O nosso Teatro de Arena
Bráulio Leite Júnior – publicado originalmente no livro Outras Histórias de Maceió, 2004.
No dia 14 de julho de 1972, Maceió viu surgir o Teatro de Arena, no mesmo local onde funcionara anteriormente o bar e restaurante Deodoro, ao lado do Teatro Deodoro.
A rigor, não se tratava de um teatro de arena e sim de um teatro de bolso. Depois, sua sigla poderia confundir-se com a do conjunto que marcou época em nossa vida artística, o Teatro de Amadores de Maceió.
O teatro de arena é aquele que não possui palco. O seu nome provém de areia porque eram os antigos anfiteatros onde combatiam gladiadores e onde, na Roma antiga, os leões devoravam os cristãos – um espaço circular coberto de areia, não importando o tamanho, como ainda hoje o são as arenas para touradas ou as arenas de circos.
No teatro de arena o ator fica completamente rodeado pelo público o que não acontece no teatro de bolso, sempre um local de reduzidas proporções, apanhando pouca plateia, para um espetáculo íntimo, com reduzidos elencos.
Nas décadas de 60, 70, Sérgio Cardoso liderava o IBOPE na novela O Primeiro Amor e tinha sido o principal intérprete em outra novela Antônio Maria. Depois possuía larga folha de serviços prestados ao teatro em criações inesquecíveis que podem ser relembradas nas fotografias que deixamos nos arquivos do Teatro Deodoro.
Com capacidade para duzentos espectadores (havia-se noticiado antes 180), ar refrigerado, boa acústica e excelentes condições técnicas o TAM era saudado como o mais moderno do Brasil, chegando-se ao exagero de dizer: “ultrapassava em modernismo e tudo o mais aquilo que existem em centros mais adiantados, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro“.
Claro que se tratava de um acontecimento sem precedentes para Maceió, saudado com destaque na imprensa do Sul. Sérgio Cardoso era um chamariz. Nada natural do que convidá-lo a inaugurar o nosso novo teatro.
Vieram também para a inauguração o escritor Aurélio Buarque de Holanda, da Academia Brasileira de Letras, o escritor Romeu de Avelar, o empresário Emer Vasconcelos e, do Recife, representando o Teatro de Amadores de Pernambuco, Valdemar de Oliveira e sua esposa Diná.
Também não podia faltar a figura de Paschoal Carlos Magno, presidente da Casa e do Teatro do Estudante do Brasil, cuja cabeça esculpida deveria estar, hoje, no saguão do Teatro Deodoro e dali desaparecida misteriosa e criminosamente, depois que deixamos a presidência da Funted.
Fazendo as honras da casa, o governador Afrânio Lages, e o seu criador Bráulio Leite Jr., desvelava-se em atenções para com os ilustres convidados.
A peça de estreia foi O Homem da Flor na Boca, de Luigi Pirandello, com direção do próprio Sérgio Cardoso, vivendo o papel principal, Jardel Melo, interpretando o outro e ainda uma atriz – a mulher – cujo nome, Nana Magalhães, os jornais não registraram. Os cenários eram da equipe técnica do Arena.
Na segunda parte denominada Sérgio Fala e Diz — o intérprete recitou O Descobrimento, de Menotti Del Pecchia, A Serra do Rola-Moça, de Mário de Andrade, O Operário em Construção de Vinícius de Moraes, Poema de Linha Reta, Fernando Pessoa e O Cântico Negro, de João Régio.
Foi um feliz projeto do teatrólogo Bráulio Leite Jr. e construído pelos engenheiros e técnicos da Secretaria da Educação Walter Coelho Brêda, Leônidas Dias e Juvenal Gomes de Barros, uma bela festa, alterada a sua história um mês depois com a morte súbita do ator Sérgio Cardoso, no Rio de Janeiro.
Daí ter o nosso Teatro de Arena de Maceió se transformado no Teatro de Arena “Sérgio Cardoso” em homenagem à memória do excepcional artista que o inaugurou.
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