio Estadual de Alagoas ocupou o seu prédio da Rua Barão de Alagoas.
Instituto de Educação no Cepa, antes de ser rebatizado como Escola Estadual José Correia da Silva Titara
No Centro Educacional, anos depois, passou se chamar Escola Estadual José Correia da Silva Titara e funcionou normalmente até 2018, quando não mais ofereceu matrícula para novos alunos. Em 2020, foi transferida para a Massagueira, em Marechal Deodoro.
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