O Rádio em Palmeira dos Índios
Publicado no livro Abrindo a janela do tempo, 2006.
Ivan Barros
A primeira emissora de rádio em Palmeira dos Índios, foi instalada no primeiro andar do antigo Cinema Ideal, na Praça da Independência, na sala onde funcionava os projetores. Um pequeno transmissor, adquirido por Manoel Barboza, Bila e o técnico Daniel.
Ali, tive a minha iniciação como locutor. Mas as dificuldades financeiras dos donos eram cada vez maiores. Então, meu pai Luiz de Barros, fez uma proposta e comprou os equipamentos. E transferi-os para o Beco do Leite, num imóvel pertencente a Leopoldino Torres. E ganhou nova denominação: Radio Continental.
Os novos radialistas desta emissora eram Arivaldo Maia, Valdemar Correia, Antônio João, Pedro Olímpio, eu, Antônio Manoel, Efigênio Moura, Hélio Teixeira e Pajéu. Era muito imberbe. E desleixado.
Desmotivado, meu pai vendeu a emissora a Amarílio. E os equipamentos foram transferidos para a Rua dos Eucaliptos (hoje Vieira de Brito). Havia poucas casas. A estrada de barro orlada por eucaliptos, chácaras e sítios, cercas de velame. Não havia eletricidade. A energia era movida por um motor. Quanta dificuldade para funcionar e lançar a emissora no ar.
Com o nome de Rádio Cacique, tinha uma grande audiência. Guardo em meus arquivos, a primeira crônica, com papel timbrado. Amarílio não tinha vocação para o rádio. E quis vender a emissora para Robson Mendes, nosso adversário político. Hélio Teixeira procurou Juca Sampaio e expôs o caso. Naquela época, Gileno Sampaio vendia leite, em um caminhão, abastecendo Maceió. O velho Juca resolveu comprar a emissora para o Gileno, “por que ele não queria estudar”. Se não me falha a memória, o negócio foi feito: uma parte em dinheiro e o caminhão. E Amarílio passou a vender leite e transportar cargas.
Poucos meses depois, por falta de energia no local, Gileno Sampaio transferiu a rádio novamente para o Beco do Leite, vizinho ao armazém do pai, onde negociava algodão e peles. Gileno adquiriu um novo transmissor, mais potente e mudou o nome de Rádio Cacique, para Rádio Educadora Sampaio.
Lá eu fazia a “Crônica do Meio-dia“, o programa “Instantes de Saudades“, com apresentação de serestas e poesias e aos sábados com a presença dos artistas da terra, Libório, (violão), Manoel Gonçalves (violino), Newton (banjo), Zé Moreno (cavaquinho).
Era um sucesso espantoso. Eu recebia cerca de 40, 50 cartas por semana. Projetei-me em todos os rincões do Estado. Dava até autógrafos. E aos domingos, apresentava um programa de calouros, com distribuição de brindes, “A Taba se Diverte“, transmissão direta do palco do Cinema Palácio que ficava literalmente lotado (400 cadeiras), após o termino da missa das dez horas. Nesse programa, apresentei, também artistas de fama nacional. Era o divertimento matinal dos domingos, na taba…
Com essa projeção, resolvi entrar na política, ao tempo em que para recuperar o tempo perdido, habilitei-me ao curso de supletivo (antigo madureza) no Centro Remy Maia.
Comecei a campanha, fazendo visitas, de casa em casa, sítio por sítio. Meu pai era muito estimado na zona-rural. Naquela época, não havia a corrupção que hoje reina, nem compra de votos, distribuição de brindes, nem showmícios. Ganhava-se uma eleição quem tivesse gogó. Os nossos comícios tinham o calor das massas. E ganhei a eleição. Fui o vereador mais votado, proporcionalmente, em toda história política do município, com 896 votos, de 5 mil eleitores e a sobra de meus votos favoreceu a eleição de três vereadores: José Rebelo, José Avelino Torres e Gervásio Raimundo.
Aí começou o calvário de minha vida. Assim como Jesus Cristo, todos nós carregamos uma cruz. E a política foi a cruz de minha vida. E não tive nenhum Cirineu para ajudar a carregá-la.
Comovente a narrativa de Ivan Barros ! Parabéns com uma história agora passada no nosso interior .