Famílias na política alagoana do século XX – (7) Magalhães da Silveira

A família Magalhães das Silveira morou na Rua Boa Vista em Maceió por muitos anos. Foto de Luiz Lavenère

Os Magalhães da Silveira que tiveram participação na política em Alagoas são todos descendentes do casal pernambucano Luís José da Silveira e Henriqueta Francisca de Souza Magalhães da Silveira. A mais antiga informação sobre Luís José da Silveira é de 1859, quando o Diário Eclesiástico de Pernambuco publicou a relação dos proprietários dos “Armazéns de Recolher” do Cais de Ramos.

Rua dos Judeus em Recife no ano de 1855

Em maio de 1860, seu nome surge novamente nos jornais, agora envolvido com uma taberna. O Diário de Pernambuco de 21 de maio de 1860 publica uma nota em que o cidadão Lino Antônio Saraiva informa ter comprado uma “taberna sita no lugar Campo Verde desta cidade [Recife], de propriedade de Luiz José da Silveira”.

Dois dias depois, no mesmo jornal, foi publicado o seguinte aviso: “O Sr. Luiz José da Silveira não pode vender sua taberna sita no Campo Verde, sem pagar o que deve a Manoel Joaquim de Oliveira & Cia, de gêneros que lhes comprou para a mesma taberna”.

Os sinais de que Luiz José da Silveira não andava bem das economias voltam a aparecer nos jornais de Recife dos anos seguintes, a exemplo da nota publicada no Diário de Pernambuco de 23 de agosto de 1861, convidando os cidadãos cujos nomes estavam listados a comparecerem a uma “loja de calçados da rua Imperatriz n. 16 à tratarem de negócios de seus interesses”.

Em julho de 1865, seu nome é um dos relacionados logo abaixo do seguinte aviso: “Na rua do Imperador n. 83, segundo andar, precisa-se falar com os seguintes senhores, para negócio que lhes diz respeito”.

A pior informação envolvendo seu nome surgiu em 9 de fevereiro de 1871, quando o Diário de Pernambuco publicou a notícia das prisões de Antônio Feitosa de Mello, José Ferreira da Silva Chaves, Luiz José da Silveira e Luiz Antônio da Silveira Távora, acusados de imprimirem dinheiro falso.

Segundo o jornal, foram apreendidos, “na casa do primeiro uma prensa litográfica, pedras, tintas e mais utensílios para litografar; na casa do segundo, uma pedra litográfica e uma folha de papel de impressão; na casa do terceiro uma pedra pequena com uma nota de 20$000 do Banco do Brasil, perfeitamente aberta, faltando apenas o emblema do alto; e na do quarto, nada”.

Detidos, foram interrogados e indiciados, depois recolhidos incomunicáveis à casa de detenção.  Após o processo, foram condenados em audiência realizada no dia 5 de dezembro de 1872.

Casas utilizadas pelos presos em Fernando de Noronha

O Jornal do Recife de 1º de dezembro de 1879 transcreve a seguinte notícia do jornal Itatiaya: “Não foi agraciado, como requerera, o réu Luiz José da Silveira, condenado à pena de 10 anos e 8 meses de galés [trabalho forçado] para a ilha de Fernando de Noronha, e multa correspondente à metade do tempo, por sentença do juiz de direito da capital da província de Pernambuco, por crime de tentativa de fabrico de moeda falsa, cometido em 1871”.

Condenado, Luiz José da Silveira tentou várias vezes obter a diminuição da pena. Isso somente ocorreu em 15 de abril de 1881, como revelou o Diário de Pernambuco de 27 de abril daquele ano ao informar que o imperador, por decreto, havia perdoado e comutado as penas impostas a vários réus. Entre eles está Luiz José da Silveira, que teve a pena “comutada em prisão simples”.

Na ilha de Fernando de Noronha, o condenado residia em uma casa com parte da família e recebia visitas como mostra o Diário de Pernambuco de 6 de agosto de 1881, publicando a autorização do governo à Companhia Pernambucana concedendo a “Clemente Magalhães da Silveira, permissão de seguir para o Presídio de Fernando, visto ser filho do sentenciado Luiz José da Silveira, pagando o importe de sua passagem”.

Outra visita foi realizada em maio de 1882, quando Antônio Gonçalves Penna foi autorizado a ir a Fernando de Noronha “a fim de casar-se com Veridiana Magalhães da Silveira, filha do sentenciado Luiz José da Silveira”. (Diário de Pernambuco de 30 de abril de 1882).

No dia 14 de agosto de 1882, já em liberdade, esteve em Fernando de Noronha para cuidar “da liquidação de uns negócios seus”, voltando a Recife “com toda sua família” no mês seguinte. Tinha criado na ilha dois cavalos e quatro cabras, tendo direito ainda a algumas “sacas de milho e feijão”.

O registro de passageiros do vapor Jaguaribe anota que em 22 de setembro de 1882 vieram de Fernando de Noronha, entre outros, “Luiz José da Silveira, sua mulher e 8 filhos”.

Nos anos seguintes os jornais registram uma intensa movimentação, por navio, de mercadorias e dinheiro entre Luiz José da Silveira e Fernando de Noronha, indicando que manteve algum tipo de negócio com a população ou instituição daquela ilha pernambucana.

Mudança para Alagoas

Um despacho da Junta Comercial de Recife, datado de 9 de abril de 1885 e publicado no Diário de Pernambuco de 19 de abril, revela que o patriarca e sua família estavam deixando Recife para se estabelecer em Alagoas.

A petição atendida, da firma Clemente Magalhães da Silveira & Cia, alterava o contrato celebrado entre “Clemente Magalhães da Silveira, Luiz José da Silveira e um comanditário, para fim de mudar o domicílio social para a praça de Maceió…”. A firma tinha sido registrada no dia 21 de dezembro de 1882.

União dos Palmares em 1920

Em Alagoas, onde chegou em 1887, estabeleceu negócios também em União dos Palmares. Em abril de 1995 foi eleito diretor da Companhia Cotonia Brasileira e em julho era um dos liquidantes da empresa que se situava num local chamado Cabype, a três quilômetros da sede do município de União. Era cortada pela via férrea e ficava à margem do rio Mundaú.

Os primeiros sinais de que se interessava por política surgem em janeiro de 1890, quando foi noticiado que liderava o Club Federal Republicano da Imperatriz, atual União dos Palmares.

Vinte anos depois, já tinha conquistado posição de relevo em Alagoas e era tratado como oficial da antiga Guarda Nacional, como revelou o Gutemberg em 27 de outubro de 1910 ao registrar a missa, que seria realizada às 7h30 daquele dia na Catedral pela alma de Antônio Gonçalves Penna, “comerciante recém falecido na Capital do Estado da Paraíba, onde gozava de grande estima. A exma. Família do extinto e nomeadamente ao sr. Coronel Luiz José da Silveira, chefe da referida família, damos pêsames”. Antônio Gonçalves era o marido de Veridiana Magalhães da Silveira.

A nota de falecimento da matriarca dos Silveiras em Alagoas, publicada no dia 16 de abril de 1911, no Gutemberg, revela onde residia a família e parte dos filhos de Luiz José da Silveira e de Henriqueta Magalhães da Silveira: “Em sua residência à rua da Boa Vista, nesta cidade, faleceu anteontem à noite e sepultou-se ontem às 4 1/2 da tarde, a exma. snra. d. Henriqueta Magalhães da Silveira, presada consorte do sr. Luiz José da Silveira e mãe dos srs. coronel Bonifácio da Silveira, Clemente Magalhães da Silveira, Faustino Silveira, José Magalhães da Silveira, Sympronio Magalhães da Silveira e sogra do sr. Alípio Carvalho”.

Alípio Carvalho era casado com Maria Lúcia Magalhães da Silveira (Maria Lúcia Silveira Carvalho). Emílio e Luiz foram os outros dois filhos.

Luiz José da Silveira morreu no início de dezembro de 1919 e seus filhos se estabeleceram no comércio, onde eram empresários destacados ou jornalistas dos principais impressos de Maceió. Alguns deles enveredaram pela política.

Para se ter uma ideia da presença dos Magalhães da Silveira no comércio de Maceió, o Almanak do Estado de Alagoas de 1894 relacionou naquele ano quatro empresas sob o título Lojas de chapéus e calçados: Clemente Magalhães da Silveira, Silveira & Irmãos, Luiz Magalhães da Silveira e Magalhães & Irmão. Clemente Magalhães da Silveira também é citado no título Lojas de fazendas, ferragens e miudezas.

Clemente Magalhães da Silveira

Nascido em 23 de novembro de 1857 na cidade do Recife, foi, provavelmente, o filho homem mais velho de Luiz José da Silveira e Henriqueta Magalhães da Silveira. Era principalmente dele a firma Clemente Magalhães da Silveira & Cia, que fez anúncio no jornal maceioense Gutemberg em 29 de outubro de 1887. “Importante sortimento de chapéus para homens, snras. e meninos recebeu o que há de mais moderno”. O endereço era Rua Conselheiro Sinimbu nº 114, atual Rua do Comércio.

Anúncio de sapatos da empresa Clemente Magalhães da Silveira

Na véspera de Natal, em dezembro de 1887, a sua loja recém-inaugurada anunciava os calçados Bostock, no Gutenberg, indicando que eram vendidos na “Chapelaria Francesa de Clemente Magalhães da Silveira & Cia”.

Em 2 de fevereiro de 1896, com o título de “Nova Firma”, o Gutemberg informou que Clemente Magalhães da Silveira e Alípio de Carvalho, seu cunhado, haviam dissolvido, desde 31 de dezembro do ano anterior, a firma Magalhães & Carvalho, ficando todo o ativo e passivo para a nova firma Alipio de Carvalho & Cia.

Casado com Amélia Rosa Lobo da Silveira (10/07/1860 – 05/10/1931), tiveram oito filhos: Clemente Magalhães da Silveira Filho, médico renomado em Alagoas; Beatriz; Diógenes; Érico; Flora; Alice; Herberto e Gabriel, este último foi padrasto de Paulo Gracindo. Amélia Rosa nasceu em Recife no dia 10 de julho de 1860 e faleceu em Maceió no dia 5 de outubro de 1931.

Em 1905, o endereço do seu estabelecimento passou a ser Rua do Comércio, 118. Nesse período, morava na Rua 15 de Novembro, 44, atual Rua do Sol.

Tratado como republicano, era filiado ao Partido Democrata e foi eleito senador estadual por várias legislaturas (1915-16; 17-18; 19-20; 21-22; 27-28; 29-30). Em 1918, fazia parte do grupo político ligado ao então governador Fernandes Lima.

Em maio de 1923, incorporou seu filho Gabriel Magalhães da Silveira à firma, que passou a ser Clemente Magalhães da Silveira & Filho.

Faleceu aos 74 anos de idade no dia 24 de julho de 1932, em Maceió.

Luiz Silveira

Luiz Silveira em 1920

Luís Magalhães da Silveira nasceu em Recife, Pernambuco, no dia 22 de outubro de 1869, filho de Luís José da Silveira e Henriqueta Magalhães da Silveira.

Desembarcou em Maceió com a família em 1887 e foi trabalhar com os irmãos nas lojas de calçados da família, na Rua do Comércio, assumindo uma delas em 1900.

Entretanto, sempre teve maior aproximação com o jornalismo e a política. Em novembro de 1899 era o tesoureiro do Apostolado Republicano, instituição que publicava o jornal Rebate. Também teve passagem pelo jornal Correio Mercantil.

Em sociedade com seu irmão José Magalhães de Silveira, também jornalista, fundou o Jornal de Alagoas e fez circular o primeiro número em 31 de maio de 1908, sob a sua direção. O artigo-programa do jornal expressava as intenções do seu proprietário:

“A imparcialidade e a independência são, ao nosso ver, as qualidades que essencialmente valorizam a ação do jornalismo.
Norteados por esses lídimos princípios, a nossa trajetória será toda iluminada pelos clarões fulgentíssimos da Verdade, completamente fora das linhas do partidarismo e das ambições inconfessáveis.
O Jornal de Alagoas, custe o que custar, será sempre um apostolado do Bem; e, beduíno do caminho reto do Dever, combaterá desassombradamente os erros e os crimes de quem quer que seja, assim como aplaudirá gostosamente os atos dignos e bons, orientando deste modo a coletividade, para que esta, informada criteriosamente, possa fazer o julgamento dos homens e dos fatos”.

Politicamente o jornal se alinhava com a oposição a Euclydes Malta. Em novembro de 1911 chegou a ser proibido de circular e seu impressor foi preso por ordem do governador. Um mês antes, no dia 4 de outubro, o então comerciante Clemente Magalhães da Silveira, irmão do diretor do Jornal de Alagoas e dirigente do Partido Democrata, foi agredido “por dois capangas armados, dentro da casa comercial”.

Luiz Silveira (foto) era partidário de Fernandes Lima e atuava em oposição a Euclydes Malta

Segundo o jornal Correio da Manhã do Rio de Janeiro de 7 de outubro de 1911, “Depois de cometida a inqualificável violência, declararam os capangas que estavam no firme propósito de assassinar não só o sr. Clemente Silveira como o seu irmão, caso o Jornal de Alagoas continuasse a sua campanha contra a política do sr. Euclydes Malta”.

Após a queda dos Maltas e com a ascensão do grupo político vinculado a Fernandes Lima, o Jornal de Alagoas rapidamente se transformou no principal órgão de comunicação do Estado. Nesse período, o deputado federal Rocha Cavalcante assumiu uma das diretorias do jornal.

Para exemplificar o nível das contendas envolvendo o jornal, em 28 de janeiro de 1913 o Jornal do Comércio publicou a seguinte nota: Alagoas. Uma cena de pugilato. Maceió, 27. Deu-se uma cena de pugilato entre o chefe político Demócrito Gracindo e o diretor do “Jornal de Alagoas”, saindo este ferido.

Com o início da Primeira Guerra Mundial em 1914 e o crescente interesse dos leitores pelo conflito, o jornal passou a ter duas edições diárias.

A partir de fevereiro de 1920 adotou novo formato, com oito páginas, considerado um avanço para época. Além disso também foi pioneiro na edição de suplemento ilustrado aos domingos.

O sucesso do jornal e a projeção alcançada por seus jornalistas elevaram Luiz Silveira a um dos líderes políticos de Alagoas e o ajuda a eleger o irmão, Clemente Magalhães da Silveira, senador estadual (1915-16). Ele próprio foi eleito deputado estadual (1917-18).

A partir de então foi eleito deputado federal nas legislaturas 1919-21; 21-23; 23-26; 26-29 e 1930. Nesta última, teve seu mandato suspenso em outubro, quando a Revolução liderada por Getúlio Vargas interrompeu o funcionamento dos órgãos legislativos do país.

Em 1926, o Jornal de Alagoas publicou a primeira página exclusivamente literária da imprensa alagoana. A direção era do poeta Lobão Filho.

Passou a ser órgão oficial do Partido Democrático em junho de 1922. Castro Azevedo, então secretário da Fazenda Estadual, assumiu a direção política do jornal. Continuou atuando em apoio ao governo após Costa Rego assumir o poder a partir de junho de 1924.

Nas eleições ocorridas no dia 1º de março de 1930, Luiz Silveira, que também foi eleito deputado federal e escolhido como líder da bancada de Alagoas, fez campanha para Júlio Prestes, que viria a ser deposto pela Revolução de 30.

A partir de 15 de março de 1933, o Jornal de Alagoas Luiz Silveira recebeu, para dividir com ele a responsabilidade pela redação, os jornalistas Lima Júnior, Arthur Accioly, Guedes Miranda, Afrânio Lages e Raul Lima. O interventor no Estado era o capitão Afonso de Carvalho.

Permaneceu à frente do jornal até o dia 13 de maio de 1933, quando vendeu a empresa “por 50 contos a uma sociedade anônima, passando o mesmo a ser órgão do Partido Nacional”, como registrou o Jornal de Recife de 14 de maio daquele ano. Segundo Luiz Silveira, o jornal foi passado adiante “por circunstâncias políticas”.

Costa Rego perdeu o cargo de senador com a Revolução de 1930

Filiado ao Partido Economista Democrata, sucedâneo do antigo Partido Democrata de Alagoas, Luiz Silveira pregava a volta a legalidade constitucional e se alinhava com os que pleiteavam por uma Constituinte, além de defender o ex-governador Costa Rego, adversário político do interventor.

Gazeta de Alagoas

Não demorou muito para o experiente político e jornalista voltar às atividades empresariais na área da comunicação. Com os recursos da venda do Jornal de Alagoas nas mãos, foi ao Rio de Janeiro e adquiriu o que existia de mais moderno da indústria gráfica para colocar em funcionamento um novo jornal.

Assim, no sábado dia 24 de fevereiro de 1934, às 16 horas, sua filha única, Maria Luiza, inaugurou a redação e oficinas do novo matutino, a Gazeta de Alagoas. A sede era própria e funcionava na Rua do Comércio em Maceió. A primeira edição circulou no dia seguinte.

Colaboravam com o jornal personalidades importantes da vida intelectual e política de Alagoas. Lá escreviam Américo Mello, Guedes de Miranda, Afrânio Lages, Eduardo Porto, Carlos Maurício, Lafayette Bello, Aristides Toledo, José Lins do Rego, Mário Sette, Raul Lima, Otacílio Maia, Mário Marroquim e outros.

No artigo-programa do novo jornal, publicado parte dele no Jornal do Recife de 2 de março de 1934, Luiz Silveira declarou o seguinte: “Esta folha, órgão independente que é, não tem partido, mau grado seja dirigida por um homem de partido. Também não está sujeita a dependências, ou a influência de qualquer natureza”.

E continuou: “Os rumos de uma folha não se amoldaram em quadro restrito de ideias, nem se subordinam a rígidos estatutos partidários nem a preconceitos personalísticos, uma vez que visam horizontes muito mais amplos, abrangendo os interesses gerais da coletividade alagoana, dentro da pátria comum, forte, unida, indivisível. Todas as questões serão versadas com esse objetivo, refletindo com segurança, as manifestações da opinião pública”.

Novamente bem postado na direção de um veículo de comunicação de massas, Luiz Silveira também voltou a pleitear um mandato legislativo e candidatou-se a deputado federal constituinte pelo PSD em 1945. Ficou na suplência, mas assumiu o mandato em julho de 1947, após a promulgação da nova Constituição.

Silvestre entre Arnoldo Jambo e Deraldo Campos

Permaneceu no mandato até o seu falecimento em 5 de março de 1950, quando já não dirigia mais a Gazeta de Alagoas, vendida ao grupo político do governador Silvestre Péricles de Góis Monteiro.

Sobre os novos proprietários da Gazeta, o jornal carioca A Manhã, de 18 de junho de 1948, publicou a seguinte nota: “Novo órgão. MACEIÓ 17 (Asapress) — Por meio de uma subscrição entre os correligionários, o Partido Social Trabalhista, dirigido pelo governador, está em negociações finais para a aquisição da Gazeta de Alagoas”. Formalmente, o jornal passou para as mãos da Cooperativa Editora e Publicitária de Alagoas.

Em fevereiro de 1950, quando estava sob controle do governador Silvestre Péricles, a Gazeta de Alagoas publicou uma nota comentando sobre o assassinato de João Cardoso, pai do deputado Oséas Cardoso e adversário de Silvestre Péricles: “Ele viveu até ontem porque nossas leis são demasiado fracas e só a sede de vingança, partida ninguém sabe de onde, acabou com uma existência maldita, que feria a tranquilidade da família alagoana”. A Rádio Difusora anunciava a morte e tocava música de carnaval.

Com a vitória de Arnon de Melo nas eleições de 3 de outubro de 1950 e o consequente afastamento de Silvestre Péricles de Alagoas em 31 de janeiro de 1951, o jornal perdeu força e recursos públicos.

Além disso, os udenista Lincoln Cavalcanti, deputado Melo Motta e o engenheiro Lizanel Melo Motta, todos ligados ao governador Arnon de Melo, entraram com uma ação de penhora contra o matutino.

Arnon de Melo conversa com motorista de caminhão na recém-inaugurada rodovia Palmeira dos Índios-Maceió

O jornal havia sido multado pelo Judiciário por haver se negado a publicar uma notificação compulsória de infâmias assacadas contra estes udenistas. A dívida do jornal era de quase cem mil cruzeiros.

A Gazeta de Alagoas deixou de circular em julho de 1951 e o então deputado Muniz Falcão denunciou o governador Arnon de Melo como sendo o responsável pelo fechamento do jornal, informação publicada no O Jornal do Rio de Janeiro em 17 de julho de 1951.

Arnon respondeu dizendo que a medida foi tomada pelos associados da Cooperativa em assembleia extraordinária realizada a pedido da Divisão de Cooperativismo.

No dia 21 de janeiro de 1952, o jornal carioca Tribuna da Imprensa publicou uma nota que ajuda a entender a situação da Gazeta de Alagoas naquele período:

O CASO DA GAZETA DE ALAGOAS. A Gazeta de Alagoas, jornal que estava fechado por vários meses, voltará a circular. Esse órgão pertence a uma Cooperativa e, havendo duas correntes entrado em litígio, que só agora foi decidido, essa folha deixou de circular. O novo conselho destituiu a antiga diretoria e moveu ação de emissão de posse, tenho, finalmente, obtido ganho de causa”.

Luiz Silveira faleceu em Maceió no dia 5 de março de 1950

Continua a nota: “A Gazeta fez a campanha do sr. Silvestre Péricles, ao qual a diretoria antiga era fiel, e vinha fazendo oposição ao governo do sr. Arnon de Melo. Em consequência de irregularidades e da atitude de dirigentes daquele jornal, a maioria dos componentes da Cooperativa se movimentou e conseguiu sair vitoriosa. Espera-se que a nova diretoria dê outra orientação à Gazeta e regularize a situação da mesma”.

Com o título Meu depoimento sobre o caso de Alagoas, O Jornal do Rio de Janeiro de 25 de setembro de 1957 publicou uma série de declarações de Muniz Falcão. Entre as várias declarações, uma delas revela como o então governador de Alagoas avaliava a mudança de propriedade do jornal Gazeta de Alagoas em 1951:

“Mediante um ato de força, o sr. Arnon de Melo silenciara o único jornal de oposição, que era a Gazeta de Alagoas, pertencente a uma cooperativa fundada na administração do sr. Silvestre Péricles. Para isso, reuniu os cooperados, levando-os à liquidação da sociedade, e passou a ser o seu proprietário exclusivo. Por meio de tal expediente, estrangulou a liberdade de imprensa no Estado”.

Bonifácio Silveira

Bonifácio Magalhães da Silveira nasceu no dia 14 de maio de 1867 em Recife, Pernambuco. Filho de Luiz José da Silveira e Henriqueta Francisca de Souza Magalhães da Silveira. Ainda jovem, em Recife, foi nomeado Caixeiro da firma Clemente Magalhães da Silveira & Cia, de propriedade do seu irmão, como registrou o Jornal do Recife de 20 de fevereiro de 1883.

Recém-chegado a Maceió, em 1887, Bonifácio rapidamente estabeleceu laços com a sociedade local, como revela a publicação do seu nome entre os fundadores da Sociedade Dramática Pantheon Alagoano.

Bonifácio Silveira e dançarinas de folguedos alagoanos

Passou a ser mais conhecido quando foi trabalhar na Loja Democrata, do seu irmão José Magalhães da Silveira. Situada na Rua do Comércio nº 52, comercializava chapéus, leques e calçados. Em fevereiro de 1899, a loja foi vendida a João Lauria.

Casado com Eulália da Silveira, perdeu o filho Antônio, como noticiou o Gutemberg de 26 de outubro de 1894. Em 1899 foi publicado no O Orbe uma referência a uma filha adotiva de nome Odhete.

Conseguiu a patente de major da Guarda Nacional e em 29 e em janeiro de 1905 ele já era citado como coronel. Participou da criação do Tiro de Guerra em Alagoas e, em novembro de 1910, apareceu nos jornais como comandante do 28ª Batalhão de Caçadores da Confederação do Tiro Brasileiro.

Nas suas incursões pelo militarismo, também comandou a Polícia Militar, mesmo que por pouco tempo: de 8 de janeiro de 1915 a 23 de fevereiro de 1915. Foi também tenente honorário do Exército Brasileiro.

Reconhecido por sua militância abolicionista e republicana, nos primeiros anos da República foi nomeado Intendente de Maceió, cargo que equivale atualmente ao de prefeito. Ficou no cargo de 4 de maio de 1892 a 4 de setembro do mesmo ano.

Foi eleito deputado estadual por cinco legislaturas, de 1893 a 1898 (três legislaturas), e de 1907 a 1910 (duas legislaturas). Em 1898, foi nomeado administrador das Capatazias, na Alfândega de Maceió.

Por sua popularidade, sempre foi eleito com boas votações. Na eleição de 4 de novembro de 1894, por exemplo, conseguiu 2.121 votos, bem próximo da votação de Euclydes Malta que teve 2.439 votos. Em 1º de novembro de 1906, na chapa do Partido Republicano, foi eleito com 8.995 votos.

Meses antes, em 5 de junho de 1896, apresentou sua candidatura a Intendente, mas não foi incentivado pelos amigos e anunciou sua desistência 12 dias depois. No dia 24 de junho, entretanto, surgiu como candidato a vice-intendente na chapa do Partido Republicano Federal, com a candidatura do major Clarêncio da Silva Jucá, que foi eleito no dia 1º de julho de 1896.

Prof. Faustino Silveira, pai da dra. Nise da Silveira

Mesmo tendo uma carreira militar e política com relativo destaque, o Major Bonifácio será sempre lembrado pelo seu envolvimento com a cultura e principalmente com as festas populares de Maceió.

Dos primeiros passos, em 1887, na Sociedade Dramática Pantheon Alagoano, até o seu ingresso como sócio correspondente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas, em 2 de outubro de 1943, foi uma longa caminha por vários segmentos culturais.

Bonifácio Silveira morreu em Marechal Deodoro no dia 10 de agosto de 1945.

Para homenageá-lo, a antiga Praça Santo Antônio em Bebedouro, que já tinha sido Praça da Liberdade, recebeu seu nome. Hoje a praça é conhecida como Lucena Maranhão e o Major Bonifácio não está mais associado ao espaço urbano que ajudou a transformar no quartel general da República da Alegria.

Além de Clemente Magalhães da Silveira, Luiz Silveira e Bonifácio Silveira, a família ainda teve com projeção em Alagoas o professor Faustino Magalhães da Silveira (faleceu em 10 de fevereiro de 1927), que foi despachante e diretor da imprensa Oficial (casado com Maria Lydia da Silveira, pais da Nise da Silveira); José Magalhães da Silveira, comerciante proprietário da Casa Feliz e jornalista; e Symphronio Magalhães da Silveira, jornalista.

14 Comments on Famílias na política alagoana do século XX – (7) Magalhães da Silveira

  1. Radí Rocha // 23 de março de 2018 em 21:15 //

    Parabéns, riquíssimo esse artigo…

  2. Posso acrescentar algo a isto, pois sou bisneta de Clemente Magalhães da Silveira e Amelia Rosa Lobo da Silveira: os filhos São, Alice,
    Beatriz, Clemente filho, Diogenes, Erico, Flora, Gabriel ( Gabriel foi padrasto de Paulo Gracindo , ator de novelas cujo nome verdadeiro era Pelópidas) e Herberto, ou seja 8. Os nomes foram colocados em ordem do alfabética . Sou neta do quarto filho, Diógenes Magalhães da Silveira, que foi médico e feputado federal, tendo falecido na cidade de Goiania, GO. Nise da Silveira, filha de Faustino Magalhaes da silveira, era prima primeira de meu avô Diógenes .
    Ambos entraram aos 16 anos na UFB pra cursarem medicina. A familia Magalhães sempre teve simpatia especial por felinos. Obrigada. Anita D.C. Magalhães.

  3. Cara Anita, somos gratos pela sua contribuição. Incorporamos suas informações ao texto. Obrigado.

  4. Gabriel Marques // 20 de outubro de 2018 em 11:00 //

    Existe alguma fotografia do Sr. José Magalhães de Silveira, que foi gerente e jornalista do Jornal de Alagoas?

  5. Lamento, Gabriel, mas não temos esta fotografia.

  6. Gabriel. O album de fotografias de meu avô Diógenes Magalhaes da Silveira existe. Encontra_se com a segunda mulher de meu tio, em cidade do interior do Rio de Janeiro . Ê um album rico em fotos, havendo uma com o casal Clemente/Amelia e todos os filhos, ou seja, meu avô Diógenes e os demais irmãos, todos crianças. Com certeza a foto que Gabriel Marques deseja pode estar no album porque esta família foi muito unida. Foi, kk, porque hoje nao percebo mais isto na descendência. Algumas pessoas dessa nossa familia sairam do anonimato como por exemplo a inteligente Maria Helena Magalhães, neta de Erico Magalhaes da Silveira, que trabalhou no MEC no governo Fernando Henrique. O músico Flavio Guimaraes, sendo um dos maiores gaitistas do Brasil. Nise da Silveira, prima de Diógenes, tendo se casado tambem com um primo primeiro. Procurei pela esposa de meu tio, para que me desse o álbum da familia. Mas ela nao se interessa.

  7. Patricia magalhaes da silveira // 6 de fevereiro de 2019 em 18:51 //

    Que maravilha saber mais um pouco sobre minha família paterna . Sou neta de Fausto Magalhães da Silveira , primo -irmão de Nise Magalhaes da Silveira , irmão mais novo do seu marido Mário Magalhaes da Silveira . Assim como boa parte da família sou médica e adoro gatos !

  8. Patrícia de Magalhães // 15 de março de 2019 em 00:22 //

    Muito interessante o artigo. Sou neta de Symphronio de Magalhães, jornalista e autor de alguns livros. Tenho uma foto de Luís José da Silveira com seus oito filhos homens.

  9. Tenho uma irmã de nome Patrícia Magalhães. Bom, eu sou prima da Dra Patricia então, mas nao puxei a paixão por gatos. Mas meu pai teve 17 gatos qdo morou no Rio, ainda rapaz, e todos os bichanos tinham nome de atores de cinema americano.

  10. Blake Dennis Matthews // 26 de outubro de 2021 em 21:15 //

    Alguém sabe me dizer algo sobre onde o Seu Luis José da Silveira e a Dona Henriqueta Francisca de Souza Magalhães nasceram, e quem eram os pais deles?

  11. Cristina Borges // 13 de janeiro de 2022 em 18:30 //

    Diógenes da Silveira se casou com minha tia Maria Borges Leão, tiveram dois filhos, Martha e Alberto.

  12. Sou neto de Clemente Magalhães da Silveira Filho e filho de Luiz Fernando Magalhães da Silveira gostaria de saber mais sobre minha família Clementecostazul@outlook.com

  13. Bom, penso que. Cristina e minha prima, filha de de tio Orivaldo Borges, a sua tia, de quem fala acima é minha querida avó Maria Magdalena Borges Magalhães. E quanto só Clemente, sim, filho de Tio Clemente, irmão de vovô e que era médico no boa parte dos homens. Respondendo a pergunta de Cristina Borges, creio que a filha de tio Orivaldo, eu diria que o casal Luiz Magalhães e esposa vieram de Pernambuco. Só muito mais tarde fixaram residência em Alagoas, tendo sido pioneiros na cidade de Maceió. E, não querendo ser muito vaidosa em relação a parentada, teria tio Érico Magalhães, filho de Clemente, e irmão de meu avô dito que o Estreito de Magalhães, foi uma homenagem a um parente nosso. Devia ser Português, claro, um navegador, desbravador, não pesquisei. Muito orgulho com estes parentes tendo a Nise da Silveira, uma grande psiquiatra, sido o expoente máximo fora do anonimato, né. Dispensa comentários. Abraços para esta família. E, meu avô foi o melhor avô que poderíamos ter.

  14. Vladimir Magalhaes da Silveira // 19 de outubro de 2023 em 12:34 //

    Luiz Jose da Silveira ,era meu bisavo ,assim afim de repor a historia em sua verdadeira inteireza as informaçoes que disponho ,era que foi uma enorme injustiça por causa de suas posições politicas de defeza da republica e contra o imperio.Sua casa era usada como um ponte de encontro dos republicanos.

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