Origem do Zé Pereira
Théo Brandão
Luciano Gallet, o saudoso musicólogo e folclorista, nos seus Estudos de Folclore, coloca nosso tradicional e popular Zé Pereira como um folguedo de origem africana, derivado, como os Maracatus, Congos e Reisados dos Cucumbis Afro-Negros. E Mário de Andrade, levando adiante a questão, no prefácio daquela obra, chega a afirmar ter a passeata dos Cucumbis recebido o nome de Zé Pereira, possivelmente devido a algum portuga inventor da passeata ou da música tão conhecida.
Almirante, um dos raros escritores e atores radiofônicos que merece a todos os títulos o nome de folclorista, nome aliás no seu meio artístico tão malbaratado, vai ainda mais longe: atribui a um lusitano, José de Azevedo Paredes ou José Nogueira, a autoria da barulhenta troça carnavalesca, afirmando dever-se a troca, pelo povo, do nome de José Nogueira por Zé Pereira, a conhecida denominação. Explica ainda, o popular radialista que Zé Nogueira era sapateiro e que a “ideia de bater, de zabumbar, nasceu-lhe da necessidade, de diariamente bater solas”.
Da mesma opinião é Mariza Lira que chega a localizar a residência do portuga à rua São José n. 22.
Também Mário Melo atribui a um folião pernambucano, José Pereira de Andrade, a autoria ou pelo menos a vulgarização da música, em 1887, embora anote Renato Almeida o “Jornal Carnaval” de 1869, segundo o “Jornal do Comércio”, já saiam grupos de foliões com “o clássico Zé Pereira”.
Não parecem ter razão no assunto quer os saudosos Luciano Gallet e Mario de Andrade, quer almirante, Maria Lira ou Mário Melo.
É possível que alguns portugueses houvessem introduzido no Brasil a passeata carnavalesca que Luís Edmundo já descrevia no Rio de Janeiro do meu tempo como sendo composta de “sete ou oito maganos vigorosos, tendo por sobre os ventres empinados satânicos tambores, caixas de rufos ou bombos, que por entre alucinantes brados, passam pelas ruas, batendo, surrando, martelando, com estrondo e fúria, a retesada pele daqueles roucos e atroadores instrumentos”.
Mas de nenhum modo tal introdutor se chamaria certamente Zé Pereira, nem muito menos haveria de dar seu nome à troça. Isso porque o nome “ZÉ PEREIRA” já existia em Portugal, e lá, segundo Teofilo Braga, Zé Pereira era o nome pelo qual era conhecido em Portugal o bombo, em linguagem chula. Lá se cantava ao ritmo das pancadas do bombo ou zabumba. A seguinte quadra, que imitava o próprio toque do bombo nos arraiais:
“Zé P’reira, Zé P’reira,
Zé P’reira, Zé Prum,
Casaco de chita,
Remendo no tum”
Informação que pode ser confirmada ao ler Adolfo Portela, em Agueda: “tudo a desfilar na cauda dos guiões e das bandeiras sobre fofos tapetes de erva doce, e a “Zé Pereira” à frente, ranacataplana, mata aquela ratazana… até os pássaros se porem a cantar mais alto, etc.”.
Renato Almeida, na sua História da Música Brasileira; embora sem tomar partido, informa que na Enciclopédia Musical de Lavignac, Michel Angelo Lambertini fala na “desgraça de ouvir um Zé Pereira, reunião infernal de um grande número de bombos e tambores que, à testa das procissões, convidam os camponeses a se incorporar à festa”. E adianta que Cesar das Neves diz que o Zé Pereira, em Portugal, é o Zabumba, enorme bombo, acompanhado sempre pela caixa de rufo.
Comprovada assim abundantemente a existência da palavra Zé Pereira, em Portugal, expressando justamente o bombo ou zabumba característico da patuscada, tem que ser afastada a hipótese de ter o cortejo carnavalesco recebido o seu nome de algum lusitano batizado pelo nome de José Pereira. Ao contrário, o que pode ter acontecido é que algum portuga, amante da patuscada e tocador de bombo tenha recebido o apelido de Zé Pereira justamente por isto: por tocar o Zé Pereira ou o bombo.
É o que aconteceu também em Portugal. Se abrirmos a conhecidíssima obra de Júlio Diniz A morgadinha dos Carnavais, aí encontraremos: “Esta pessoa era o dono da casa, o sr. José do Enxerto, ou vulgarmente chamado de “Zé Pereira“, — nome que lhe vinha do popular e ruidoso instrumento, o clássico zabumba, que em nossas aldeias tem ainda hoje aquele nome. E é muito para ver e admirar a maestria, com que o nosso homem o sabia tocar nas festas e arraiais, à frente das procissões e cercos, e finalmente em todas as solenidades públicas”.
Designado já em Portugal o bombo, principal instrumento do cortejo, deveria a palavra ter passado a nomear também todo o conjunto e a servir, no Brasil, como na “santa terrinha”, de apelido aos tocadores de bombos e organizadores de passeatas.
Quanto à música, Almirante informa que no começo ninguém cantava por ocasião do Zé Pereira e só quando apareceu a marchinha “Pompiers em Nantes” é que se passou a cantar com a melodia de tal música o seguinte texto:
E viva o Zé Pereira
Que a ninguém faz mal
E viva a bebedeira
Dos dias do Carnaval
Em Alagoas havia a seguinte variante:
Viva o Zé Pereira
Viva o Carnaval
Viva o Zé Pereira
Que a ninguém faz mal
Opinião, a de Almirante, que não parece ser muito exata, pois a pancadaria do bombo, segundo Teofilo Braga, já era imitada em verso.
Quanto à hipótese de Gallet, o que pode ter acontecido é que as passeatas dos Cucumbas tenham feito fusão com as passeatas do Zé Pereira, aproveitando-se os negros destas últimas para saírem à rua com o seu celebre cortejo histórico religioso.
Publicado originalmente no Diário de Pernambuco, 8 de outubro de 1950.
Eu só tenho que parabenizar a todos que dão sequência a essa cultura
Parabéns aos que fazem a história de nosso país acontecer nos dias atuais.
E como ficam os versos?:
“Viva Zé Pereira, viva Juvenal!
Viva Zé Pereira, que morreu no
Carnaval”.
Viva Zé Pereira
Pois é genial
A ideia de quem
Criou o Carnaval
Oi, boa noite
Por gentileza, peço que inclua o http://www.carnaxe.com.br como Fonte, por favor. Não tem problema, mas peço somente que inclua a fonte.
A figura foi eu mesma que recortei diante de um quadrinho completo, que mantenho no meu acervo particular O Livro Aventuras do Nhô-Quim e Zé Caipora, que adquiri como pesquisadora.
Agradeço antecipadamente vossa compreensão.
Obrigada
LILIAN CRISTINA MARCON
Bom dia, Lilian Cristina Marconi.
Recebemos a sua cobrança sobre a necessária citação do seu nome como pesquisadora e detentora de exemplar do livro As Aventuras de Nho Quim e Ze Caipora.
Agradecemos a gentileza em permitir a utilização de imagem retirada do seu exemplar, mas optamos por alterar a ilustração capturada anteriormente em seu excelente site (http://www.carnaxe.com.br) e utilizar a disponível em exemplar digitalizado oferecido pelo Senado. Agimos assim assim para preservar seus direitos sobre essa mesma imagem e para divulgarmos a opção de download desta importante obra.
O livro digitalizado “As Aventuras de Nho Quim e Ze Caipora: os primeiros quadrinhos brasileiros 1869-1883”, de Athos Eichler Cardoso, com desenhos de Ângelo Agostini, está disponível em https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/521244.