Aloísio Branco, o poeta dos versos longos

Da esquerda para direita Graciliano Ramos, Aluísio Branco, Théo Brandão, José Auto, Rachel de Queiroz e Valdemar Cavalcanti. Fotografados por José Lins do Rego em 1934

Por Carlos Moliterno*

Aloísio Machado Bezerra Branco, na vida literária, Aloísio Branco, nasceu em São Luiz do Quitunde, a 6 de janeiro de 1909 e morreu em Maceió, a 4 de fevereiro de 1937. Era filho de Lindolfo Branco Bezerra e Maria Amália Alves Machado.

Estudou as primeiras letras no seu município e os preparatórios no Liceu Alagoano e no da Paraíba. Foi oficial de gabinete do Secretário Geral do Estado e, ao falecer, era funcionário da Administração do Porto de Maceió.

Valdemar Cavalcanti, Graciliano Ramos, Aloísio Branco, Rachel de Queiroz e seu marido José Auto em Maceió, 1934. Fotografados por José Lins do Rego.

Colaborou em todos os jornais e revistas de Alagoas, na imprensa pernambucana e no Boletim de Ariel, do Rio de Janeiro. Formou-se pela Faculdade de Direito do Recife. Escreveu poesias, contos, crônicas, ensaios, artigos, pois era um espírito curioso por tudo o que fosse letra de forma.

Mas foi como poeta que o seu nome firmou-se entre os seus companheiros de geração, embora fosse também uma grande vocação de ensaísta. E os seus ensaios revelam a agudeza do seu espírito na apreciação de uma obra de arte. Agripino Grieco que o conheceu, chamou-o de “um intoxicado de literatura“, tal a gula com que lia um livro novo e procurava compreender os mistérios de uma nova teoria literária.

Aloísio Branco em foto endereçada a Jorge de Lima em 1928

Pode-se dizer que aqui na província foi Aloísio Branco o poeta que melhor soube tirar efeitos rítmicos dos versos longos. Verifique-se a sua produção poética e aí teremos a frequência com que o poeta lança mão desse recurso para encontrar os seus efeitos sonoros. Tanto no poema da pequena viagem, como no em louvor ao telefone, sente-se que a sua mensagem não poderia caber nesses poemas de versos curtos e sons breves, porque era mesmo do seu temperamento, alongar-se na procura de um efeito mais rítmico para a sua poesia.

Talvez, como nenhum outro, daqui da província, foi Aloísio Branco o que mais se beneficiou dessa liberdade que o modernismo trouxe para a poesia. Podem argumentar que a história da nossa literatura guardou os nomes de poetas de várias escolas que não necessitaram dessa liberdade para produzir poemas de boa qualidade. Mas aí é que há necessidade de um exame da questão sob ângulos diferentes. A necessidade de expressão de um poeta dos nossos dias, não pode ser medida, em paralelo, entre novos e velhos. Diversas são as experiências, corno diversos são os modos de ver e sentir. E não se esqueça de que a poesia, como qualquer outra forma de arte, tem de exprimir os sentimentos da sua época, tem de se inspirar nas angústias e nos prazeres da hora que passa. Daí porque não pode ter validade uma comparação entre os poetas que obedeciam a uma bitola para exprimir-se em versos, e os poetas de outras épocas que vivem num mundo diferente, num mundo de concepções revolucionárias e por isto não podem sentir as mesmas exigências dos seus antecessores.

Aloísio Branco não procura imitar. Com ele tivemos uma manifestação poética diferente daquilo que conhecíamos em matéria de poesia. Ele não foi um inovador, no sentido rigoroso, mas que deu à nossa poesia provinciana um sentido novo, uma dimensão diferente, não resta a menor dúvida.

*Do livro “Notas sobre poesia moderna em Alagoas”, de Carlos Moliterno, Departamento Estadual de Cultura, 1965.

*Título da editoria do História de Alagoas.

***

De um texto de Raul Lima, publicado no Diário de Notícias de 15 de setembro de 1946, o História de Alagoas retirou os seguintes episódios da vida de Aloisio Branco.

Escreve Raul Lima:

“O único remédio que há para não sofrer com a sua lembrança é buscar episódios pitorescos de sua vida, de um companheirismo de pelo menos oito anos, em grêmios literários, redações de jornais, bancos ginasiais e acadêmicos, pensões de estudantes em Recife.

Fizemos, na mesma ocasião, num corre-corre frenético por causa da reforma do ensino, um curso secundário relâmpago, preparando-nos na véspera para exames de variadas matérias.

Aluísio tinha crises de timidez. Andou a tomar aulas disso e daquilo, nas quais a sua inteligência corria adiante das explicações do professor e improvisava definições originais.

Em Geometria, quando lhe dizem que a linha é o prolongamento do ponto no espaço, ele interrompe e mostra que compreendeu, entusiasmado:

— Já sei. A linha é o resultado da vagabundagem do ponto no espaço.

Na prova de História Natural, não repete expressões clássicas sobre o cérebro e a raiz, improvisa imagens de vigoroso sabor literário.

Na prova escrita de História Universal, o ponto sorteado foi o Egito. Escreveu algumas páginas, com a sua letra nervosa, naturalmente usando muito mais o raciocínio sobre o país e a civilização dos faraós do que o receituário do compêndio do mestre João Ribeiro. De início, disse que o Egito é um sandwich entre o Nilo e o Saara. Mas ficou inquieto, temendo reprovação.

Nesse tempo, as provas feitas no ginásio de Maceió eram julgadas no Recife. De certo as de História seriam julgadas por Olívio Montenegro, professor da cadeira no Ginásio Pernambucano. Devia obter recomendação de José Lins do Rego, por exemplo, velho amigo de Olívio. Mas as provas não eram assinadas. Como identificar a de Aluísio? A originalidade das ideias daquele estudante diferente forneceria a indicação. Quem falaria em sandwich numa prova de História?

E o telégrafo transmitiu, de Maceió para o Recife, o seguinte telegrama de José Lins do Rego para Olívio Montenegro: “Recomendo prova escrita História Universal Aluísio Branco contendo logo princípio palavra sandwich”.

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